Mais uma daquelas coisas que ficam sem explicação: como foi que até hoje não partilhei NADA desta mítica banda de Long Beach, California. Como? Como? Como? Não faz sentido nenhum!
Date Rape é tema retirado do primeiro álbum deles 40 Oz. to Freedom de 1992 e já nessa altura o som deles era de vanguarda e desafiando todas as fórmulas para sucesso comercial. É simplesmente... sublime!
Mas reveladora da natureza "atrofiada" dos papoites, que viviam uma vida de consumo de substâncias degradantes para o corpo e em 1996, Bradley Nowell, o vocalista, apanhou piri-paki com uma (sempre) estúpida overdose de heroína, num qualquer motel, depois de um qualquer show. Deixou órfão o bobby "Lou Dog", o lindo Dalmata que era a mascote do grupo.
Estranhamente, ou se calhar nem por isso, alguns meses depois sairia o seu primeiro álbum numa major, que bateu 5 vezes platina, deixando o resto dos membros do grupo um pouco mais... folgados!?!
Será certo dizer que "he took one for the team"? Se o wí não tivesse parado a banda não teria a componente "drama" associada a ela e, desse modo, não haveriam de rebentar? É possível que sim (ver Tupac e Notorious B.I.G.), mas não seria por falta de talento e de valor.
Isto é um espaço pessoal, aqui hei de meter essencialmente música que de alguma maneira me moldou, mas posso ter alguns desvarios eventuais. Se algum artista se sentir "roubado" por ter a sua música partilhada, que mo indique, para que eu possa apagá-la com a máxima prontidão
sábado, 15 de dezembro de 2012
Skyzoo - Talento da Justus League
Alguém se lembra do Jin? MC de descendência asiática que limpou todos wís no 106 & Park na BET. Yá, bateu este gajo na final. Skyzoo é regularmente associado à Justus League apesar de não ser da Carolina do Norte e por isso não ser um dos do núcleo duro (Little Brother, Median, Joe Scudda, Chaundon). Em 2006 lançou um EP com o 9th Wonder que na altura estava na berra (até para o Jay Z ele produziu) e depois de se passear demoradamente pelo circuito das mixtapes, assinou para a Duck Down, onde lançou o seu álbum de estreia:The Salvation! O mano escreve muito e tem um flow pausado para além de um gosto refinado para os beats. Normalmente este tipo de som que partilho aqui é óbvio demais e previsivelmente usado para single, o que normalmente me deixa de pé atrás por frequentemente lhe faltar sal, ou pior, alma, pois aparenta quase sempre ser forçado para bater. Não no caso do Skyzoo. O mambo saíu doce.
"If you ain't scared of the sky, baby I can make it easy to fly"
"Why run in place when you can just run away? Meet me at the peak of your dreams and come and stay"
DOPE!
Ano seguinte o mano kangou no doente do !llmind e fizeram um álbum juntos intitulado "Live From the Tape Deck" e tem lá uns bons bijous dentre os quais este Frisbees (pena a opção estética dos flickers que faz confusão aos olhos). Para o som vos entrar têm de chegar pelo menos ao primeiro minuto, altura em que entram os sintetizadores bossais do !llmind:
"If you ain't scared of the sky, baby I can make it easy to fly"
"Why run in place when you can just run away? Meet me at the peak of your dreams and come and stay"
DOPE!
Ano seguinte o mano kangou no doente do !llmind e fizeram um álbum juntos intitulado "Live From the Tape Deck" e tem lá uns bons bijous dentre os quais este Frisbees (pena a opção estética dos flickers que faz confusão aos olhos). Para o som vos entrar têm de chegar pelo menos ao primeiro minuto, altura em que entram os sintetizadores bossais do !llmind:
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
Ngonguenha Mix - Por Roocka Bockatto
O mano deixou-me um comentário com o link para a mix dele tributando a Ngonguenha. Curti particularmente da passagem do Brinca N'Areia para o Jetu-Jetu:
Há dias falando com o Conductor, pareceu-me que está a ser preparado o terceiro álbum do grupo. Também soube que o Leonardo e o Keita estão ambos a pensar nos seus próximos álbuns a solo. Boa sorte para todos.
Valeu mano Roocka.
Há dias falando com o Conductor, pareceu-me que está a ser preparado o terceiro álbum do grupo. Também soube que o Leonardo e o Keita estão ambos a pensar nos seus próximos álbuns a solo. Boa sorte para todos.
Valeu mano Roocka.
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
domingo, 9 de dezembro de 2012
Blu - So(ul) Amazing
Um dia hei de postar aqui o álbum. Below the Heavens é um álbum onde a música que é só boa passa por má, porque a esmagadora maioria das faixas parecem ter sido feitas noutro planeta!
Company Flow e Cannibal Ox
Funcrusher Plus e The Cold Vein são simplesmente dois dos álbuns mais importantes na implementação de (mais) uma nova sonoridade no hip hop, são autênticos marcos deste género musical separados de 4 anos e inteiramente produzidos pelo lunático El-P (El Producto).
Outros projectos da Def Jux são muito interessantes, mas estes dois (O Funcrusher Plus saíu originalmente pela Rawkus mas foi depois remasterizado e disponibilizado na sua forma final pela Def Jux) são simplesmente sublimes, inebriantes, autênticas viagens à partes do subconsciente que desconhecíamos possuir. Se o Funcrusher peca um pouco pela duração excessiva, o Cold Vein está absolutamente na batata.
As atmosferas em ambos os discos são muito sinistras fazendo pensar no submundo nova iorquino, filmes do Stanley Kubrik, chuva, tons de cinzento e depressão. Mas tudo com um gosto refinadíssimo e (sobretudo Cannibal Ox) com um conteúdo poético condizente.
Para aqueles que se consideram fãs de Hip Hop, estes dois discos devem PELO MENOS ser ouvidos e se são coleccionadores, então estão diante de duas referências obrigatórias.
01 - Bad touch example
02 - 8 steps to perfection
03 - Collude/Intrude F. J-Treds
04 - Blind
05 - Silence
06 - Legends
07 - Help Wanted
08 - Population control F. R.A. The Rugged Man
09 - Lune TNS
10 - Definitive
11 - Lenorcism
12 - 89.9 detrimental
13 - Vital nerve F. BMS
14 - Tragedy of war (in 3 parts)
15 - The Fire in which you burn F. Breezly Brewin & J-Treds
16 - Krazy kings
17 - Last good sleep
18 - Info kill 2
19 - Funcrusher scratch
20 - Corners '94
Catem o mambo aqui
01 - Iron Galaxy
02 - Ox Out The Cage
03 - Atom (feat. Alaska & Cryptic Of Atoms)
04 - A B-Boys Alpha
05 - Raspberry Fields
06 - Straight Off The D.I.C.
07 - Vein
08 - The F-Word
09 - Stress Rap
10 - Battle For Asgard (feat. L.I.F.E. Long & C-Rayz Walz Of Stronghold)
11 - Real Earth
12 - Ridiculoid (feat. El-P)
13 - Painkillers
14 - Pigeon
15 - Scream Phoenix
Este é o único vídeo oficial que conheço do álbum, mas não resisto em colocar também duas das minhas músicas preferidas
Catem o mambo aqui
Outros projectos da Def Jux são muito interessantes, mas estes dois (O Funcrusher Plus saíu originalmente pela Rawkus mas foi depois remasterizado e disponibilizado na sua forma final pela Def Jux) são simplesmente sublimes, inebriantes, autênticas viagens à partes do subconsciente que desconhecíamos possuir. Se o Funcrusher peca um pouco pela duração excessiva, o Cold Vein está absolutamente na batata.
As atmosferas em ambos os discos são muito sinistras fazendo pensar no submundo nova iorquino, filmes do Stanley Kubrik, chuva, tons de cinzento e depressão. Mas tudo com um gosto refinadíssimo e (sobretudo Cannibal Ox) com um conteúdo poético condizente.
Para aqueles que se consideram fãs de Hip Hop, estes dois discos devem PELO MENOS ser ouvidos e se são coleccionadores, então estão diante de duas referências obrigatórias.
01 - Bad touch example
02 - 8 steps to perfection
03 - Collude/Intrude F. J-Treds
04 - Blind
05 - Silence
06 - Legends
07 - Help Wanted
08 - Population control F. R.A. The Rugged Man
09 - Lune TNS
10 - Definitive
11 - Lenorcism
12 - 89.9 detrimental
13 - Vital nerve F. BMS
14 - Tragedy of war (in 3 parts)
15 - The Fire in which you burn F. Breezly Brewin & J-Treds
16 - Krazy kings
17 - Last good sleep
18 - Info kill 2
19 - Funcrusher scratch
20 - Corners '94
Catem o mambo aqui
01 - Iron Galaxy
02 - Ox Out The Cage
03 - Atom (feat. Alaska & Cryptic Of Atoms)
04 - A B-Boys Alpha
05 - Raspberry Fields
06 - Straight Off The D.I.C.
07 - Vein
08 - The F-Word
09 - Stress Rap
10 - Battle For Asgard (feat. L.I.F.E. Long & C-Rayz Walz Of Stronghold)
11 - Real Earth
12 - Ridiculoid (feat. El-P)
13 - Painkillers
14 - Pigeon
15 - Scream Phoenix
Este é o único vídeo oficial que conheço do álbum, mas não resisto em colocar também duas das minhas músicas preferidas
Catem o mambo aqui
Murs - Animal Style
Tudo o que tenho a acrescentar às palavras do artista que reproduzo abaixo é: PUTA QUE PARIU, MURS TEM BILHAS!!!
"Animal Style is a song I did for many reasons: The first was to be an advocate for people close to me who are out, and those who have yet to come out. It's also a love song, which is nothing new for me. But with this one I wanted to challenge the listener to ask themselves: Is the love shared by two people of the same gender, really that different than the love I have for my partner of the opposite sex? And finally, I just felt it was crucial for some of us in the hip hop community to speak up on the issues of teen suicide, bullying, and the overall anti-homosexual sentiment that exist within hip hop culture. I felt so strongly about these issues and this song that I had to do a video that would command some attention, even if it makes some viewers uncomfortable. Even if it came at the cost of my own comfort."
"Animal Style is a song I did for many reasons: The first was to be an advocate for people close to me who are out, and those who have yet to come out. It's also a love song, which is nothing new for me. But with this one I wanted to challenge the listener to ask themselves: Is the love shared by two people of the same gender, really that different than the love I have for my partner of the opposite sex? And finally, I just felt it was crucial for some of us in the hip hop community to speak up on the issues of teen suicide, bullying, and the overall anti-homosexual sentiment that exist within hip hop culture. I felt so strongly about these issues and this song that I had to do a video that would command some attention, even if it makes some viewers uncomfortable. Even if it came at the cost of my own comfort."
