terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Sermão autocrítico

Inadaptado

Boas, o texto que se segue foi escrito para publicar num outro blog que tenho com o meu irmão e alguns amigos, mas como saía um pouco do formato (e linguagem) do blog, achou-se por bem não publicá-lo, mas como não me apetece deitá-lo fora, vou atirá-lo aqui. Para aquele que não tiver mais nada de interessante a fazer do dia dele e quiser ler as divagações que se seguem, terá de se ir contextualizar aqui, não estou com paciência para reformular o texto para adaptá-lo a este blog.

Sermão autocrítico
Buscando inspiração para o meu próximo artigo, dei-me conta que não tenho veia de escritor, ou se calhar (muito provavelmente) falta-me a vitamina primordial a todo aventureiro da comunicação, aquela que nos brinda com a capacidade de resumir sucintamente um conjunto de informações relevantes, aquela que ultrapassa a força de toda a musa inspiradora, a pílula chamada conhecimento (ou saber).

Antes de me meter a procurar vãs justificações para tentar minimizar a minha imbecilidade, devo ter o brio de meter a minha escassez de energia/vontade para adquirir (mais) conhecimentos no topo da lista. Lembro-me do meu pai me encorajar várias vezes a lêr alguns dos livros da sua modesta biblioteca, falando-me enfaticamente de alguns dos títulos, crendo dessa forma poder cativar-me mais. Mas ler foi passatempo noutros tempos, tempos de quem não tinha televisão, vídeo, leitor de cd, videogame, internet e as vezes, nem mesmo energia eléctrica. Com tanto entretenimento por aí, como poderia ter algum tipo de motivação e disciplina para me auto-privar de um Streetfighter, Mortal Kombat, Novela das 8 e afins, para me lançar numa epopeia literária que corria risco de levar semanas?

Eu li, de facto, alguns dos livros, mas o bichinho despertado pelo prazer da leitura foi presa fácil para o parasita implacável do entretenimento, que conquista com nada abonatória facilidade os seres humanos, a quem já nos habituamos a desculpar atribuindo à sua natureza intrínseca o comodismo e a letargia.

Será certamente também devido ao ambiente desfavorável, ou no mínimo, pouco favorável à promoção da informação e do saber no qual cresci, com as fundações bem alicerçadas no precário e esclerótico sistema de ensino vigente no nosso país. Muito ovo podre a esconder, o fermento intelectual poderia explodir num bolo de agre dissidência e certamente desejava evitar-se outra tragédia humana (e estou a usar uma terminologia muito ligeira), como foi a do 27 de Maio, na qual “se foram” grande número de indivíduos, entre intelectuais, artistas, quadros de todo o tipo e gente simples do povo, que teriam certamente dado o seu inestimável contributo para que não tivessemos tocado tão fundo nesse poço enlameado onde encalhámos.

Quero dar seguimento ao tema pelo qual nos temos adentrado nos últimos artigos, o tema da identidade, o tema do conceito de unidade, de Nação, mas dei-me conta que tudo o que sei são linhas gerais, tenho à frente um denso enevoado, constituído por um leque largo de questões e por um número cada vez menor de certezas.

Claro que já todos ouvimos falar do berço da Humanidade, da civilização egípcia, de Kwame Nkrumah, Patrice Lumumba, Nelson Mandela, mas para a maior parte de nós, o comboio pára aí. Não aprendemos por exemplo que em séculos idos a cidade de Timbuktu (Tombuctu) foi pólo de desenvolvimento cultural e mercantil de vários impérios (Mali, Gana, Shongai), tendo a sua Universidade (frequentada inclusivé por europeus) produzido centenas de milhar de manuscritos em vários domínios, dentre os quais História e Astronomia e que eram vendidos com o ouro, sal e outras mercadorias. Não aprendemos sobre Thomas Sankara, sobre Steve Biko, Julius Nyerere, não tivémos de fazer trabalhos sobre os estudos de Joseph Ki-Zerbo ou Cheik Anta Diop, basicamente, não conhecemos porra nenhuma!!!

Por isso perdoem-me, mas o texto está em fase de preparação. É capaz de levar um tempo já que para para agravar a situação, padeço de cepticismo crónico e sei que, sobretudo quando se trata de estadistas, há quem exalte as qualidades e há quem pisoteie os defeitos, sendo o consenso raro tipo diamante no Sahara. Não quero tampouco ser um papagaio debilóide que repete o que leu, triando o que é mau e exortando os méritos. Sou no entanto capaz de falhar, mas sei que nos comentários não irei ser poupado (sobretudo pelo sempre atento e prontíssimo MN eh eh).

Em jeito de conclusão, quero manifestar o meu acordo completo com o artigo anterior, nunca poderemos ser unos, apostando num futuro que nega o direito ao passado, fechando-nos na concha da quiteta, metendo uma venda nos olhos para fingir que não vemos. Vamos acordar um espírito africano, acabar com o dogma do retrógado, com o complexo do “atrasado”, vamos mostrar que tinhámos civilizações avançadas e complexas na sua natureza e que contribuímos para o progresso nos domínios da escrita, astronomia e medicina, antes que alguém nos viesse impôr a sua agenda política.

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