terça-feira, 13 de dezembro de 2011

SBTRKT - SBTRKT

Diretamente do "Só Pedrada" (um blog consistente e que se recomenda vivamente para quem gosta de grooves pesados), descobri este DJ que começou recentemente a usar este pseudónimo e a esconder-se por detrás de uma máscara, apesar de já ter anos de estrada num registo mais de bastidores. Já fez dezenas de remisturas para artistas de renome como Radiohead, M.I.A., Basement Jaxx e Mark Ronson (produtor da malograda Amy Winehouse) para citar alguns. Defende-se dizendo que não é uma pessoa social e que o anonimato é uma maneira de se manter recatado sem se sentir forçado a passar tempo com DJs para que estes, simpatizando com ele, passem a sua música. Uma maneira de subtrair a pessoa da sua arte, deixando que esta fale por si só. O disco é muito bom, muito diferente, muito único, misturando vários sub-géneros eletrónicos, sobretudo dubstep e two-step.

Curtam a cena.

01. Heatwave
02. Hold On
03. Wildfire
04. Santuary
05. Trials of the Past
06. Right Thing to Do
07. Something Goes Right
08. Pharaohs
09. Ready Set Loop
10. Never Never
11. Go Bang

Vou chutar dois vídeos para que se perceba a diversidade sonora que podem esperar deste álbum




Catem o mambo nos comentários

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Videogames e Cartoons

Mais dois sons para sublinhar o comentário no vídeo anterior do Bjorn Torske. Aqui são samplados o Super Mario e os Simpsons, por dois grandes do hip hop, Smif n Wessun e Masta Ace respetivamente. São antigos mas sempre frescos.





Bjorn Torske - Spelunker

Ouvi este som há uns anos na Rádio Oxigénio. O papoite é sueco se não me falha a memória. Saquei o álbum e não me entrou, mas este sonoro me kuya de milhões, essa vibe dub com sample de videogame é um vencedor antecipado.


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Nathalie Natiembe - Hkdododansing

Vou tentar conseguir o álbum desta mamoite reunionesa. Eu ouvi este som no vôo de regresso à Luanda há uns dias atrás no canal "world music" (what else is new?). Estava mais para lá de Bagdad mas, mesmo com aqueles fones podres que distribuem no avião, os meus ouvidos foram me obrigando a despertar e a prestar atenção, o cérebro buscando o padrão do previsível, da gaveta onde enfiar o som, recusando arrogantemente que algo ainda consiga, nos dias de hoje, soar-me incrivelmente fresco. Lembro-me de ter sentido algo parecido quando há uns anos atrás ouvi o tema da Elza Soares "A Carne" no programa Música Sem Espinhas na RDP África: FOoooooooooooUUUUUUUUUUUUUUuuuuuuuuuuuddddddaaaaaa-ssssseeeeeeee!!! Algo assim.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Pródigo e Víruz - Dentes de Ouro, Flow de Platina


O Víruz (VRZ) e o Pródigo são meus brothers de há muitos anos já. O VRZ foi o primeiro rapper português com quem colaborei nos meus primórdios, desde o EP Confiança ou Vingança quando ele ainda girava com o Infamous. Com o Pródigo estive nos primeiros concertos de Hip Hop que vi em Lisboa, ainda no Ritz Club, dentre os quais conto o mítico concerto do Das Primeiro, com Micro e Dealema a encerrar. Anteontem fui visitar o VRZ e calhou bem na altura que eles tinham concluído o novo clip para este disco que levou 7 (!) anos a ficar consumado, num ritmo muito alentejano.

Sempre naquela onda de metáforas encriptadas, rimas gabarolas e punchlines, mais refinadas com a idade, mas também ressentindo-se um pouco do mesmismo na própria convicção com que são debitadas, muito menos agressiva e esfomeada que outrora, mantendo-se no entanto super competentes, obrigando-nos frequentemente ao esforço da descoberta no "estão a falar sobre quê exatamente?".

Também tem muitos piscar de olhos ao que em tempo se chamou rap-love, sem no entanto enveredar pelos óbvios instrumentais "melaço", alguns raps sexuais e quase misóginos também, mas mantendo-nos fixados na música.

O ponto mais alto deste disco será sem sombra de dúvida (para mim) a produção do humilde e discreto porém FODIDO Syniko! Produziu o disco todo mas não quis o nome dele a forçar um trio (Pródigo, Viruz e Syniko), sendo o responsável pela coesão sonora do disco, dando-lhe uma identidade e um cunho distinto de um disco que poderia facilmente ser "só mais um", enriquecendo-o com samples de ambiente, mas, sobretudo, com produções obesas de um gajo que toca a maior parte do que ouvimos. O DJ Sims também deu o ar da sua graça com uns scratchs minuciosos, carimbando definitivamente o disco com o selo da qualidade de consumo, incluíndo o da A$AE.

O sample do Quim Barreiros está clássico!!! "Eu gosto de rap, quando é para rapar alguma coisa".

Em termos de musicalidade este é o melhor e mais completo álbum de Hip Hop que ouvi desde o último do Pratica(mente).

Meus preferidos: Toque de Midas, Os Maus da Fita (instrumental? Scratch no final? Perfeito!), Paixão Marroquina, Eu Perdoo e Gira.

Os manos providenciaram o álbum para download grátis no Bandcamp deles, cobrando 5e pela cópia física para quem desejar ter o disco na coleção.

NOTA: O Víruz disponibilizou o álbum de INSTRUMENTAIS e propôs aos MC's angolanos que estejam interessados em aproveitar algum deles e submeter-lhes as suas versões das músicas, sendo que as que eles mais gostarem serão disponibilizadas no bandcamp deles.



