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
Ikonoklasta - 5 mp3chos na calha (prenda de natal???)
-->
Desde 2008 que não tenho feito música
com regularidade. A minha vida tornou-se uma montanha russa de
peripécias e emoções que continuam por ser digeridas e
interpretadas para que me possam tornar mais maduro, mais perspicaz e
mais preparado para o que me resta de vida. É assim com toda a gente
e esse pretexto por si só não deveria ser (nem é) suficiente para
justificar a minha falta de vontade de criar, de compor, de cantar,
de partilhar com esse mundo de desconhecidos os meus desvarios,
momentos de loucura, as minhas angústias, basicamente, fazer o que
adoro e que me faz sentir mais livre nesta vida: música!
Também não é verdade que tenha
estado completamente inerte, mas estou longe do prolífico. Deixei-me
envolver num projeto novo, original e, para mim, vanguardista,
desafiado pelo meu mano e cúmplice na arte: Pedro Coquenão, aliás,
DJ Mpula. Batida é o nome do conceito musical que o Pedro concebeu e
é completo em tantas maneiras, tem me levado a tantos sítios
fantásticos, que tenho concentrado os poucos momentos de inspiração
a criar novos temas para e com o projeto. Alguns desses temas estão
inéditos para já, mas há uma intenção em incluí-los em futuros
lançamentos de Batida, por essa razão não os incluo nesta série
de mp3chos que pretendo agora divulgar.
A única coisa que está a fazer-me
atrasar a saída dos ditos cujos é mais o facto de ainda não ter
alguém que me desenhe as capas, por isso quero lançar o repto para
os amigos, fãs, fiéis, ou simplesmente gente que goste de
desenhar/criar e ande a procura de desafios, que façam propostas de
capas para qualquer um dos mp3chos que abaixo proponho e mas enviem
para o meu email pessoal: ikonoklasta@musician.org.
Vou começar por lançar um mp3chos com
versões inéditas Ngonguenha, algumas do “Nós os do Conjunto”
com versos meus que foram excluídos da versão final que chegou às
lojas, outras do “Ngonguenhação”, remisturas feitas por malta
por quem tenho uma grande admiração.
Depois tenho mais 4 mp3chos onde irão
constar participações minhas nos discos de outras pessoas, várias
demos inéditas e temas que gravava por estalo quando ía visitar
amigos. As listas que aqui apresento podem ser engordadas, sofrer
dietas e reajustes, dependendo do que ainda falta adicionar ou do que
decida que se calhar não é digno de ser tornado público.
Sintam-se à vontade para sugerir
também títulos e POR FAVOR, evitem os clichés e simbologias
associadas ao rap. Dou prioridade à originalidade.
Ngonguenha – Versos Perdidos e
Remixturas
01.Sorriso Angolano (Verso Ikonoklasta
Demo c. André Mingas)
02.Dia de Aulas (Verso Ikonoklasta)
03.Kem Manda Mais Fuma (Verso
Ikonoklasta)
04.Tou a Falar Pra Ti (Sem Censura no
Verso do Katró)
05.Tia (Verso Ikono)
06.Jetu Jetu (Remixtura Conductor)
07.Kanguei no Maiki (Remixtura Fazuma)
08.Choro de um Continente (Remixtura
Terrakota)
09.Colagem (Remixtura Cacique 97)
10.Sorriso Angolano (Versão do Single)
Ikonoklasta – Ainda sem título
01.Kuando Xeguei à Tuga (Projecto
Onjango)
02.Tópikos Para o Artigo (MCK –
Trincheira de Ideias)
03.Atirei o Pau ao Gato (DFM –
Projeto com NK que nunca arrancou)
04.Sentença à Nascença (Inédito)
05.Os Imbecis (Demo Inédita)
06.Duas Faces da Mesma Moeda (MCK –
Nutrição Espiritual)
07.Produto da Publicidade (Tiganá –
Álbum homónimo)
08.Falso Orgulho Pt.2 (Keita Mayanda –
O Homem e o Artista)
09.Ekos de Revolta (MCK – Trincheira
de Ideias)
10.História Trágica Remistura (MCK -
Inédito)
11.Vice-Versa (VRZ – 100 Insultos)
12.Nkwalogia (Inédito)
13.No Meio de Tanto Drama (Sir Scratch
– Cinema)
14.Pela Música Pt.2 (Valete –
Serviço Público)
15.Rapistas (Dénexl – Dentro e Fora
do Meu Quarto)
Ikonoklasta – Ainda sem título
01.Dzastre (Demo
Inédita)
02.Som sem título
c. VRZ, Conductor e Khro-mo (Inédito)
03.O Circo (CFK -
Um Em Um Milhão)
04.Os Vendidos
(Matarroêses – Compilação)
05.Amordaçados
(Verso adicional de Salvaterra)
06.Aproveita (Das
Primeiro – Terapia)
07.O Som Tá Podre
(Demo Inédita com Sir Scratch)
08.Duas Almas. Uma
Guerra (VRZ – Confiança ou Vingança EP)
09.Mar-Terra-Marte
(Hemoglobina – Carnes EP)
10.Cocktail Molotov (Verbal
- Dias de Treino Mixtape)
11.A Konspiração
dos Moskitos Inofensivos (Matarroêses – Compilação)
12.Sombra (VRZ –
Pedro Sofreno Mixtape – Inédita)
13.Império (VRZ
– Pedro Sofreno Mixtape – Inédita)
Ikonoklasta – Ainda sem título
01.Nós e os
Outros (Inédito)
02.Bonito Planeta,
Ninguém em Casa (Poesia Urbana – Compilação)
03.O Imbondeiro
(Inédito)
04.Morte do
Artista (Inédito)
05.??? (Conductor
– Rascunhos – Inédito)
06.Estado do Sítio
(Conductor – Rascunhos – Inédito)
07.Rapistas Remix
(Dentro e Fora do Meu Quarto)
08.Amigo da Onça
(Demo Inédita)
09.A Bala Dói
(Versão Original sem MCK)
10.Dissipando Mal
Entendidos (Supremo G – Live On Stage Mixtape)
11.Planeta África
(Projeto Onjango)
12.Ya Mwiji Wami
(Projeto Onjango)
13.Segue em Frente
Angolano (Projeto Reunir – Inédito)
14.Contra- Capa
(Flagelo Urbano – Esta faixa poderá sair desta lista aguardando
pelo álbum do Flagelo)
15.Boa Onda, Nova
Moda (Leonardo Wawuti – Ltrospectivo)
Ikonoklasta – Alternativo
01.Lê (Inédito)
02.Sr. Diplomata
(Cacique 97 - ?)
03.É verdade
(Terrakota – Oba Train)
04.Cuka (Isso é o
Que Eles Querem) (Batida – Dance Mwangolé)
05.Alien na Favela
(DJ Farrapo & Yanez – Inédito)
06.Ekuality is
Kuality (Terrakota – Oba Train)
07.Chuta! (Remix)
(Inédito)
08.Fazuma
(Inédito)
09.Oba Train Remix
(Terrakota – Remisturas)
10.Sr. Diplomata
(Xoices Remix) (Inédito)
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Quase dois meses sem um post
Vou só atirar aqui algumas coisas que tenho estado a ouvir ultimamente e que não são necessariamente "novidades":
EP antigo do Darien Brockington "The Feeling" e, para mim, sem dúvida o melhor balanço. Esse mano manda sentimento, mas com um nome desses não vai muito longe (difícil de pronunciar e memorizar, nada comerciável).
Lauryn Hill, dum álbum lançado à revelia, pois claramente não estava pronto. Vi mesmo exemplares na loja HMV na Inglaterra, mas tinha tudo um ar tão rafeiro que parecia que algum matreco se tinha apoderado de demos da princesa e entregue a um chinês para pôr a circular na pirataria. O álbum seria o "Khulami Phase" (partilhámos aqui no blog já)
Dave Mathews, tenho de meter dois sons do LP "Some Devil", que tenho há anos, sem nunca ter prestado atenção. O mano é profundo!!!
Bilal, do álbum inédito (e devidamente "bootlegado") "Love for Sale". Não acredito que até hoje não postei esse álbum. Hei de corrigir o tiro. Este instrumental foi depois reutilizado pelo Jay Electronica que o ASSASSINOU BARBARAMENTE!
Ora confirmem lá a maldade que o Jay operou neste balanço. Sorry Bilal, this time the award goes to the rap song!
Termino o dia com Blackalicious:
EP antigo do Darien Brockington "The Feeling" e, para mim, sem dúvida o melhor balanço. Esse mano manda sentimento, mas com um nome desses não vai muito longe (difícil de pronunciar e memorizar, nada comerciável).
Lauryn Hill, dum álbum lançado à revelia, pois claramente não estava pronto. Vi mesmo exemplares na loja HMV na Inglaterra, mas tinha tudo um ar tão rafeiro que parecia que algum matreco se tinha apoderado de demos da princesa e entregue a um chinês para pôr a circular na pirataria. O álbum seria o "Khulami Phase" (partilhámos aqui no blog já)
Dave Mathews, tenho de meter dois sons do LP "Some Devil", que tenho há anos, sem nunca ter prestado atenção. O mano é profundo!!!
Bilal, do álbum inédito (e devidamente "bootlegado") "Love for Sale". Não acredito que até hoje não postei esse álbum. Hei de corrigir o tiro. Este instrumental foi depois reutilizado pelo Jay Electronica que o ASSASSINOU BARBARAMENTE!
Ora confirmem lá a maldade que o Jay operou neste balanço. Sorry Bilal, this time the award goes to the rap song!
Termino o dia com Blackalicious:
sábado, 22 de setembro de 2012
Sugestões de um leitor
Um mano que acompanha o blog, nick de sua alcunha bloggista, deixou-me um comentário no post do Frank Ocean em que sugere dois vídeos que quero aqui partilhar convosco. O primeiro, o momento sério, de reflexão, de mensagem profunda que ilustra o que sobra de luta no espírito Hip Hop, que tenta resistir aos clichés para os quais o novo-riquismo (ou o sonho de lá chegar), a vanglorização do gangsterismo, a banalização da putaria, empurram toda uma geração de jovens, sobretudo periféricos ou menos abastados financeira/culturalmente. Uma música como infelizmente já se fazem raras neste cenário onde predominam os Lil' Waynes desta vida e vem de alguém por quem já não dava muito, mas que continua a ser um aventureiro, explorador do cosmos musical, cientista pesquisando a sua própria sonoridade/identidade num universo com um magnetismo que arrasta as pessoas para o mesmismo, usando a tentação dos Benjamins. Aqui vai o tema "Bitch Bad" do dreida Lupe Fiasco:
E agora, para relaxar, depois de um momento tão profundo, vai uma gargalhadazita para aliviar:
E agora, para relaxar, depois de um momento tão profundo, vai uma gargalhadazita para aliviar:
Hip Hop Angolano de Intervenção
Quero partilhar com aqueles que acompanham o blog estes dois EPs de Hip Hop de elevada qualidade.
