sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Bamako


Acabei de assistir a este filme pela terceira vez. Levei tempo a perceber as pessoas que espontaneamente decidem repetir filmes, a menos que seja para acompanhar outras que ainda não o tenham feito, coisa que me levou a repetir vários dos meus filmes preferidos (e outros que nem por isso). Este filme vi-o a primeira vez com dois colegas e marcou-me com muita intensidade porque para além do tema com um argumento fabulosamente desenvolvido, a fotografia, a música, os personagens e a qualidade de actuação são fora de série, havendo mesmo momentos em que parece ser mais um documentário do que uma obra de ficção (notem nas várias partes em que os personagens falam por cima uns dos outros, sendo muito mais realista que o formato tradicional em que as pessoas, mesmo quando discutem, cumprem incessantemente e de maneira pouco natural, com as implícitas regras de delicadeza, guardando o silêncio sempre que alguém fala). Não me lembro de nenhum outro filme (e acreditem que vi muitos) em que os personagens fossem tão genuínos, nem mesmo no Cidade de Deus onde o grosso dos actores eram miúdos da favela que nunca tinham passado por escolas de encenação e que fizeram um trabalho à altura de actores com muito chão.
O filme é sobre um processo contra as instituições financeiras mundais, o Banco Mundial e o FMI, sendo a parte queixosa a sociedade civil maliana. Eu não vou sequer tentar descrever-vos o filme, vou só prevenir aqueles que resolverem vê-lo para não esperarem um filme com o ritmo frenético de um filme de acção hollywoodiano (cada vez mais o padrão seguido pelos outros estúdios para assegurar um mínimo de ingressos), é um filme lento, mas muito rico na ilustração do choque de civilizações ocidental e africanas, na maneira que tentamos enquadrar-nos nessa globalização que continua a excluir-nos suprimindo ou ridicularizando as vozes que de lá emanam, mostrando sempre uma imagem de mendigos incapazes de se autogovernarem, de líderes déspostas e insensíveis (ver Last King of Scotland), de selvagens tribalistas, disseminando e perpetuando essa imagem através da sua omnipotente máquina de propaganda.
Pequena curiosidade: o filme foi rodado no quintal da casa do falecido pai do realizador, onde ele cresceu com os seus numerosos irmãos, primos, tios e familiares mais distantes.
Para já deixo-vos o trailer, estou a tentar tirar do emule a versão original e respectiva banda sonora, mas só me vêm filmes de cú. Prometo que assim que tiver a boa versão vos deixo aqui o link ed2k para utilizadores do emule.

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