01.Dentes de Ouro
02.Mais + Mais
03.Irredutíveis Lusitanos
04.Safira
05.Toque de Midas
06.Chicos Espertos
07.Os Maus da Fita
08.Flow de Platina
09.Paixão Marroquina
10.A$AE
11.Segredos
12.Eu Perdoo
13.A Ferro e Fogo
14.Upgrade no Sistema
15.Kim Barreiros
16.Gira
17.Quando a Música Acaba



Catem o mambo aqui

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Hoje acordei com esta música

Sei que já a postei aqui, mas foi há bwé:

André Sampaio e os Afro Mandinga - Bumaye!

Yá pessoal, a cabeça anda consumida com assuntos de máxima urgência, sendo o principal a remoção do Zé Dú do trono, por isso o tempo e a paz de espírito não andam a reinar. No entanto, sempre que aqui deixo qualquer coisa, será algo que considero mesmo especial e que merece ser partilhado com o mundo, sobretudo quando gravitam fora do circuito de promoção oficial com o qual o cidadão comum tem contacto (rádios nacionais, mtv's e esses mambos corporativos). Bumaye! é certamente um desses, sendo a mistura do afro-beat, afro-blues e toda a miríade de influências que, só por si, constituem o complexo e riquíssimo mosaico cultural brasileiro, uma autêntica lavagem de alma no efémero passeio pelas 4 faixas que constituem este EP, que não é mais do que a versão curta de um álbum com o mesmo título que deverá ver a luz do dia brevemente para gaudio dos nossos tímpanos.

O André é guitarrista e compositor da banda reggae brasileira Ponto de Equilíbrio e com eles fez 3 discos, sendo esta a primeira incursão numa aventura a solo. A solo como quem diz, pois está muito bem acompanhado pelos Afro Mandinga, dentre os quais se conta Pedro Pedrada, companheiro nos Ponto. Uma aventura bem conseguida e encoraja-se ao rapaz a entregar-se a outras futuras explorações sonoras.

O título Bumaye! é mais do que sugestivo e remete-nos ao óbvio, enormíssimo, Cassius Clay mcp Muhammad Ali. "Bumaye, and you're gone... sucker!"

Scaneei o livrinho que vem cheio de detalhes para aqueles que gostam de saber mais. Fi-lo como bónus e prenda pela ausência tão prolongada :)

01.Bumaye/Ja Funmi
02.Rainha
03. Ecos de Niafunke
04.Juízo Final

(Não encontrei vídeo relacionado)

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sábado, 13 de agosto de 2011

Nozinja e o Shaangan Electro

Há algumas semanas fui assistir ao concerto de um grupo até então completamente desconhecido para mim e ao qual tinha sido introduzido uns dias antes: Shangaan Electro. A palavra Shaangan envia sinais ao meu cérebro que protagoniza automaticamente uma associação à China, evidentemente pela similitude fonética com a cidade chinesa de Shangai. Excepto que a primeira está numa latitude completamente inesperada: Limpopo, África do Sul e a sonoridade é realmente única, repetitiva sim, mas hiper-distinta. Ritmos acelaradíssimos acima dos 185 bpm, uma confusão de padrões de bateria digital que se sobrepõem parecendo martelos pneumáticos, sintetizadores muito xungas e uma permanente, adocicada marimba para contrastar com a agressividade rítmica dos outros elementos. Frequentemente complementados com cânticos tradicionais/religiosos/"gospélicos" sul-africanos, tornando exuberante o que seria, de outra forma, provavelmente intragável.

A apresentação ao vivo vale muito pela sua ingenuidade, um elemento que pode facilmente oscilar entre a falta de profissionalismo e a pureza do improviso momentâneo e que, no caso dos Shangaan, felizmente descambou para a segunda. Meteram as crianças no palco, depois os seus progenitores e até algumas avós. Foi muito giro mesmo. Boa energia, boa onda.

Claro que, naquele estilo africano peculiar, saíndo de trás do sampler para trás da bancada de mercadoria vendável, o Nozinja (produtor de todos os grupos do Shaangan), conseguiu vender cd's virgens, cd's sem títulos, cd's que não correspondem a capa, lá acertando de vez em quando no produto certo (o Vanghoma que aqui posto). Fanfarronice que não se consegue levar a mal, vê-se que não é maliciosa, mas por culpa disso, o disco que aqui vos coloco como sendo dos BBC, não creio sê-lo na verdade.

Matei-me a procurar na internet e só encontro as compilações editadas pela Honest Jon's do Damon Albarn, onde nenhuma das músicas dos BBC corresponde à músicas no disco que aqui vos posto. Na realidade, a primeira música do disco é de outro artista perfeitamente identificado, sendo aliás o tema ilustrativo da sonoridade shangaan que se encontra com mais facilidade no youtube, e o último sonoro é uma versão dub do mesmo tema. Para nos baralhar definitivamente a cabeça, o título da música "Nwa Gezani" é o título que aparece como título do álbum dos BBC como poderão conferir pela capa que tive o cuidado de scanear, mas ela é de autoria de Zinja Hlungwani como atesta o vídeo hilariante com fundos do windows 98 no final deste post.