O primeiro é de um mano já estabelecido na cena hip hop nacional, já vem de antigas e longas caminhadas, apesar deste ser apenas o seu segundo EP (que eu tenha conhecimento).
O nome Sanguinário lembra provavelmente um artista horror-core e poderá ser razão de sobra para afastar potenciais ouvintes sem que estes lhe dêm sequer uma chance de um ocasional "play". Enganar-se-ão.
O mano poderá eventualmente reconsiderar o nome pois a violência que este sugere não é veículada no conjunto de palavras e harmonias que constituem a sua música, mas caso decida mantê-lo em detrimento dos ouvintes que nunca o serão pelas razões acima referidas, não será certamente isso que irá afetar a qualidade do material com o qual nos brinda. E oiçam bem, o mano não é o maior liricista de todos os tempos, longe disso, mas a combinação: "escorrega regular + letras acima da média + atitude sincera + instrumentais fodidosos" faz com que isto se torne hip hop angolano que não deixa absolutamente nada a dever à qualquer outra Nação já estabelecida na cena mundial. NADA!
Os instrumentais são definitivamente a sustentação de toda a estrutura desta crítica, extremamente competentes, misturados com mestria, com batidas pesadíssimas de uma cadência viciante metendo os pescoços a abanar involuntariamente. Missão quase exclusivamente a cargo do Kallisto exceto a faixa onde eu bokwei que foi duzida pelo mano Boni.
Infelizmente desta vez o mano já não disponibilizou o mambo gratuitamente, algo que, para mim, coroava o Vol.1 de mais valor na postura anti-comercial, sobretudo sendo este apresentado como uma continuidade.
Os meus temas preferidos sem sombra de dúvida: Religião (com drums pesados e um loop viciante que parece quase satânico); Deixem-nos em Paz (viciante, absolutamente); Dilema (um problema com o qual muitos se confrontam e do qual raramente saiem vitoriosos os valores que indiciem integridade. Mais uma vez, instrumental adequado) e Grande Amor (Remake), um dos instrumentais revelação do EP e uma letra muito sbem também, apesar de algo cliché, sobretudo quando repetido pela 3ª vez num EP com 9 músicas.
Sanguinário confirma solidez, Kallisto impõe-se! GRANDE EP! (Não encontro a capa, quando a tiver substituo a imagem abaixo pela original).
01.Intro
02.Oxigénio pt.2 c. God G
03.Religião (O Lado Negro)
04.Poesia Inédita (Pra Música) c. Kanda
05.Deixem-nos em Paz
06.Graças a ti (Hip Hop) c. Ikonoklasta
07.Skit
09.Dilema
10.Criar com os Ouvidos c. MCK
11.Repetição
12.Outro - Grande Amor (Remake)
Catem o mambo aqui
O Projecto Não Vota, foi metido em marcha por um coletivo de manos do Cacuaco que inclui a 3ª Divisão, MP Crew e os Tiranicídios Verbais, com um objectivo bem pontual que era o de apelar à abstenção nas eleições gerais que tiveram lugar no passado dia 31 de Agosto.
Se tivessemos uma boa equipa de marketeiros brazukas a trabalhar com os miúdos poder-se-ia agora aproveitar os resultados finais (e ainda assim maquilhados) da abstenção e responsabilizar o projeto por boa parte dessa escolha de (não) voto. Slogans como: Quando o Hip Hop configura o país; A nova classe política de Angola; Rap sai em segundo lugar nas eleições angolanas e outros tantos do género, que iriam maravilhar um mundo que se agarra aos títulos quase sem desenvolvimento de raciocínio lógico subsequente para extrapolar uma situação, normalmente mais complexa. Foi o caso da nossa elevada taxa de abstenção (os dados aldrabados da CNE indicam que foram à volta de 37%, mas foram mais), que tem explicações que não vou aqui avaliar, mas que quem quiser poderá tentar entender explorando este site.
Os jovens têm aquele flow de "rap revú" de quem tem muito para dizer e por isso recusa-se obedecer à métrica, ou recorre-se, para fazê-lo, ao mastigar de sílabas que são metralhadas com a eficácia de uma AK-47, mas são percetíveis e dizem coisas com o seu sentido e valor. Essas palavras são valorizadas e elevadas ao estatuto de audíveis por mais um desconhecido produtor, Kid Ground, que prova que no ramo da produção o nosso Hip Hop evoluiu anos-luz mais rápido que todos os outros domínios dessa cultura, incluíndo o Mceeing.
São 3 faixas e as duas primeiras são as minhas prediletas. Saíu bem o refrão da Crucifikem a Tirania: "Nós temos pregos, troncos, martelos e coragem, marchemos para o Palácio do Mal e crucifiquemos a tirania!".
01.Não Vota
02.Crucifikem a Tirania
03.Geração Robotizada
Catem o mambo aqui
O primeiro é de um mano já estabelecido na cena hip hop nacional, já vem de antigas e longas caminhadas, apesar deste ser apenas o seu segundo EP (que eu tenha conhecimento).
Sanguinário - Oxigénio Vol.II EP
Felizmente também uma prova que quantidade não é necessariamente proporcional a qualidade (frequentemente é o inverso) e que a paciência e a persistência são virtudes que se devem cultivar para se atingir patamares de qualidade mais dificilmente questionáveis.O nome Sanguinário lembra provavelmente um artista horror-core e poderá ser razão de sobra para afastar potenciais ouvintes sem que estes lhe dêm sequer uma chance de um ocasional "play". Enganar-se-ão.
O mano poderá eventualmente reconsiderar o nome pois a violência que este sugere não é veículada no conjunto de palavras e harmonias que constituem a sua música, mas caso decida mantê-lo em detrimento dos ouvintes que nunca o serão pelas razões acima referidas, não será certamente isso que irá afetar a qualidade do material com o qual nos brinda. E oiçam bem, o mano não é o maior liricista de todos os tempos, longe disso, mas a combinação: "escorrega regular + letras acima da média + atitude sincera + instrumentais fodidosos" faz com que isto se torne hip hop angolano que não deixa absolutamente nada a dever à qualquer outra Nação já estabelecida na cena mundial. NADA!
Os instrumentais são definitivamente a sustentação de toda a estrutura desta crítica, extremamente competentes, misturados com mestria, com batidas pesadíssimas de uma cadência viciante metendo os pescoços a abanar involuntariamente. Missão quase exclusivamente a cargo do Kallisto exceto a faixa onde eu bokwei que foi duzida pelo mano Boni.
Infelizmente desta vez o mano já não disponibilizou o mambo gratuitamente, algo que, para mim, coroava o Vol.1 de mais valor na postura anti-comercial, sobretudo sendo este apresentado como uma continuidade.
Os meus temas preferidos sem sombra de dúvida: Religião (com drums pesados e um loop viciante que parece quase satânico); Deixem-nos em Paz (viciante, absolutamente); Dilema (um problema com o qual muitos se confrontam e do qual raramente saiem vitoriosos os valores que indiciem integridade. Mais uma vez, instrumental adequado) e Grande Amor (Remake), um dos instrumentais revelação do EP e uma letra muito sbem também, apesar de algo cliché, sobretudo quando repetido pela 3ª vez num EP com 9 músicas.
Sanguinário confirma solidez, Kallisto impõe-se! GRANDE EP! (Não encontro a capa, quando a tiver substituo a imagem abaixo pela original).
01.Intro
02.Oxigénio pt.2 c. God G
03.Religião (O Lado Negro)
04.Poesia Inédita (Pra Música) c. Kanda
05.Deixem-nos em Paz
06.Graças a ti (Hip Hop) c. Ikonoklasta
07.Skit
09.Dilema
10.Criar com os Ouvidos c. MCK
11.Repetição
12.Outro - Grande Amor (Remake)
Catem o mambo aqui
Projecto Não Vota - Projecto Não Vota
O Projecto Não Vota, foi metido em marcha por um coletivo de manos do Cacuaco que inclui a 3ª Divisão, MP Crew e os Tiranicídios Verbais, com um objectivo bem pontual que era o de apelar à abstenção nas eleições gerais que tiveram lugar no passado dia 31 de Agosto.
Se tivessemos uma boa equipa de marketeiros brazukas a trabalhar com os miúdos poder-se-ia agora aproveitar os resultados finais (e ainda assim maquilhados) da abstenção e responsabilizar o projeto por boa parte dessa escolha de (não) voto. Slogans como: Quando o Hip Hop configura o país; A nova classe política de Angola; Rap sai em segundo lugar nas eleições angolanas e outros tantos do género, que iriam maravilhar um mundo que se agarra aos títulos quase sem desenvolvimento de raciocínio lógico subsequente para extrapolar uma situação, normalmente mais complexa. Foi o caso da nossa elevada taxa de abstenção (os dados aldrabados da CNE indicam que foram à volta de 37%, mas foram mais), que tem explicações que não vou aqui avaliar, mas que quem quiser poderá tentar entender explorando este site.
Os jovens têm aquele flow de "rap revú" de quem tem muito para dizer e por isso recusa-se obedecer à métrica, ou recorre-se, para fazê-lo, ao mastigar de sílabas que são metralhadas com a eficácia de uma AK-47, mas são percetíveis e dizem coisas com o seu sentido e valor. Essas palavras são valorizadas e elevadas ao estatuto de audíveis por mais um desconhecido produtor, Kid Ground, que prova que no ramo da produção o nosso Hip Hop evoluiu anos-luz mais rápido que todos os outros domínios dessa cultura, incluíndo o Mceeing.
São 3 faixas e as duas primeiras são as minhas prediletas. Saíu bem o refrão da Crucifikem a Tirania: "Nós temos pregos, troncos, martelos e coragem, marchemos para o Palácio do Mal e crucifiquemos a tirania!".
01.Não Vota
02.Crucifikem a Tirania
03.Geração Robotizada
Catem o mambo aqui
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Frank Ocean - Channel Orange
Há muitos anos que deixei de gostar de R&B. Na verdade, acho que nunca gostei verdadeiramente do género senão de alguns trechos de alguns artistas, sobretudo quando tivessem uma sonoridade mais aproximada a do hip hop nova iorquino, com instrumentais pesados e participações dos meus então rappers preferidos, tipo malta da Wu, Def Squad, Hit Squad, ou produções do DJ Premier, enfim, os "pesados".
