O facto é que ouvindo uma sequência de músicas produzidas por eles, a pessoa dá-se conta que se encontra perante algo de extremamente inovador, não querendo dilatar-lhes o mérito, pois, todos sabemos que nada se cria do nada, tudo o que é novo na verdade não é mais do que a apropriação do antigo (de preferência de vários antigos) numa interpretação contemporânea, ajustada à evolução (ou regressão, dependendo do ponto de vista de quem observa) das mentalidades que se transformam acompanhando a mutação dos modos de vida em sociedade. Sa Ra fazem música do nosso tempo, música de toda uma geração que já cresceu tendo o hip hop como uma presença incontornável (ainda que questionável e questionada) do panorama musical mundial.
Estes jovens já puseram a mão em discos de artistas que batem múltiplas platinas (Dr. Dre, Erykah Badu) e outros mais low-profile, ou por outra, menos mainstream, tipo Talib Kweli, Jurassic 5, Jill Scott, Bilal, entre muitos outros desse calibre. Para não falar das remisturas dentro e fora do universo Hip Hop. O CV é muito extenso.
Foi ao ouvir o álbum do Shafiq Husayn, 1/3 do grupo, na Rádio Oxigénio que a minha curiosidade foi despoletada e chegando a casa nesse dia me pus a pesquisar mais sobre o indivíduo e quanto mais cavava, mais descobria subterrâneos percursos tão familiares por já terem sido inúmeras vezes trilhados pelos meus ouvidos calejados dessas sonoridades hiphopianas.
Dois acontecimentos sequenciaram-se muito pouco tempo depois dando-me o empurrão que faltava: um brada deixou um comentário no post do Shafiq encorajando-me a escuta dos álbuns do trio e, quase simultaneamente, li a review deste álbum na hiphopsite.com e achei que não devia adiar mais.
Porra, eles são fortes yá? Tão fortes que o Kanye assinou-os na sua G.O.O.D. Music. Tão fora que acabaram por saltar desse barco quando a editora foi absorvida pela Sony que não sabia como lhes marketear.
Assim, depois de já terem lançado um disco pela Babygrande, foram recrutados pela Ubiquity Records (Breakestra, Platinum Pied Pipers, Shawn Lee) para este segundo ataque nuclear, proclamando a necessidade da aniquilação da pequenez de espírito e anunciando a chegada da Idade do Amor. Roçando por várias vezes o ordinário (Bitch Baby, Bone Song), o disco é um festim de requintados pratos auditivos e, sem nunca usar fato-e-gravata, os Sa Ra conseguem estar a altura de qualquer empertigada gala exclusiva aos luxuosos, sem nunca no entanto parecerem esforçar-se para conquistar esse lugar ao Sol.
As sensações que me percorrem ao ouvir isto são tão maravilhosamente ambiguas e intensas, que eu ainda não consigo verbalizá-las de maneira justa e resumida. Daqui a dois anos e mais uns calos provavelmente conseguirei traduzir melhor o impacto indelével que este grupo está a causar na minha modesta e ainda débil sensibilidade musical.
CD 1:
- Spacefruit
- Dirty Beauty
- I Swear
- Melodee N’mynor
- He Say She Say
- Traffika
- Souls Brother
- Bitch Baby
- Love Czars
- Gemini’s Rising
- The Bone Song
- White Cloud
- Move Your Ass
- Love Today
- Can I Get You Hi
- My Sta
- Cosmic Ball
- Spaceways Theme
- Just Like A Baby
- Double Dutch (Co Co Pops)
- Death Of A Star (Supernova)
- Powder Bump
- Hangin By A String
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