B.B.C. (B.eautiful B.lack C.ulture) - Nwa Gezani

01.Zinja Hlungwani - Nwa Gezani
02.Título desconhecido
03.Título desconhecido
04.Título desconhecido
05.Título desconhecido
06.Título desconhecido
07.Título desconhecido
08.Título desconhecido
09.Título desconhecido
10.Título desconhecido
11.Título desconhecido
12.Zinja Hlungwani - Nwa Gezani Dub Version



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Tiyiselani Vomaseve- Vanghoma

01. Papa Vata Vuya Rini
02. Vanghoma
03. Xe Nasaniseka
04. Bombani
05. Wova Jaha
06. Votswelani
07. Mbilu Ya Nga
08. Vaswikota Ka
09. Voseveni Va Mina
10. Papa (Remixx)
11. Se Naxaniseka (Remix)
12. Bombani (Remixx)



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Versão alternativa e super bem conseguida por um youtuber que usou como suporte vídeo uma curta-metragem de 1927, dando-lhe como banda sonora o Nwa Gezani e conseguindo um magnífico video-clip


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Aline e César - A Minha Embala

Essa miúda está destinada a encantar ouvidos e a fazer bater corações. O progresso é notável da sua maquete para este novo projeto com o seu amigo César Herranz, tanto na segurança vocal, no dedilhar mais refinado da guitarra, como, agora, no recheio do ambiente com flauta e percussão do César. Felizmente, continua docemente longe da perfeição, mantendo um charme nas suas notas ao lado ou no descoordenar do arranjo musical.

Eu só me verguei à partir da faixa número 3, tendo as duas primeiras falhado em captar-me o coração, não por serem más, longe disso, mas soaram-me menos naturais e sentidas que as do Rascunhos e, para meu alívio, das que se lhes seguiram.

Maria Silêncio... o que dizer? Sublime! Um poema galego de Ricardo Carvalho Calero transformado em música, na promoção do universo da galeguia que muito tem inspirado a Aline. O Olhar Adiante eu já tinha gostado, mas no outro dia quando ela a tocou na Casa do Brasil acompanhada da irmã Raquel, arrepiei e emocionei-me, senti aquela penugem da nuca a eriçar-se, fiquei malaike mesmo, o som ficou lindo demais (Aline, grava só essa versão com a tua mana yá?). Agora ouvindo o som de novo sou remetido para esse concerto e para as intensas sensações que me provocou e consigo sentir emular fraccionalmente esse momento.

O poema de Alexandre Dáskalos "Que é S. Tomé", que foi também de onde a Aline tirou o nome para o projecto, foi musicado com uma simplicidade genial, deixando o espaço preponderante para a letra, com um dedilhar mais vigoroso da guitarra e uma flauta discreta mas essencial.

Também está muito fixe a colaboração com a voz masculina que vem acrescentar um tom novo na palette em "Kamba de Fala".

Os temas "Foz" e "Assinatura de Sal" são dois típicos temas ao estilo da Aline que cruzam as suas muitas influências, sentindo-se de forma algo vincada o romantismo da Bossa Nova: algo tristes, melancólicos e de refinado bom gosto, a anos-luz do comum perfume barato anselmo ralphista.

Aline, tens carta branca para continuares a hipnotizar-nos com essa voz de encantar serpentes, esse teu jeito dengoso e sorriso menino que te tornam tão especial.

01. Uma Pedra de Sal
02. Jeitos
03. Maria Silêncio
04. Olhar Adiante
05. Kamba de Fala
06. Que é S. Tomé
07. Assinatura de Sal



Visitem o site oficial do grupo aqui e vejam mais vídeos aqui

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quinta-feira, 28 de julho de 2011

O post solitário de Julho

Epá... tá mal, não há muita coisa a excitar-me ultimamente, musicalmente falando, à excepção talvez de um grupo sul-africano que hei de postar aqui brevemente (makas com os títulos nos cd's, mas depois eu explico no momento apropriado). Para não deixar este mês em branco, vou fazer o re-post de alguns links que expiraram e que considero ser obrigatórios, pelo menos para aqueles que partilham da minha linha melómana. Fica ainda a faltar o disco dos Nextmen, pois não consegur encontrar um link disponível. Sem mais fióco-fióco, aqui seguem os links para os posts em questão:


Post do Tété, onde o disco L'air de Rien estava expirado
Post do Nitin Sawhney onde o disco Beyond Skin estava expirado
Zero 7 - Simple Things
Madlib - Shades of Blue e Untinted, ambos expirados

Se houver discos cujos links estejam em baixo, façam-me saber com comentários SEMPRE no post MAIS RECENTE, porque eu não fico a verificar cada um dos 200 posts a ver se tem mensagens novas.
Tá bateire

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Grasspoppers - Dub Inna Week

Não sei onde estava quando este disco foi posto a circular, mas acabou por me passar ao lado. Durante a estadia do meu papoite Mpula em Luanda, ele passou-me um montão de discos que estariam em alta rotação no seu leitor, dentre os quais o do Baloji que postei anteriormente, o último de duas lendas do reggae marfinense (e africano), Alpha Blondy e Tiken Jah Fakoly, umas compilações de High Life e outras pedras. Também tinha lá este disco, que deixei passar por baixo do radar da primeira vez, não desejando voltar a cair no erro. Porra, tá bwé forte o mambo.

Feito assim numa semana, cheio de espontaneidade incontida, um método que acaba sempre por trazer ao de cima o melhor dos artistas, pois, a meu ver, o descomprometimento com qualquer responsabilidade de vingar vendendo discos ou granjeando concertos, para sustentar os membros da banda, sem necessidade patente de agradar seja lá que nicho for, é a mais libertadora sensação. A feitura deste disco foi como uma grande festa de contribuição onde cada artista trouxe a sua (boa) disposição para adoçar o ambiente, num efeito de grande contágio coletivo.

O conceito e a sua materialização foram do Milton e Marisa Gulli (Cacique 97, Phillarmonic Weed) que aqui se apresentam como Grasspoppers, a capa do disco é a foto vencedora de um concurso promovido pela Rádio Fazuma e os meus temas preferidos são o Tubby Intro, Complicação Dub (grande refrão), Cassius e, o mais forte de todos, Tunda Já, com o Prince Wadada.