Dificilmente digeria um álbum completo da Mary J. Blige, para começar mesmo já pela mboa que chamam de "Rainha do R&B", Faith Evans, Usher, R. Kelly. Simplesmente não escorregava, parecia forçado, romance de xarope. Todos esses artistas sempre me deram a ideia que gostariam de ter "coragem" de ser Lil' Kim e Ol' Dirty Bastard, irreverentes e despudorados, mas optavam por criar uma imagem de amorosos sedutores, corações de manteiga chorando desalmadamente diante de filmes românticos. Vendia mais e, por sorte, tinham o talento vocal que nem a Kim, nem o ODB certamente possuíam, pelo menos não antes do Auto-tune permitir que tubos de escape enferrujados se tornassem rouxinóis na primavera.
Não comparemos jamais o R&B com o Soul, ou o que se veio recentemente a chamar de Neo-Soul. O Musiq Soulchild dos primórdios, Jill Scott, Erykah Badu, Raphael Saadiq e o monstruoso D'Angelo, são outra liga, a nunca misturar com nomes tipo SWV. Por favor!
Eis que aparece este rapaz. Fui lendo o nome dele varias vezes no hiphopsite.com, um site onde vou escutar as novidades do momento e manter-me atualizado nas novas tendências do hip hop. Um dia, deu-me curiosidade, até porque ele vem da mesma crew que o Tyler the Creator, então apertei no play e escutei um sonoro. "Wau! Isto é... mmmhh... surpreendentemente fresco! É R&B mas... mmmhh... como posso explicar isto? Mmhhh, não sei, acho que simplesmente gosto!"
Baixei o som e a partir daí fiquei atento. Quando o segundo som foi disponibilizado, ouvi, gostei ainda mais e deixei de achar que tinha sido um feliz acidente, que o miúdo era para levar a sério.
Depois vem a demonstração de tomates e caráter: o mano assume publicamente que o seu primeiro amor... foi um homem! Isto num meio altamente xenófobo e misógino como é o hip hop, onde muitos artistas se referem às mulheres como putas ou vacas e onde o termo "fag" é frequentemente empregue nas tradicionais batalhas, buscando humilhar o adversário. Isso fez-me perceber que estaria perante alguém que leva a sério o que faz, que não é mais um segue-modas e caça dólares, que é franco, sincero, aberto e entendi melhor porque gostei logo à partida: o tal elemento que só se SENTE, que não está na qualidade das letras ou dos instrumentais, a profundidade, o sentimento, a entrega na interpretação, algo que só pode sair das profundezas da alma, empurradas pelo palpitar do coração. É isso que faz com que os géneros deixem de importar, que a música assuma o papel que deveria ter sempre caso não se compartimentalizasse com a industrialização, tornando-se transversal e "reinventando a roda" a cada nova etapa percorrida, sendo músicos como este rapaz que criam os marcos no caminho.
O disco está absolutamente delicioso, recomenda-se fervorosamente e só desejo que esta pureza não se perca na inevitabilidade do sucesso que lhe espera e que, aliás, já começou. Difícil será manter-se inspirado e inspirador, mas que teve um excelente arranque, ai isso é que teve.
Senhoras e senhores:
01 Start
02 Thinkin Bout You
03 Fertilizer
04 Sierra Leone
05 Sweet Life
06 Not Just Money
07 Super Rich Kids (f. Earl Sweatshirt)
08 Pilot Jones
09 Crack Rock
10 Pyramids
11 Lost
12 White (f. John Mayer)
13 Monks
14 Bad Religion
15 Pink Matter (f. André 3000)
16 Forrest Gump
17 End
O brada usou para teaser o meu som preferido do disco até agora:
Catem o biznu nos comentários antes que a Def Jam apague o link
Dificilmente digeria um álbum completo da Mary J. Blige, para começar mesmo já pela mboa que chamam de "Rainha do R&B", Faith Evans, Usher, R. Kelly. Simplesmente não escorregava, parecia forçado, romance de xarope. Todos esses artistas sempre me deram a ideia que gostariam de ter "coragem" de ser Lil' Kim e Ol' Dirty Bastard, irreverentes e despudorados, mas optavam por criar uma imagem de amorosos sedutores, corações de manteiga chorando desalmadamente diante de filmes românticos. Vendia mais e, por sorte, tinham o talento vocal que nem a Kim, nem o ODB certamente possuíam, pelo menos não antes do Auto-tune permitir que tubos de escape enferrujados se tornassem rouxinóis na primavera.
Não comparemos jamais o R&B com o Soul, ou o que se veio recentemente a chamar de Neo-Soul. O Musiq Soulchild dos primórdios, Jill Scott, Erykah Badu, Raphael Saadiq e o monstruoso D'Angelo, são outra liga, a nunca misturar com nomes tipo SWV. Por favor!
Eis que aparece este rapaz. Fui lendo o nome dele varias vezes no hiphopsite.com, um site onde vou escutar as novidades do momento e manter-me atualizado nas novas tendências do hip hop. Um dia, deu-me curiosidade, até porque ele vem da mesma crew que o Tyler the Creator, então apertei no play e escutei um sonoro. "Wau! Isto é... mmmhh... surpreendentemente fresco! É R&B mas... mmmhh... como posso explicar isto? Mmhhh, não sei, acho que simplesmente gosto!"
Baixei o som e a partir daí fiquei atento. Quando o segundo som foi disponibilizado, ouvi, gostei ainda mais e deixei de achar que tinha sido um feliz acidente, que o miúdo era para levar a sério.
Depois vem a demonstração de tomates e caráter: o mano assume publicamente que o seu primeiro amor... foi um homem! Isto num meio altamente xenófobo e misógino como é o hip hop, onde muitos artistas se referem às mulheres como putas ou vacas e onde o termo "fag" é frequentemente empregue nas tradicionais batalhas, buscando humilhar o adversário. Isso fez-me perceber que estaria perante alguém que leva a sério o que faz, que não é mais um segue-modas e caça dólares, que é franco, sincero, aberto e entendi melhor porque gostei logo à partida: o tal elemento que só se SENTE, que não está na qualidade das letras ou dos instrumentais, a profundidade, o sentimento, a entrega na interpretação, algo que só pode sair das profundezas da alma, empurradas pelo palpitar do coração. É isso que faz com que os géneros deixem de importar, que a música assuma o papel que deveria ter sempre caso não se compartimentalizasse com a industrialização, tornando-se transversal e "reinventando a roda" a cada nova etapa percorrida, sendo músicos como este rapaz que criam os marcos no caminho.
O disco está absolutamente delicioso, recomenda-se fervorosamente e só desejo que esta pureza não se perca na inevitabilidade do sucesso que lhe espera e que, aliás, já começou. Difícil será manter-se inspirado e inspirador, mas que teve um excelente arranque, ai isso é que teve.
Senhoras e senhores:
01 Start
02 Thinkin Bout You
03 Fertilizer
04 Sierra Leone
05 Sweet Life
06 Not Just Money
07 Super Rich Kids (f. Earl Sweatshirt)
08 Pilot Jones
09 Crack Rock
10 Pyramids
11 Lost
12 White (f. John Mayer)
13 Monks
14 Bad Religion
15 Pink Matter (f. André 3000)
16 Forrest Gump
17 End
O brada usou para teaser o meu som preferido do disco até agora:
Catem o biznu nos comentários antes que a Def Jam apague o link
terça-feira, 24 de julho de 2012
VA - Rio Loco 2012 - Lusofonia
O festival Rio Loco teve este ano o tema "Lusofonia", dedicado à memória da Diva-dos-pés-descalços, Cesária Évora. Tive o privilégio de lá estar com o coletivo Batida, do qual faço parte. Aconteceu apenas alguns dias após um episódio complicado na minha vida e foi uma autêntica lavagem de alma.
Foi também fixe porque eles levam a coisa muito a sério e têm prazer de a fazer bem feita, mais do que para preencher calendário. Vinte minutos depois de sairmos do palco, tínhamos um DVD da atuação pronto, tínhamos até direito a um quiroprático, sem falar no cenário idílico à beira-rio e do manjar soberbo no recinto do festival.
Mas não foi para falar do festival que decidi fazer este post. Fi-lo porque, para se promover o festival na cidade de Toulouse, fizeram uma compilação com alguns dos cabeças-de-cartaz que iam estar presentes e ficou tão sumarento que achei que devia partilhá-lo aqui com quem queira viajar um pouco pelos ritmos africanos, brasileiros e portugueses que convergiram para este evento, reviver alguns momentos e descobrir talentos que anda a adiar para mais tarde, depois daquele álbum estrangeiro que tem sempre lugar preponderante na fila de espera. Eu próprio adiei durante muito tempo o empréstimo devido aos meus ouvidos de António Zambujo e acho que agora vou tentar me retratar, pois foi sem dúvida uma das mais agradáveis surpresas para mim. A compilação tem mais momentos altos que baixos, sendo para mim dignos de nota os incontornáveis Ferro Gaita, o grupo do kota Zé Manel chamado Super Mama Djombo, a deliciosa Nancy Vieira, o nosso Conjunto Angola 70. Na verdade, acho que só há uma música que eu salto e, ironicamente, é o único rap que aqui está, do Zé Brown. Tirando isso, é um disco muito agradável e que pode facilmente se deixar de música de fundo em loop.
01.Cesária Évora - Ligereza
02.Batida - Tirei o Chapéu
03.Nancy Vieira - Ninguém é di Ninguém
04.Paulo Flores - Caboledo
05.Madredeus - A Estrada da Montanha
06.Ferro Gaita - Ferro Gaita
07.Super Mama Djombo - Guiné-Cabral
08.Lenine - Tudo Que Me Falta, Nada Que Me Sobra
09.Custódio Castelo - Tempus
10.Conjunto Angola 70 - Farra na Madrugada
11.Zé Brown - Perito em Rima
12.Morelenbaum, De Holanda, Suzano - Canto de Ossanha (Live)
13.António Zambujo - Flagrante
14.Bambas Dois (BiD) - World Cry (Al Faya Mix) feat. Jesse Royal e Karina Buhr
Catem o mambo aqui
Foi também fixe porque eles levam a coisa muito a sério e têm prazer de a fazer bem feita, mais do que para preencher calendário. Vinte minutos depois de sairmos do palco, tínhamos um DVD da atuação pronto, tínhamos até direito a um quiroprático, sem falar no cenário idílico à beira-rio e do manjar soberbo no recinto do festival.