Deixo aqui as palavras dos próprios para apresentar o disco:

Na televisão disputava-se a final do campeonato do mundo na África do Sul, mas o som estava desligado. Nesse dia começaram as gravações do Dub Inna Week: numa semana seria composto e gravado um disco de dub. Muito fumo, algumas cervejas, ocasionais copos de vinho e de whisky. Algumas pessoas entravam, outras saíam. As ideias surgiam naturalmente e sem esforço. Parava-se para jantar e depois de saciada a fome já haviam novas ideias. Mais pessoas apareciam, traziam uma garrafa de vinho, outras vinham carregadas com o seu veneno dub (efeitos, delays e instrumentos que tinham em casa), outras vinham com inspiração. Letras escreviam-se em cima do joelho enquanto se montavam os instrumentais. De uma simples linha de baixo surgiam mil ideias quase imediatamente. Ambiente relaxado. Tudo isto aconteceu no Abyssinia Studios 03, o estúdio caseiro dos The Grasspoppers: um computador portátil, guitarras, baixos, percussões, um microfone de condensador e 2 controladores Midi. Acordava-se a pensar em dub e adormecia-se a pensar em dub. As cabeças estavam cheias de eco, reverb, skankings, riddims e basslines. Sorria-se e dançava-se quando de um esboço começava a surgir um tema. Dub era a palavra de ordem. No último dia dessa semana festejou-se. 9 temas novos tinham sido compostos e gravados na sua totalidade. Os dubmasters : Milton Gulli (Cacique´97, Cool Hipnoise, Philharmonic Weed), Marisa Gulli (Cacique´97, Philharmonic Weed, Faith Gospel Choir), Renato Almeida (Kussondulola, Jammin, Mercado Negro), Natty Fred (Dread Natta, Riddim Culture), Prince Wadada, Zé Lencastre (Cacique´97, The Most Wanted), Vinicius Magalhães (Cacique´97, Farra Fanfarra) e directamente de Luanda, o MC Faradai que, graças às tecnologias da internet, gravou uma rima no seu estúdio caseiro em Angola. No pressure, no music biz bullshit, just the pleasure of making music! Lets make some holy ghost crazy noize!!!!!!!!! Dubwise!!!

1. King tubby intro
2. Complicação Dub
3. Dub Safari
4. Cassius
5. Buenos Aires Dub
6. Tunda já
7. Folhas de Feijão Makonde
8. Rootsman
9. Cool Down Brother




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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Baloji - Kinshasa Succursale

Eis um segundo álbum que me fará regressar ao primeiro com mais atenção, pois sobrevoei literalmente o "Hotel Impala" sem lhe emprestar realmente os meus ouvidos. O segundo de originais deste congolês/belga que emigrou atrelado ao pai para a Bélgica ainda bebé, deixando para trás a mãe de quem só voltará a ouvir falar 23 anos mais tarde, é simplesmente sublime.

Ao pai pertencia o Hotel Impala que foi, ao que parece, destruído durante uma das muitas guerras que lavraram a RDC. O kota era um homem de negócios que vivia entre Liège e Lubumbashi e que perou uma mamoite num daqueles tiros de desanuvio, deixando a kota concebida. Através do azar lhe puseram nome Baloji que quer dizer feiticeiro ou bruxo em swahili.

O kota abandonou a cria indesejada com a mboa de ocasião que virou mãe de um bruxo, mas depois de 4 anos a consciência lhe pesou e levou o kandengue pra Bélgique, onde ele se vê rodeado de estranhos passados repentinamente a "frères". No entanto, nunca chegando a ser verdadeiramente aceite pela nova mãe que o via como fruto de uma traição do marido, cresceu com feridas internas que não cicatrizavam e tornou-se violento, saindo de casa aos 16, vivendo em casas ocupadas e dedicando-se a delinquência para sobreviver, aos 20 escapou ser recambiado para sua terra natal após problemas fáceis de adivinhar com a polícia, ficando sem conseguir renovar os seus papéis (dos 4 aos 16 não foi o suficiente para lhe darem nacionalidade? fascistas do caralho!).

A luta dos papéis foi vencida, o grupo de rappers ao qual pertencia rebatizou-se Starflam, tiveram um sucesso incomum para um grupo belga de hip hop e, depois de 3 álbuns, o Baloji decide que já não quer mais nada com o microfone..até receber uma carta da mãe verdadeira que o viu num clip pela televisão e o reconheceu, 23 anos depois!

Levou 3 meses a reunir coragem para ligar para a velha, que lhe pede que faça um resumo do que tinha sido o seu percurso desde que se separaram. A resposta veio em forma de álbum solo, o Hotel Impala, que termina usando o mui conveniente sample "I'm going home to see my mother" de Marvin Gaye.

Daí para o Kinshasa Succursale a história continua linda e recheada de peculiaridades tão comuns no nosso flagelado continente que continua a ter estofo para parir autênticas aberrações de humildade, de amor ao próximo, de simplicidade, de generosidade, inspiradores pelo simples facto de existirem, sobreviventes nesse mundo que só lhes cobra juros.

Em 2007 quando cumpriu a promessa de regressar à RDC, descobriu que a sua carta audiofónica não tinha sido recebida com a intensidade que lhe aplicou, muito por culpa das sonoridades do hip hop que continua a insistir em samplar o soul, funk e a música preta norte-americana, com as quais o congolês não tem necessariamente muita afinidade.