Mas não foi para falar do festival que decidi fazer este post. Fi-lo porque, para se promover o festival na cidade de Toulouse, fizeram uma compilação com alguns dos cabeças-de-cartaz que iam estar presentes e ficou tão sumarento que achei que devia partilhá-lo aqui com quem queira viajar um pouco pelos ritmos africanos, brasileiros e portugueses que convergiram para este evento, reviver alguns momentos e descobrir talentos que anda a adiar para mais tarde, depois daquele álbum estrangeiro que tem sempre lugar preponderante na fila de espera. Eu próprio adiei durante muito tempo o empréstimo devido aos meus ouvidos de António Zambujo e acho que agora vou tentar me retratar, pois foi sem dúvida uma das mais agradáveis surpresas para mim. A compilação tem mais momentos altos que baixos, sendo para mim dignos de nota os incontornáveis Ferro Gaita, o grupo do kota Zé Manel chamado Super Mama Djombo, a deliciosa Nancy Vieira, o nosso Conjunto Angola 70. Na verdade, acho que só há uma música que eu salto e, ironicamente, é o único rap que aqui está, do Zé Brown. Tirando isso, é um disco muito agradável e que pode facilmente se deixar de música de fundo em loop.
01.Cesária Évora - Ligereza
02.Batida - Tirei o Chapéu
03.Nancy Vieira - Ninguém é di Ninguém
04.Paulo Flores - Caboledo
05.Madredeus - A Estrada da Montanha
06.Ferro Gaita - Ferro Gaita
07.Super Mama Djombo - Guiné-Cabral
08.Lenine - Tudo Que Me Falta, Nada Que Me Sobra
09.Custódio Castelo - Tempus
10.Conjunto Angola 70 - Farra na Madrugada
11.Zé Brown - Perito em Rima
12.Morelenbaum, De Holanda, Suzano - Canto de Ossanha (Live)
13.António Zambujo - Flagrante
14.Bambas Dois (BiD) - World Cry (Al Faya Mix) feat. Jesse Royal e Karina Buhr
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segunda-feira, 23 de julho de 2012
André Mingas - É Luanda
Espaçados de 20 anos saíram os dois únicos álbuns da autoria de André Mingas. O primeiro, Coisas da Vida, foi, na altura, uma lufada de ar fresco para a música angolana um pouco "desinspirada" depois da fase 61-77, onde muitos músicos pereceram dado o clima de intolerância vigente, tendo os outros sucumbido ao medo ou ao conformismo, contentando-se em fazer "música de farra, para animar a malta", como se a sua missão artística tivesse sido atomizada ao papel mais do que redutor de "distração para esquecer as malambas da vida". O Coisas da Vida (já aqui colocado por duas vezes) vem tirar-nos da mesmice do semba e kizomba, para descomplexadamente abraçar influências afro-jazzísticas, com uma forte veia Djavanesca, criando algures no meio uma doce, única, nova sonoridade angolana. Um disco irradiando boas energias e uma esperança contagiante, quando ainda era jovem, vigoroso e (parece que excessivamente) viril.
É Luanda é um disco que, na senda do primeiro, acaba por parecer pouco mais que uma versão deste, com mais experiência, mais arranjos, mais polido, mais consistente, mas também menos expansivo, mais comedido, muito contido, quase que parecendo que mais preocupado em mostrar que dominava a sua arte com mestria, do que em divertir-se no processo com a forma apaixonada e descomprometida de outrora. Versão mais adulta, com tudo o que isso acarreta, a sublimação na técnica lírica, mas simultaneamente, a condescendência e a monotonia maçante.
Não quero tirar nada ao álbum, é lindo, mas sinceramente, esperava um pouco mais de arrojo e modernidade por parte de um homem vanguardista como o André era.
O álbum começa em alta rotação com o tema que analisa a ligação centenária Angola-Bahia, cujos resultados são tão evidentes, que para observá-los se prescinde de microscópio. Uma música fixe para arranhar a superfície dessa relação iniciada com o comércio triangular, muito mais ficou por dizer, incluindo itens óbvios como a capoeira e o samba.
O Tons de Azul ainda consigo tolerar no limite, apesar de achar muito a onda do Djavan que me foi cansando ao longo dos anos, já o Minha Doce Mulher passa das marcas, muito Emílio Santiago a quem reconheço o valor, mas não consigo apreciar, não escorrega.
Não percebi a ideia de remisturar um clássico 20 anos depois sem o transfigurar. Falo obviamente do O Que Eu Quero. Parece simplesmente uma versão de palco, não me parece digna de vir fazer upgrade da pérola do Coisas da Vida. Eu salto essa música, ainda que conserve a beleza estética e a musicalidade de extremo bom-gosto a que nos habituou o kota Mingas, mas fica tipo comer o prato principal depois da sobremesa.
Marina é talvez o meu tema preferido. Gosto mais destas histórias assim com as quais consigo me identificar, que de uma assentada só faz crítica social e política. Só tenho pena que, sendo o único tema deste género, se opte pela fácil opção de cascar nas mboas que, vítimas de um mundo machista e vergando-se às suas regras, tomam opções ruinosas que em nada lhes abonam.
O último dos temas monumentais deste disco é o Miles, Mary e Liceu, obviamente um ode a três das suas grandes influências: Miles Davis, Mary (?? - confesso que não estou a deslindar quem seja esta Maria, qualquer ajuda será bem-vinda) e Liceu Vieira Dias. Grande refrão, muito forte, muito emocionante.
Resta-me lamentar que alguém tão talentoso tenha deixado um espólio musical tão parco, ao todo menos de 20 temas originais, mas, que gostosos que são, que petiscos para os tímpanos, mas, sobretudo, para o coração e para a alma.
Obrigado kota André, deixaste o mundo mais rico com a tua passagem.
01. É Luanda
02. Tons De Azul
03. Minha Doce Mulher
04. O Que Eu Quero
05. Nudez
06. Marina
07. Bombons
08. Cio
09. Por Amor
10. Miles, Mary E Liceu
11. Paxi Ni N'gongo
Biznei o link do Angomúsicas por isso vos encaminho para o catarem lá
É Luanda é um disco que, na senda do primeiro, acaba por parecer pouco mais que uma versão deste, com mais experiência, mais arranjos, mais polido, mais consistente, mas também menos expansivo, mais comedido, muito contido, quase que parecendo que mais preocupado em mostrar que dominava a sua arte com mestria, do que em divertir-se no processo com a forma apaixonada e descomprometida de outrora. Versão mais adulta, com tudo o que isso acarreta, a sublimação na técnica lírica, mas simultaneamente, a condescendência e a monotonia maçante.
Não quero tirar nada ao álbum, é lindo, mas sinceramente, esperava um pouco mais de arrojo e modernidade por parte de um homem vanguardista como o André era.
O álbum começa em alta rotação com o tema que analisa a ligação centenária Angola-Bahia, cujos resultados são tão evidentes, que para observá-los se prescinde de microscópio. Uma música fixe para arranhar a superfície dessa relação iniciada com o comércio triangular, muito mais ficou por dizer, incluindo itens óbvios como a capoeira e o samba.
O Tons de Azul ainda consigo tolerar no limite, apesar de achar muito a onda do Djavan que me foi cansando ao longo dos anos, já o Minha Doce Mulher passa das marcas, muito Emílio Santiago a quem reconheço o valor, mas não consigo apreciar, não escorrega.
Não percebi a ideia de remisturar um clássico 20 anos depois sem o transfigurar. Falo obviamente do O Que Eu Quero. Parece simplesmente uma versão de palco, não me parece digna de vir fazer upgrade da pérola do Coisas da Vida. Eu salto essa música, ainda que conserve a beleza estética e a musicalidade de extremo bom-gosto a que nos habituou o kota Mingas, mas fica tipo comer o prato principal depois da sobremesa.
Marina é talvez o meu tema preferido. Gosto mais destas histórias assim com as quais consigo me identificar, que de uma assentada só faz crítica social e política. Só tenho pena que, sendo o único tema deste género, se opte pela fácil opção de cascar nas mboas que, vítimas de um mundo machista e vergando-se às suas regras, tomam opções ruinosas que em nada lhes abonam.
O último dos temas monumentais deste disco é o Miles, Mary e Liceu, obviamente um ode a três das suas grandes influências: Miles Davis, Mary (?? - confesso que não estou a deslindar quem seja esta Maria, qualquer ajuda será bem-vinda) e Liceu Vieira Dias. Grande refrão, muito forte, muito emocionante.
Resta-me lamentar que alguém tão talentoso tenha deixado um espólio musical tão parco, ao todo menos de 20 temas originais, mas, que gostosos que são, que petiscos para os tímpanos, mas, sobretudo, para o coração e para a alma.
Obrigado kota André, deixaste o mundo mais rico com a tua passagem.
01. É Luanda
02. Tons De Azul
03. Minha Doce Mulher
04. O Que Eu Quero
05. Nudez
06. Marina
07. Bombons
08. Cio
09. Por Amor
10. Miles, Mary E Liceu
11. Paxi Ni N'gongo
Biznei o link do Angomúsicas por isso vos encaminho para o catarem lá
domingo, 22 de julho de 2012
Batucando na água
O ser humano é capaz de coisas fantásticas quando age em harmonia. Foi o meu avilo Cabuenha que me mostrou este vídeo. Simplesmente WAU!
terça-feira, 3 de julho de 2012
Danny Brown - Grown Up
O Danny é um desses novos putos do hip hop yankee que tem aparecido bwé ao longo do último ano. Até agora tem conseguido manter a sua diferença e irreverência, mas já se sabe né? Este tema não é fabuloso, tem a atmosfera sonora recriada do Can I Kick It (não parece ser sample, mas dá quase no mesmo), o que é sempre meio passo andado para uma música soar bem e, por isso mesmo, batota! Mas eu partilho isto não pela música em si, mas pelo vídeo FANTÁSTICO. O puto que representa o Danny está simplesmente fenomenal, já com perfeita noção de imitação detalhada da "atitude arrogante" típica do rapper. Altamente.
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Ângela Ferrão - Wanga
A música (aparentemente sobre uma mãe desesperada que perde o filho) é linda e emocionante, uma das melhores do disco da Ângela, que se destaca por não embarcar em facilitismos comerciais das Yolas desta vida que são autênticos desperdícios de talento. O vídeo é humilde mas isso não me incomoda, o que me incomoda mesmo foi ela ter aceite aquela caracterização de Mamã Kuíba que não lhe assentou nada bem.
sábado, 30 de junho de 2012
Tumi and The Volume - Asinamali
Sou fã deste mano Tumi desde que ouvi o tema Bus Stop Confessions, do primeiro álbum dele. Não me lembro se alguma vez partilhei aqui a dika do wí, mas se não o fiz, podem me apedrejar. Dois dos brothers que integram a banda (a parte "Volume" do nome) são elementos da minha mui adorada banda moçambicana 340ml. Este tema é o primeiro single do terceiro álbum: Pick a Dream, que estará na forja.
quinta-feira, 21 de junho de 2012
Cláudio Silva e o seu podcast mwangolê
O mano do Caipirinha Lounge duziu um podcast para um projeto interessante chamado zarpante que tenciona ser uma plataforma de divulgação dentro das possibilidades (e as possibilidades aumentam quanto mais pessoas aderem) da cultura lusófona, fazendo mais do que conectar ciberneticamente as pessoas, enfiando a mão na massa em coisas concretas. Vejam o site para terem uma ideia. Entretanto, aqui vai o podcast preparado pelo mano Cláudio que falava baixo num tom Barry White para não incomodar os vizinhos.
domingo, 13 de maio de 2012
Ngola Ritmos re-up!
Só há uns dias dei conta de dois comentários antigos que pediam o re-upload dos discos dos Ngola Ritmos e só hoje consegui fazê-lo. Estes links expiram eventualmente, por isso, aproveitem a boleia deste post que vai especialmente parar o Bast [LF] e para o Luíz Loureiro.
Eu compilei os 5 discos num só para facilitar o upload e aqui está ele.
Caso queiram referir-se ao post original, aqui o têm
Eu compilei os 5 discos num só para facilitar o upload e aqui está ele.
Caso queiram referir-se ao post original, aqui o têm
Genesis the Greykid - A Thought
O papel do Hip Hop na minha vida pode se resumir em músicas como esta. Sublime!
quarta-feira, 9 de maio de 2012
Nástio Mosquito - Bebi, Beberei Bebendo
O nosso artista fora-de-formato, irreverente, inovador ao ponto de vanguarda, impossível (para já) de rotular, insurrecto na sua liberdade, é um artista que, mesmo que não nos deslumbre com a sua arte, somos forçados a apreciar pela sua audácia, pela sua informalidade, pela irreverência, que deviam ser todos, ingredientes de QUALQUER artista. Neste universo de cópias de papel químico e de uma aborrecidíssima mesmice, o Nástio consegue conservar muito desse espírito que me vai lembrando do que a arte DEVERIA de facto ser: um permanente desafio aos limites dos nossos (pre)conceitos!
Este novo som dele é profundo, mesmo que ele o aborde com o seu estilo displicente e despretensioso, mantendo aquele ar de desafiador de quem normalmente encara as pessoas nos olhos sem piscar, confiante nas suas ideias e posições. Ele aborda assuntos intímos como se tivesse a falar de pão com Nutella, fazendo tábua-rasa em relação ao seu parentesco, colocando a pouca exposição que finalmente começa a ser-lhe concedida no fio-da-navalha, ameaçando os radialistas que "se pede com-licença foi por ter sido educado assim, mas que não está a pedir permissão, que se não lha derem ele entra na mesma e ocupa o seu espaço", com um palavreado intenso e inteligente para seu próprio infortúnio, pois só será descodificado por um punhado de "iluminados privilegiados" que provavelmente nem sequer irão simpatizar com os seus posicionamentos. Nota de apreço também para o Kennedy, produtor de Hip Hop (Cérebro Records) mostrando que a música está sempre a espera de ser inventada.Vale MESMO a pena, se conseguirem se despir dos preconceitos amontoados pelos vossos ouvidos e permitir que sejam penetrados por uma sonoridade nova, ainda que vos pareça estranha. Oiçam a letra!
Este novo som dele é profundo, mesmo que ele o aborde com o seu estilo displicente e despretensioso, mantendo aquele ar de desafiador de quem normalmente encara as pessoas nos olhos sem piscar, confiante nas suas ideias e posições. Ele aborda assuntos intímos como se tivesse a falar de pão com Nutella, fazendo tábua-rasa em relação ao seu parentesco, colocando a pouca exposição que finalmente começa a ser-lhe concedida no fio-da-navalha, ameaçando os radialistas que "se pede com-licença foi por ter sido educado assim, mas que não está a pedir permissão, que se não lha derem ele entra na mesma e ocupa o seu espaço", com um palavreado intenso e inteligente para seu próprio infortúnio, pois só será descodificado por um punhado de "iluminados privilegiados" que provavelmente nem sequer irão simpatizar com os seus posicionamentos. Nota de apreço também para o Kennedy, produtor de Hip Hop (Cérebro Records) mostrando que a música está sempre a espera de ser inventada.Vale MESMO a pena, se conseguirem se despir dos preconceitos amontoados pelos vossos ouvidos e permitir que sejam penetrados por uma sonoridade nova, ainda que vos pareça estranha. Oiçam a letra!
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Fatoumata Diawara - Bakonoba e Bissa
Grandas sonoros dessa maliana. Não faço ideia do que diz mas kuya dê mili. A música maliana tem muitos talentos destes e o álbum desta "menina" de 30 anos vale mesmo a pena ouvir. Confirmem só a doçura na voz
Bruno M - Batida Únika Vol.2
Estou completamente siderado por este disco. Há muito tempo dei uma pausa no kuduro que, para mim, se tornou monótono e, consequentemente, aborrecido. Parecia tudo igual, o pessoal a desistir de inventar e a quererem se copiar subindo no comboio dos mambos que pegam, os auto-tunes, os instrumentais mais sintetizados, a tendência para o afro-house e o kulove, as letras desprovidas de humor, denúncia ou reivindicação e tendendo à celebração do superficial, do fútil, do efémero. Tem piada durante um tempo, mas eventualmente satura.
(Re) Enter Bruno M, o kudurista que sempre fez a diferença, sendo sólido nas rimas, nos instrus e quando está mesmo on-fire, em ambos. Sempre foi para mim o kudurista mais consequente, não fazendo sons a levantar bandeiras de partidos (coisa que outro dos meus grupos preferidos, os Kalunga Mata fizeram sem pudores), mostrando sempre um nível de inteligência na execução praticamente irrepreensível. Não gostava de tudo no Bruno. Nos seus momentos menos impressionantes ele engrossava só o coro de rimas de gabarolice e estiga/bife e alguns desses sons também levaram FFWD. Mas o Bruno sempre revelou uma preocupação em incluir rimas conscientes nos seus sons, às vezes disfarçadas no meio das outras "normais", outras vezes descaradas e desgarradas, como o meu verso preferido do tema Dança da Tropa, que no entanto só chega no 3º minuto, depois de outras rimas "normais": "Nesta cidade, reina a escassez de oportunidades. Na faculdade paga-se sempre, é uma realidade e outros enchem CV em cadeias. Vidas alheias colam em teias, marginais com caras de playas. Olho o mundo que me rodeia, cada tristeza é uma ideia..." e continua, este verso é poderoso até ao fim e meteu-me "em sentido" sempre que fosse ouvir um tema novo do Bruno M.
Mas este disco supera todas as expectativas. É absolutamente incrível, o nascimento de uma identidade inequivocamente consciente, a demarcação de uma corrente no kuduro como foi quando, nos idos anos de 1982 e no longínquo bairro do Brooklyn, Grandmaster Flash & The Furious Five introduziram indelevelmente com o tema "The Message" o elemento consciência na música Hip Hop, até aí, também ele uma mera celebração permanente da vida.
Fica difícil escolher que linhas citar para vos exemplificar a assunção de kudurista consciente a tempo inteiro do Bruno M (apesar do brother dizer que este é o último álbum que faz), mas se calhar vou pegar exclusivamente no meu tema preferido até agora, o "Por Cada Lágrima": "Imagina se fosse tua a família que está na rua, o mendigo que está na estrada sem abrigo e sem morada, a criança que pede esmola, quando devia estar na escola, mas como ir para escola com fome e sede? Ela não te rouba mas pede, mesmo assim, sem um pouco de amor, só lhes dás frustração e mais dor", mais esta "...mas o poder não tem paradeiro, hoje está contigo, amanhã connosco. Sou sincero comigo mesmo e verdadeiro para convosco. Quando a água do rio seca, quando o velho fica careca, há muita história por se contar, tenho alguns motivos para rir, mas outros tantos pra lagrimar", ou ainda "A culpa também é daqueles que ensinaram-nos que as nossas necessidades falam mais alto que a moral. Somos todos necessitados, será que ainda temos moral? Eu dedico essa canção para todos os angolanos que não trocam a moral pelo pão". FODA-SE, PUTA KIA PARIU, TÁ TUDO DITO! Este álbum é uma jóia e tem de estar na coleção pois será uma referência quando daqui a 30 anos se olhar para a história da música de Angola e ficarão envergonhados aqueles que, pelo menos, não puderem dizer: Sim, lembro-me, mas não gostava muito. Há que conhecer este disco.
Se tiver alguma coisa a apontar é que, desta vez, parece que o homem fez tudo sozinho e se alguns instrumentais conseguem rebentar tudo, outros ficam a dever saldo às letras, ficando um pouco aquém do endiabrado ritmo do kuduro. Um dos instrumentais mais bem conseguidos para mim é o do Azubayo, não sendo dos temas mais conscientes, tem também uma força desgraçada porque é um daqueles exercícios em que o Bruno gosta de exibir o seu talento de MC rimando a estrofe inteira com a mesma terminação. Outros instrumentais são menos impressionantes e menos "catchy", dependendo os sons das suas rimas para vingarem.
Para mim, o melhor álbum de kuduro de sempre. A fasquia está elevada, esperemos que a partir de agora outros Bruno M se revelem (Rei Panda o papoite, confirma, nu maya), que isto não seja coisa de um único MC, que nasça realmente a corrente consciente dentro do kuduro, que diga-se, estava mesmo a pedir uma sacudidela.