Assim decidiu fazer este álbum completamente congolesado para não haver pretextos de aculturação e que bomba que saíu! Para mim, completamente revolucionário no seu experimentalismo, fundindo em simbiose perfeita a modernidade do hip hop com os populares soukous, dombolo, afro-rumba, mutuashi, sébéné e outros como o afro-funk nigeriano e o ska jamaicano. É mais um daqueles álbuns relâmpago (vide Ayo) gravado em 5 dias depois de uma audição a 35 músicos que nunca tinha antes visto, chamaram-lhe l' Orquestre de la Katouba, inspirado no ghetto de Lumbumbashi onde Baloji nasceu e onde, até hoje, reside a sua mãe.

A gravação foi ouro sobre azul mas a EMI (editora do Baloji) odiou o disco, alegaram que não conseguiriam vender mais de 150 cópias, cortaram-lhe a corda, provando mais uma vez a incompetência das majors em lidar com a diferença, não podendo aplicar as mesmas fórmulas corriqueiras que lhes permitem não ter mais de usar a massa encefálica para adequar cada campanha de marketing a cada produto ao qual corresponderá um público alvo. Resumindo, outra editora mais pequena e desconhecida pegou naquilo e vendeu 60 MIL cópias!!! Consequência imediata: chamou bwé de atenção aos grupos de interesse comum, dentre os quais se destaca o óbvio Damon Albarn que o recrutou para o seu projeto Africa Express, teve uma tourné mundial e está a preparar um novo disco.

Como se não bastasse, fez dois dos vídeos mais fodidos de qualquer derivado da cultura afro de SEMPRE, para os quais as suas noções de insider do mundo da moda (já foi modelo da Louis Vuitton) ajudaram na coesão do aspético estético.

Fisicamente e mesmo de xipala o Baloji faz-me bwe lembrar o nosso Pensólogo Shunnoz Fiel dos Santos.

Acho que chega de conversa fiada. Oiçam vocês e façam o vosso juízo.

01 Le jour d'après / Siku ya Baadaye
02 (Indépendance Cha-Cha) avec Royce Mbumba
03 Tshena Ndekela avec Monik Tenday
04 Karibu ya Bintou avec Konono No. 1
05 Congo Eza ya Biso (Le secours populaire) avec La Chorale de la Grâce
06 De l'autre Côte de la Mère
07 À l'heure d'été - Saison Sèche avec Larousse Marciano
08 La petite espèce (Bumbafu Version)
09 Nazongi Ndako (Part 1) avec Zaiko Langa-Langa et Amp Fiddler
10 Nazongi Ndako (Part 2) avec Royce Mbumba
11 Kyniwa-Kyniwa avec Bebson de la Rue
12 Genèse 89
13 Tout ceci ne vous rendra pas le Congo
14 Kesho avec Moise Ilunga

O melhor vídeo na minha opinião



Mas prefiro esta música


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Angonotícias

Epá, não aguentei. Acabei de ler a notícia sobre a nova lei que regula os espetáculos e eventos de diversão, quando me deparo com este primeiro comentário que me levou as lágrimas depois de me dar algum trabalho a "traduzir". Partilho convosco para que não seja apenas mais um momento de brilhantismo não se perca nos ilegíveis e intermináveis comentários desse site de notícias, sobejamente conhecido sobretudo pelo pessoal na diáspora. Aqui vos deixo então o comentário que parece ser uma resposta ao Black Pig! :)

"Al Viborah
Gude naite, leidies e gentlemenes. In acordingue tu a demande frome a lote ofe families, ui estart aguen to espique de englixe for de jói ofe ol. Ai oupe dat iu do note biqueime angri, becóse dis iz uone uix frome de dógue ofe Malanje. Tanque iu ande bai bai, si iou sune ire in de saite. Ande faque iu, blaque pigue!"

domingo, 24 de abril de 2011

Eduardo Galeano - Sangue Latino

Aos meus 11 "seguidores":

Não fiquem chateados, tudo na vida tem o seu tempo e o seu lugar e todos temos as nossas fases. Neste momento eu, um melómano confesso, não ando minimamente virado para a música, se vos disser que passou-se mês e meio sem que eu tivesse a curiosidade de explorar os meandros musicais vocês irão certamente recusar-me o auto-proclamado epíteto. Não só não procurei como não mantive canais abertos para deixar que ela me encontrasse, até que a minha namorada rompeu o meu jejum audiofónico e me mostrou três artistas que eu desconhecia e que muito apreciei. Provavelmente hei de postar alguma coisa de um deles aqui nos próximos tempos. Entretanto, estou mais numa fase de reavaliação, reenquadramento de eixos e prioridades, "egocentrando-me" :). Nesse exercício nada simples, ao contrário do que pode muitas vezes parecer, os interesses principais que regem a nossa existência sofrem um abalo e passam a ser, temporariamente (espero), secundarizados. Como não queria deixar de partilhar alguns desses momentos convosco, meus fiéis 11 "seguidores" que estranharão o meu silêncio, quero partilhar convosco uma entrevista ao escritor uruguaio Eduardo Galeano que a minha boa amiga Aline me empurrou hoje. É simplesmente de uma clarividência e sabedoria inspiradoras. Para quem o tempo não se conta ao milésimo de segundo:

Eduardo Galeano • Sangue Latino from Breno Cunha on Vimeo.

domingo, 3 de abril de 2011

Um vídeo da manif de ontem

Se aparecerem mais imagens e/ou vídeos relevantes, eu vou continuar a postar aqui. Entretanto queiram referir-se ao site oficial para outras informações.
Foi o segundo passo, a primeira manif oficial de muitas que espero que venham a acontecer nos próximos meses até as eleições. ZÉ DU FORA!!!

sábado, 19 de março de 2011

Halloween - Projecto Mary Witch

Dizer que curto muito este gajo nesta altura pode ser interpretado como a confirmação que precisavam aqueles me passaram a associar ao mundo obscuro das drogas e violência, à pala do excerto do concerto que viram no youtube, mas, sandinga, sou grande fã da frontalidade e crueza deste MC, acho que ele tem essas qualidades em abundância, compensando pelos eventuais delírios ideológicos (ou falta deles) que possam chocar com os meus. Ele consegue com as suas narrativas pintar um quadro tão minucioso no seu detalhe, que praticamente conseguimos ser sugados para dentro dele e viver na pele a realidade precária e sufocante dos seres humanos relegados àquela condição de humilhante exclusão social. Conseguimos ter uma percepção da raiva, da angústia, da sensação de abandono e subjugação que podem de certo modo explicar a entrega à certos comportamentos sociais erráticos que desvirtuam o bem-estar geral, bem-estar esse a que pessoas nesses patamares da sociedade nunca auferiram.

Gosto da maneira que "a Bruxa" partilha com a sua audiência o que lhe vai na alma, sem filtros, sem meias palavras, num permanente baile entre a plena consciência e orgulho quase defensivo da sua situação social, e o arrependimento de certas atitudes desmesuradas que essa mesma condição aflitiva lhe impõe, sem no entanto cair na banalidade de glorificar a vida da qual se vê refém: "vai, puto vai devagar, o crime não é uma coisa da qual possas te orgulhar". Nesta entrevista o Hallo, que revela um discurso que pode parecer surpreendente para aqueles que lhe reprovam as letras, diz que não quer ser moralista nem professor de ninguém, mas o que ele não se dá conta é que este tipo de exercício ponderado e honesto da palavra é, em si só, uma autêntica lição de vida, quer para aqueles que partilham da sua condição, como para nós, os outros, aqueles que, com uma facilidade injusta e arrogante, se apressam a julgar as (re)ações sem se debruçar sobre as causas.

Obrigado Halloween, por dares ao hip hop no idioma de Camões algo que muito lhe falta, pois neste universo de personagens que mais parecem criações da Marvel, tu consegues destacar-te com as magníficas imperfeições que te tornam.... um ser humano!

01- Mary Bu
02- Reportagem
03- Gangs de Lisboa
04- Bang-Bang
05- Procriar
06- S.O.S Mundo
07- Fly Nigga Fly
08- No Love
09- Krika Kriminals
10- O Bom Jogador
11- Bitch Nigga
12- Várias Vidas
13- Dia de um Dred de 16 anos
Faixa bónus
: Exorcismo de Mary Witch



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sábado, 12 de março de 2011

Reks - Um pouco de (muito) bom Hip Hop. Porque não?

Eu sou panco deste gajo desde o primeiro álbum de 2001 (Soul of Black Folk e mais dois ou três temas ali são clássicos instantâneos). Quando saíu o segundo deixei de lhe dar muita atenção. Achei repetitivo e fraco. O que se passou desde então... o mano está cada vez mais maduro e a sua música reflecte isso mesmo. Grandes textos, muito sentimento e altos instrumentais.





quarta-feira, 2 de março de 2011

Gog - Brasil com P

Um dos ensaios mais fodidos do género hip hop. É simplesmente incrível, é inqualificavelmente arrebatador, violentamente arrepiante, hipnotizante, electrificante, transcendendo indubitavelmente a picuinhice de algum melómano que não seja adepto do género. Ora confirmem lá:

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

7 de Março. Será que a malta adere?

Obrigação social e moral de partilhar esta informação. Não vou esperar a ver se é credível ou não, sendo que não o fiz com a proposta do Cantona que era muito menos relevante para mim pessoalmente. Isto é o meu país e o meu povo e, neste caso, há imitações que eu acho que valem sim senhor a pena. Espero que a coisa consiga contagiar o número mais elevado possível de pessoas e que no dia 7 possamos desafiar a arrogância institucional e a prepotência individual do Sr. Dino Matross. Para já, neste momento, parte da minha missão se conclui.

http://www.revolucaoangolana.webs.com/

A página não inspira muita confiança, mas lembrem-se que o domínio perfeito da língua portuguesa e um site XPTO não fazem parte dos requisitos para a força de vontade de uma massa de descontentes e, não tornam a pessoa menos idónea. Existe até uma dose de humor benvinda no nome da pessoa que assina esta petição: Agostinho Jonas Roberto dos Santos. Muito bom:).

Aconteça o que acontecer, duvido seriamente que possamos ter algo como o que esta imagem do Egito (novo acordo ortográfico) ilustra:


Até dia 7 e se alguém tiver uma máscara de gás para me emprestar é só dar a dika nos comentários.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Terrakota - World Massala

Não vale a pena, eu mesmo curto bwé o som destes manos. Continuam a ter uma energia contagiante, e nem vou começar aqui a falar dos concertos, autênticos banhos purificadores de boa onda, sublimemente oferecidos por eternos animais de palco, que rebentam tudo sem pedir "com licença?".

Os kotas são superdotados, tendo a avassaladora e extremamente rara capacidade de superar as suas próprias peripécias musicais, o seu mosaico audiofónico multicultural ficando algumas peças mais rico, mais completo, mais bonito, mais próximo do sublime a cada excursão à volta do globo no Comboio OBA :).

Eu fui acompanhando a evolução deste disco, ouvi umas maquetes ainda nuas dos seus adornos alter-mundialistas (falo dos instrumentos tradicionais de certas regiões do globo obviamente e não dos grifes farruscos dos alternativo)... e sinceramente, não achei que alguma vez fosse poder achar este disco melhor que o anterior... ainda estou a vacilar, mas acho que é mesmo um coxito melhor... sei lá... pelo menos tem o mérito de continuar a convencer os meus ouvidos treinados para estarem em estado de alerta para repetições rítmicas, a constatação das quais me faz perder um bocado o interesse na banda que começo a achar que está a tentar fixar raízes numa zona de conforto após conquista de uma satisfatória base de fãs.