01. Entrevista
02. Má feat. Puto Prata
03. Aka Mba feat. Marcos Dacoco
04. Azubayo
05. Vamos Aonde
06. Da Gazela feat. Game Walla
07. Yuki
08. Não me Leve A Mal
09. Dança dos Comba
10. Rotina
11. Takule Kuya
12. Por Cada Lágrima (Intro)
13. Por Cada Lágrima
14. Anda, Para
15. Ewé
16. Dicas
Tou a biznar o link do AngoMúsicas por isso credito-os enviando-os para catarem o mambo lá
(Re) Enter Bruno M, o kudurista que sempre fez a diferença, sendo sólido nas rimas, nos instrus e quando está mesmo on-fire, em ambos. Sempre foi para mim o kudurista mais consequente, não fazendo sons a levantar bandeiras de partidos (coisa que outro dos meus grupos preferidos, os Kalunga Mata fizeram sem pudores), mostrando sempre um nível de inteligência na execução praticamente irrepreensível. Não gostava de tudo no Bruno. Nos seus momentos menos impressionantes ele engrossava só o coro de rimas de gabarolice e estiga/bife e alguns desses sons também levaram FFWD. Mas o Bruno sempre revelou uma preocupação em incluir rimas conscientes nos seus sons, às vezes disfarçadas no meio das outras "normais", outras vezes descaradas e desgarradas, como o meu verso preferido do tema Dança da Tropa, que no entanto só chega no 3º minuto, depois de outras rimas "normais": "Nesta cidade, reina a escassez de oportunidades. Na faculdade paga-se sempre, é uma realidade e outros enchem CV em cadeias. Vidas alheias colam em teias, marginais com caras de playas. Olho o mundo que me rodeia, cada tristeza é uma ideia..." e continua, este verso é poderoso até ao fim e meteu-me "em sentido" sempre que fosse ouvir um tema novo do Bruno M.
Mas este disco supera todas as expectativas. É absolutamente incrível, o nascimento de uma identidade inequivocamente consciente, a demarcação de uma corrente no kuduro como foi quando, nos idos anos de 1982 e no longínquo bairro do Brooklyn, Grandmaster Flash & The Furious Five introduziram indelevelmente com o tema "The Message" o elemento consciência na música Hip Hop, até aí, também ele uma mera celebração permanente da vida.
Fica difícil escolher que linhas citar para vos exemplificar a assunção de kudurista consciente a tempo inteiro do Bruno M (apesar do brother dizer que este é o último álbum que faz), mas se calhar vou pegar exclusivamente no meu tema preferido até agora, o "Por Cada Lágrima": "Imagina se fosse tua a família que está na rua, o mendigo que está na estrada sem abrigo e sem morada, a criança que pede esmola, quando devia estar na escola, mas como ir para escola com fome e sede? Ela não te rouba mas pede, mesmo assim, sem um pouco de amor, só lhes dás frustração e mais dor", mais esta "...mas o poder não tem paradeiro, hoje está contigo, amanhã connosco. Sou sincero comigo mesmo e verdadeiro para convosco. Quando a água do rio seca, quando o velho fica careca, há muita história por se contar, tenho alguns motivos para rir, mas outros tantos pra lagrimar", ou ainda "A culpa também é daqueles que ensinaram-nos que as nossas necessidades falam mais alto que a moral. Somos todos necessitados, será que ainda temos moral? Eu dedico essa canção para todos os angolanos que não trocam a moral pelo pão". FODA-SE, PUTA KIA PARIU, TÁ TUDO DITO! Este álbum é uma jóia e tem de estar na coleção pois será uma referência quando daqui a 30 anos se olhar para a história da música de Angola e ficarão envergonhados aqueles que, pelo menos, não puderem dizer: Sim, lembro-me, mas não gostava muito. Há que conhecer este disco.
Se tiver alguma coisa a apontar é que, desta vez, parece que o homem fez tudo sozinho e se alguns instrumentais conseguem rebentar tudo, outros ficam a dever saldo às letras, ficando um pouco aquém do endiabrado ritmo do kuduro. Um dos instrumentais mais bem conseguidos para mim é o do Azubayo, não sendo dos temas mais conscientes, tem também uma força desgraçada porque é um daqueles exercícios em que o Bruno gosta de exibir o seu talento de MC rimando a estrofe inteira com a mesma terminação. Outros instrumentais são menos impressionantes e menos "catchy", dependendo os sons das suas rimas para vingarem.
Para mim, o melhor álbum de kuduro de sempre. A fasquia está elevada, esperemos que a partir de agora outros Bruno M se revelem (Rei Panda o papoite, confirma, nu maya), que isto não seja coisa de um único MC, que nasça realmente a corrente consciente dentro do kuduro, que diga-se, estava mesmo a pedir uma sacudidela.
01. Entrevista
02. Má feat. Puto Prata
03. Aka Mba feat. Marcos Dacoco
04. Azubayo
05. Vamos Aonde
06. Da Gazela feat. Game Walla
07. Yuki
08. Não me Leve A Mal
09. Dança dos Comba
10. Rotina
11. Takule Kuya
12. Por Cada Lágrima (Intro)
13. Por Cada Lágrima
14. Anda, Para
15. Ewé
16. Dicas
Tou a biznar o link do AngoMúsicas por isso credito-os enviando-os para catarem o mambo lá
sábado, 31 de março de 2012
sexta-feira, 2 de março de 2012
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
The Roots - Ain't Gonna Let Nobody Turn me Around
Xêeeeee o Black Thought também sabe cantar assim afinal? No Undun foi o compadre de longa data, Dice Raw, que se revelou com timbre para assegurar pelo menos uns tantos refrões, agora o Black Thought seguiu-lhe os passos e saíu-se extremamente bem. A música (muito forte, como já é habitual com os The Roots) é tema de apresentação para um documentário que saíra amanhã, 14 de Fevereiro nos Estados Unidos, intitulado Soundtrack for a Revolution, ilustrando a longa e árdua luta levada à cabo pelo Movimento dos Direitos Civis, liderada por Martin Luther King Jr.
Blu - Jesus
Sou um ateu confesso, mas há temas como o Jesus Walks do Kanye e este mais recente do Blu que vão além da pregação de pastor no púlpito, fugindo assim da náusea que me causariam se se limitassem a essas vãs tentativas de conversão estilo TJ. Sobretudo quando esses desabafos são cimentados com um instrumental de qualidade elevada como é este do génio Madlib e com um flow desgraçado de bom como o do Blu (para mim o instrumental carrega o som e leva o troféu). Vale a pena.
sábado, 21 de janeiro de 2012
Damani Vandúnem - Statu Quo
Já oiço falar do Damani há muito tempo. Temos um amigo em comum que pelos vistos é muito bom amigo dos dois, pois mereceu neste disco do Damani um tema que lhe foi especialmente dedicado. Já cheguei a ouvir um som ou outro e um dos vídeos que ele disponibilizou no youtube, mas, apesar de lhe reconhecer talento, simplesmente não era nada que me tocasse de alguma forma especial. Ainda assim e, vendo que o próprio disponibilizou este novo disco para download gratuito no seu bandcamp, achei que deveria emprestar-lhe mais uma vez os meus ouvidos tentando livrar-me das ideias pré-concebidas que vinham das escutas anteriores. Não me arrependi.
Na verdade, este disco não me preencheu as medidas no que toca à profundidade na abordagem, sendo, a meu ver, algo repetitivo, várias vezes despistando-me e deixando-me sem perceber qual é o foco dos temas.
Dito isto, um disco não se avalia só por aí e, para ser justo, a música se fosse toda compreensível com nítida limpidez, provavelmente não nos desafiaria à reflexão e à interpretação pessoal, perdendo eventualmente um pouco da sua graça.
Há coisas igualmente importantes que se retiram da escuta de uma música ou, no caso, de um disco repleto delas e, uma delas para mim, é a energia derivada da sinceridade no que se diz/canta que tem a capacidade de nos tocar de maneiras que complicam qualquer descrição racional. Terei de dizer que nesse campo, este disco esteve acima da média, sobretudo porque a fasquia das expectativas estava colocada a um nível bastante baixo, saindo eu com a alegria de ser surpreendido.
Para já, a nível de instrumentais, mesmo que não se reinvente a roda, o disco está super bem produzido, com uma musicalidade doce e agradável, atribuindo-lhe uma solidez rara de tão robusta (tem identidade sonora, mesmo os instrumentais que não me mexem tenho de reconhecer que estão bem produzidos).
O "escorrega" (flow) do homem terá poucos defeitos a serem apontados, com uma levada segura e sempre dentro dos tempos, sem grandes oscilações o que poderá jogar tanto à favor como contra, pois poderá eventualmente tornar-se aborrecida após 10 faixas. No caso dele e na minha opinião, será neutro, pois tem um timbre único e um tom sincero que acabam por encobrir os eventuais e reiterados lapsos que me tiram do sério ao ponto de saltar para a faixa seguinte. Esses pontos negativos passo agora a citar:
- A opção pelo auto-tune para mim é um autêntico corta-tesão.
- O inglês também não me cativa em absoluto e então quando se faz recurso a ele com a frequência que o Damani faz, pode matar músicas que a princípio teriam tudo para estar no meu leitor de mp3, como o Acto II por exemplo.
- As frases que não rimam deixam-me um inexplicável amargo de expectativa traída.
Mesmo que as letras não sejam de um exímio domínio da palavra, não são necessariamente pobres e aí sim, posso dizer que é uma dika dele, um estilo próprio, no qual se sente que ele está completamente à vontade.
Há no entanto momentos em que a sua maneira própria de exprimir-se colocam os temas entre o "muito bom" e o "sublime":
- Em Aghatusi, Damani aborda com o coração desfeito a tragédia da criança africana e do continente em geral mostrando ser africanista com referências as influências do Egito na ciência moderna, com uma ou outra dika em Swahili e um refrão simples e eficaz.
- Em Afri Can, quase como uma sequela de Aghatussi, menciona a angústia de ser colocado numa categoria à parte entre africanos por ter kumbu, recusando a colocação nesse patamar dizendo que a raça "aos meus olhos é só uma". Coloca-se no papel de culpado, num tom auto-crítico sempre salutar e aplaudido pelos meus ouvidos, terminando com uma mensagem positiva e esperançosa "o nosso tempo chegou, é seguir em frente!"
- O Ma Trip é uma espécie de celebração do seu percurso, mais uma vez com dikas simples e honestas, assumindo-se por exemplo fã saudosista da francesinha. Tem também um pouco de convencimento em excesso na linha do "só faço classics", mas a variação do instrumental dos versos para o refrão é inebriante.
- O Aki na Banda é uma análise fria e "na mouche" da sociedade luandense que encontrou no seu regresso ao lugar para onde "os ponteiros apontaram", em cima de um dos melhores instrumentais de todo o disco. Um tema obrigatório do ano de 2011.
Em suma, é um álbum pessoal, com alguns temas bastante introspectivos, não havendo aqui piscar de olhos ao DJ para estar inserido entre "Abana o vestido" e "Windeck", sendo os seus temas mais animados (Dá-me Money e Make U Mine), dentro da linha dos outros todos, autêntico, sincero... é a dika dele, podemos sentir ou não e este eu senti. Obrigado pelo freebie de alto nível Damani!