Com isto não quero dizer que isso nem que os kotas se reinventaram como banda e fizeram um disco totalmente inesperado, nem que, a perda de interesse seja da praxe quando as bandas continuam a guardar a sua identidade sonora. Existem várias excepções à essa regra e os Terrakota insistem em ser uma delas. Já quando foi o Oba Train eu não pensei que pudesse gostar mais de outro disco deles como tinha gostado do Humus Sapiens. Só depois do Oba sair é que consegui dar conta do que os anos podem fazer no que toca a polir e amadurecer certas técnicas... passei a reconhecer alguns defeitos no Humus que me passavam totalmente desapercebidos até então.

Curtam a naturalidade com que eles viajam nos padrões rítmicos de sítios tão díspares, voando do Rajastan, para o Senegal, saltando ali ao lado para Cabo-Verde, visitando a Nigéria e paragem obrigatória (?) em Angola antes de cambiarem de hemisfério para as Antilhas/Caraíbas, descaíndo finalmente um coxe para o Brasil, tudo com uma perna às costas e, para dar mais raiva da cara, misturam também idiomas (wolof é um dos recorrentes, mas uma nota especial e bem humorada para aquele portinhol com direito a pitada de criolo). As mensagens são sempre bonitas e idílicas, cheias de "não-lugares" como criticam os eternos pragmáticos que proliferam pelo mundo empresarial e nos parlamentos de todas as farsas que construímos sob o título de nações.

O Mark é uma adição inestimável ao colectivo, agraciando alguns dos coros com reviengas malucas, podendo perfeitamente passar-se (pelo menos para os leigos na matéria como é o meu caso) por um autêntico Devraj algures entre o Punjab e Bombaim. Granda Mark.

Este disco tem a participação do nosso inconfundível Paulo Flores em dois temas, justamente e de forma algo estranha, os dois temas mais calminhos que já ouvi da banda. O último, Raíz, é das coisas mais encantadoramente raras que ouvi nos últimos tempos, com uns barulhinhos de água e cabaças que dão vontade de mergulhar numa selha e um outro bizarro, mas muito kuyoso, que lembra uma sequência humanamente impossível de realizar daquele ruído que produzimos ao introduzir o indicador na bochecha e puxando-o repentinamente (tipo rolha de garrafa).

Com autorização explícita para "espalhar a música pelo mundo" directamente da boca (dos dedos, foi por mail) do Papa Juju.

Parabéns aos Terrakota pelo seu, discutivelmente, melhor álbum até à data e shame on me por ter, mais uma vez duvidado da capacidade deles de me arrebatarem.

01. World Massala
02. Kay Kay
03. Ilegal
04. I am
05. Slow Food
06. Né Djarabi
07. Pé na Tchon
08. Chelo Habibi
09. Gripe Económica
10. Ualelepo
11. Raíz




Catem o mambo aqui

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Coca o FSM - RelachTotal Mixtape


A música angolana está prestes a sofrer um abalo sísmico. Este esteve a ser aconchegado nas profundidades gargantuescas do centro da terra, a ser concebido, desenhado, formado para emergir com violência serpenteando por uma falha entre placas tectónicas no seu perpétuo, silencioso movimento. OK, estarei a emocionar-me demais exagerando o impacto imediato que esta mixtape pode vir a ter no panorama musical se tivermos em conta o público em geral que, longe de ser só em Angola, devota-se à música de índole duvidosa, superficial, de abreviada longevidade, com padrões rítmicos que têm de ser familiares para serem associados ao termo "bom", uma autêntica orgia de medíocridade, sendo este o termo que mais facilmente os melómanos associarão a música pop, salvo raríssimas excepções. Qualquer coisa mais refinada, mesmo que bem executada, atingirá apenas um punhado de gente, normalmente ligada ao mundo das artes, ou pessoas que tenham já tido o privilégio de viajar e misturar-se com outras culturas estando mais abertas à pluraridade e a diversidade, neste caso específico musical. Felizmente, essas são as pessoas que criam arte e a partir de agora, terão uma nova cor para acrescentar a sua palete de inspirações.

Eu acompanho moderadamente o percurso da Birrakru desde a altura em que o 7 Xagas me enviou algumas das brincadeiras que eles faziam na casa dele em Lisboa depois de uma noite de chuping, que veio a culminar num apanhado de demos fantásticas materializado sob o título de Pr'Alma, já aqui postado obviamente. Ainda assim, apesar de já conhecer a criatividade prolífica desse pessoal, consegui ser abalroado pelo comboio que rola nas calmas e que se chama COCA, O FSM anteriormente conhecido como Sílaba. Esta mixtape é tão inovadora que consegue transcender as claras influências que acarreta, cumprindo um papel que muitos artistas acabam por descurar que é o de reinventar-se, reciclar-se, adicionar o seu ponto a cada conto, não se autolimitarem ao circunscreverem-se num perímetro artístico para além do qual não ousam aventurar-se.

Já tinha comentado aqui neste blog acerca dos dotes vocais do Sílaba tkk Coca o FSM (Faray Sem Mobile). Apesar de achar que ele está a crescer muito e a deixar a anos-luz de distância os anos do "ar-colingue" (7 Xagas), continua a ser deliciosamente desafinado. Explico-me: eu suporto com muito menos facilidade um único desafinanço de artistas que se gabam de terem andado nas escolas X, Y ou Z, com mania de grandezas, pois sou inerentemente intolerante a indivíduos que cortaram relações com o termo "modéstia". Já os alegres cançonetistas sem nenhuma pretensão de se afirmarem ou de se elevarem a categorias às quais não pertencem, mas veículando o que sentem com pureza, conseguem mexer com as minhas emoções ainda que sejam PERMANENTEMENTE desafinados. A maior parte das vezes dá-me graça, que não deixa de ser uma emoção mais do que válida para ser transmitida pela música. Exemplo flagrante é o Dudley Perkins que nem sequer sinto que faça um esforço para melhorar a sua afinação e que conseguiu vender o suficiente com o Lil' Light para lhe darem (até agora) mais 3 oportunidades para fingir que sabe cantar.

Por isso, caso estejam à espera de ouvir um cantor com as notas todas na batata tipo Anselmo Ralph, desenganem-se, não é de todo o que se deve procurar aqui. O conteúdo desta mixtape é imensamente mais rico, mais complexo, mais completo do que qualquer álbum do artista acima mencionado e de todos os R. Kellys e Ushers que o influenciaram. É um disco radiante que promove a boa disposição e uma paz que contrasta com a vida bélica que levamos nesta abominável Luanda que continuamos a amar.

Como negar a beleza do refrão do som que dá título à mixtape? É tão doce, tão edificante, tão inspirador, que quase nos faz levitar. Afinado? Não necessariamente, mas porra, tá DEMAIS!
"Imagina só"? Dá vontade de sair a voar com aquele pianinho. Uma das marcas registadas dos instrumentais nesta mixtape é a delicada sobreposição de instrumentos formando camadas audiofónicas que acasalam entre si criando no fim a sensação de coesão que não pode estar muito longe da perfeição, de um requinte, de tal magnânima leveza que desconseguimos de nos fartar. Como podemos resistir ao balanço hipnotizante do "Mais do que Kambas"? Epá cada um com o seu gosto né? Mas os instrumentais para mim são altas pedradas de puro groove afro-soul, com arrojados elementos sonoros que não se associariam necessariamente à música romântica (aquele apontamento espacial tem tanto de discreto quanto de sublime). Se tenho um ponto negativo a apontar, depois de já descartada a importância da perfeição na afinação, seria algo minúsculo, o uso do que me parece ser um sample de scratch que dá um ar um pouco "ejay" à uma composição de outro modo flawless.

Os temas são essencialmente românticos, mas muito únicos, altamente imprevisíveis, com uma quase permanente mistura de poesia com humor e, sobretudo, fazendo recurso a gírias e linguagem terra-a-terra, o que para mim é um potencial sinal da individualidade que caracteriza o Coca, que não tenta seguir os moldes impostos pelo género ou pelos seus percursores, usando a sua música como uma perfeita imagem reflectida do ser humano que é. Aqui não é residência para falsidades sentimentais banais do género "meu coração está partido amor, vem ser minha enfermeira por favor". Exemplo do bom gosto das linhas apaixonadas qb "este som é para nós...quando virarmos borboletas, se eu tivesse o teu fone, te ligava concerteza".

Mas nem só de amor vive o homem e, lá para o fim da mixtape, o coca consegue lembrar que a música easy-listening não significa que o artista tem que se cingir à temas sem profundidade ou intervenção social e rebenta-nos com dois temas nervosos, com grande dose de humor à mistura, o primeiro sendo o "Só Pensa Nisso" com linhas que hão de arrancar sorrisos ao mais mal humorado dos ouvintes do tipo logo a de entrada: " o brada foi bookar no stade, voltou com um escalade", crítica social em formato soul d'angelo style. Boa dika do Kilates também, outro veterano birrakru. Para fechar chega o tema "Não Fazes Nada", um surpreendente um ataque directo ao poder instituído: "leio no jornal dizem pensas que és Deus, tudo para ti nada para mim e os meus", ou "não fala política, eles querem conversa bonita" aludindo ao facto de se a tua intervenção contrariar ou questionar a acção do executivo, tornas-te um alvo.
Nestes momentos sérios a abordagem do Coca chega a ser mais uma vez o que eu chamo de puramente mwangolé pois consegue estar carregadíssima de boa disposição que é característica deste povo sofredor, ilustrada nesta linha: "deves ter tomado propofol, a droga do Michael!!! E tomas bem!!!" AAAAAAAAAAAAAHAHAHAHAHA. "Sempre, sempre sempre com katás, dizes, dizes, dizes, mas não fazes nada". A mim parecia-me uma mensagem directa ao Zé Dú até chegar a parte do "mudar de bairro para a Talatona" e o "giras de Range".

Um papoite radialista perguntou-lhe "já limpaste a tua música?", insinuando que só depois de estar com qualidade XPTO é que ponderaria passá-la no seu programa de rádio. Porra assim tá soar magnificamente bem, porque essa mania com a "limpeza"? Que gente mesquinha! Temos todos de investir dinheiro do bolso para ir gravar nos vários estúdios profissionais que se nos oferecem por aí para termos direito a alguma credibilidade?

Que se invente um nome para este género, claramente um parente mwangolê do neo-soul, com muita mistura de afro-jazz, sendo que estas já englobam em si parentes mais idosos como a soul, o blues, o hip hop, mas sem dúvida também a música angolana da qual felizmente, nenhum criador angolano se livra, com excepção dos Cage Ones desta vida.

Fico confuso, como pode algo que soe tão bem ser tão desconhecido? Eu sei que o brother não se esforça, não corre atrás, não está desesperado para aparecer, não dá importância nenhuma a fama, aliás, só está hoje, depois de muitos anos a produzir pérolas, a partilhar o seu exuberante talento com nós comuns terráqueos, por prolongada insistência. Só me resta dizer "OBRIGADO" aos amigos chegados que conseguiram convencê-lo e POR FAVOR, não deixem mais ele privar o povo angolano do seu talento, agora ele tem um compromisso para connosco.



Enriqueçam-se e catem este mambo JÁ aqui