01.Hello
02.Dá-me Money
03.Celebra a Vida (Tributo à Jimmy P)
04.Aghatussi
05.Ma Trip (Portugália)
06.Dronner
07.Aki na Banda
08.Afri Can
09.Make U Mine
10.Acto II
11.Bom Dia (Uma Tarde em Paz pt.II)
12.Falam,Falam
13.Iluminado
14.O Meu Belo Guia
Vão sacar o álbum ao bandcamp do mano aqui. É grátis!
Na verdade, este disco não me preencheu as medidas no que toca à profundidade na abordagem, sendo, a meu ver, algo repetitivo, várias vezes despistando-me e deixando-me sem perceber qual é o foco dos temas.
Dito isto, um disco não se avalia só por aí e, para ser justo, a música se fosse toda compreensível com nítida limpidez, provavelmente não nos desafiaria à reflexão e à interpretação pessoal, perdendo eventualmente um pouco da sua graça.
Há coisas igualmente importantes que se retiram da escuta de uma música ou, no caso, de um disco repleto delas e, uma delas para mim, é a energia derivada da sinceridade no que se diz/canta que tem a capacidade de nos tocar de maneiras que complicam qualquer descrição racional. Terei de dizer que nesse campo, este disco esteve acima da média, sobretudo porque a fasquia das expectativas estava colocada a um nível bastante baixo, saindo eu com a alegria de ser surpreendido.
Para já, a nível de instrumentais, mesmo que não se reinvente a roda, o disco está super bem produzido, com uma musicalidade doce e agradável, atribuindo-lhe uma solidez rara de tão robusta (tem identidade sonora, mesmo os instrumentais que não me mexem tenho de reconhecer que estão bem produzidos).
O "escorrega" (flow) do homem terá poucos defeitos a serem apontados, com uma levada segura e sempre dentro dos tempos, sem grandes oscilações o que poderá jogar tanto à favor como contra, pois poderá eventualmente tornar-se aborrecida após 10 faixas. No caso dele e na minha opinião, será neutro, pois tem um timbre único e um tom sincero que acabam por encobrir os eventuais e reiterados lapsos que me tiram do sério ao ponto de saltar para a faixa seguinte. Esses pontos negativos passo agora a citar:
- A opção pelo auto-tune para mim é um autêntico corta-tesão.
- O inglês também não me cativa em absoluto e então quando se faz recurso a ele com a frequência que o Damani faz, pode matar músicas que a princípio teriam tudo para estar no meu leitor de mp3, como o Acto II por exemplo.
- As frases que não rimam deixam-me um inexplicável amargo de expectativa traída.
Mesmo que as letras não sejam de um exímio domínio da palavra, não são necessariamente pobres e aí sim, posso dizer que é uma dika dele, um estilo próprio, no qual se sente que ele está completamente à vontade.
Há no entanto momentos em que a sua maneira própria de exprimir-se colocam os temas entre o "muito bom" e o "sublime":
- Em Aghatusi, Damani aborda com o coração desfeito a tragédia da criança africana e do continente em geral mostrando ser africanista com referências as influências do Egito na ciência moderna, com uma ou outra dika em Swahili e um refrão simples e eficaz.
- Em Afri Can, quase como uma sequela de Aghatussi, menciona a angústia de ser colocado numa categoria à parte entre africanos por ter kumbu, recusando a colocação nesse patamar dizendo que a raça "aos meus olhos é só uma". Coloca-se no papel de culpado, num tom auto-crítico sempre salutar e aplaudido pelos meus ouvidos, terminando com uma mensagem positiva e esperançosa "o nosso tempo chegou, é seguir em frente!"
- O Ma Trip é uma espécie de celebração do seu percurso, mais uma vez com dikas simples e honestas, assumindo-se por exemplo fã saudosista da francesinha. Tem também um pouco de convencimento em excesso na linha do "só faço classics", mas a variação do instrumental dos versos para o refrão é inebriante.
- O Aki na Banda é uma análise fria e "na mouche" da sociedade luandense que encontrou no seu regresso ao lugar para onde "os ponteiros apontaram", em cima de um dos melhores instrumentais de todo o disco. Um tema obrigatório do ano de 2011.
Em suma, é um álbum pessoal, com alguns temas bastante introspectivos, não havendo aqui piscar de olhos ao DJ para estar inserido entre "Abana o vestido" e "Windeck", sendo os seus temas mais animados (Dá-me Money e Make U Mine), dentro da linha dos outros todos, autêntico, sincero... é a dika dele, podemos sentir ou não e este eu senti. Obrigado pelo freebie de alto nível Damani!
01.Hello
02.Dá-me Money
03.Celebra a Vida (Tributo à Jimmy P)
04.Aghatussi
05.Ma Trip (Portugália)
06.Dronner
07.Aki na Banda
08.Afri Can
09.Make U Mine
10.Acto II
11.Bom Dia (Uma Tarde em Paz pt.II)
12.Falam,Falam
13.Iluminado
14.O Meu Belo Guia
Vão sacar o álbum ao bandcamp do mano aqui. É grátis!
domingo, 15 de janeiro de 2012
Reks - Mascara
O Reks está a conquistar um lugar cimeiro no meu top dos mais queridos do rap ao longo destes últimos anos. Sempre foi sólido, mas a idade está a fazer-lhe bem e a canalizar a sua temática lírica com grande predominância para temas introspectivos ou socialmente polémicos, denotando uma grande sensibilidade e profundidade nas análises com que nos presenteia. Neste som ele fala de como o complexo de inferioridade do preto lhe afundam, comprometendo a sua auto-estima e a capacidade para singrar na vida. Não se priva de mencionar nomes. MUITO BOM!
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
Halloween Remisturado
Esta remixtura está muito boa, mas eu sou irado pela versão original desse som, de modos que ia ser muito difícil eu achar que alguma coisa a superaria. No entanto, não é pela remixtura audio que eu faço este post, mas sim pelo incrível vídeo de street dancers que o Malaiko descobriu e associou à música. Não consigo deixar de ficar perplexo e maravilhado com este tipo de criatividade espontânea. Curtam
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Do velho para o novo
O ano de 2011 passei-o quase sem motivação para ouvir música, pesquisar coisas novas que estivessem a sair, apreciar o que de mais inovador se estava a fazer no infinito espectro sónico que não consegue deixar de se expandir, mas sobretudo no Hip Hop que é o género que mais exerce sobre mim poder de atração. A minha cabeça estava virada para outras coisas que me extraíam toda a energia e atenção. No entanto, nos eventuais rasgos de lucidez em que conseguia me desligar das ocorrências turbulentas, consegui pescar uma coisa ou outra, sendo a que mais me impressionou provavelmente um puto de Yonkers chamado Tyler the Creator. Vou colocar o vídeo dele em baixo, depois dos dois artistas que mencionarei agora: The Roots e Common.
Bwé de alegria ao saber que ambos tinham novos álbuns na calha, pois são artistas que cresci a ouvir e com os quais nunca (por um lapso de tempo talvez com o Common) deixei de me identificar e dos quais espero música da mais alta qualidade senão refrescante.
Os The Roots rebentaram a escala e atingiram um patamar ao qual dificilmente elevo alguém, que é um de confiança quase cega, do estilo "posso comprar sem ouvir que não me arrependo", pois ao 11º álbum de originais eles mantêm algo que todo o VERDADEIRO ARTISTA deveria manter: a ousadia de se reinventarem, de explorarem novas sonoridades, sobretudo as que deles menos se esperam sem que, no entanto, já tenham sido exploradas por outros com sucesso. Não vou fazer aqui uma crítica do álbum, vou só meter-vos dois vídeos.
Quanto ao Common, a música continua forte, os instrumentais são do karaliu, ele tem dikas rijas, mas estou agora a ver os 4 ou 5 clips que ele já fez para promover o disco e, sinceramente, a impressão com que fico é que ele não quer aceitar que está a envelhecer, como se de repente, não se pudesse ser fresco e relevante aos 40+, como se tivesse a querer viver tardiamente a sua juventude, tipo aqueles mais-velhos rebarbados que pausam na disco quando já estão perto de se tornarem avós. Foi a sensação com que fiquei, sobretudo depois de me ter apercebido que, de forma algo pueril, foi ele que começou o bife com o Drake, um miúdo petulante que se sente no direito de o ser pela forma como vem sido adulado, mas que um adulto como o Common já tem idade para saber que isso faz parte da atitude dos 20's e deixar o miúdo em paz. Aquele excesso de agressividade nas palavras (que nem sequer no Bitch in yoo usou), a atitude de boxeiro e o videoclip num bairro aparentemente perigoso do Haiti... tudo demasiado juvenil amigo Common, demasiado "adolescência atrasada". Deixo-vos com o clip do Blue Sky que ainda foi a que melhor me caíu.
Agora sim, a novidade do puto revelação. Estranhamente bom:
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Ilitha Lelanga Marimba Ensemble - Fading Memories
Uma prima da minha namorada acabada de chegar de Capetown entrou no boter e disse "mete só este CD que ainda não consegui ouvir", mesmo quando eu estava a matar saudades do meu álbum do Masta Ace INC. - Sittin' On Chrome. A capa era fajuta mas o disco reunia critérios que o tornam um imperativo para os meus ouvidos, obrigando-me a interromper voluntariamente a minha sessão "trip down memory lane":
- o ser música africana independente (que significa "nada de apoios corporativos") comprada diretamente da mão do artista, numa das suas performances de rua. Só este critério seria suficiente para parar a minha escuta, pois não fazê-lo acarretaria consequências óbvias como a redução a praticamente zero da probabilidade de voltar algum dia a cruzar-me com este grupo/disco, passando ao lado de uma magnífica oportunidade de enriquecer o colorido da minha palette acústica.
- o facto de o instrumento central ser de percussão africana, sendo uma espécie de "orquestra da marimba", só por si algo extremamente curioso e intrigante.
- a música sul-africana ser de uma riqueza avassaladora apesar de ainda muito pouco explorada (tendo em conta a sua qualidade).
- a excitação no tom de voz da prima da mboa que os tinha visto ao vivo no Waterfront comprando o disco de impulso.
- Capetown ter se tornado a minha cidade preferida no mundo depois de visitá-la a primeira vez o ano passado.
Trouxe o CD para casa para o rippar e voltei a colocar o meu Masta Ace. Há tempo para tudo e nenhum para arrependimentos, sobretudo quando a música é excelente, à excepção de um outro tema que achei menos intensos e que deixaram a desejar (aliás aquele soprano logo na faixa de abertura é um susto!). Ainda assim, para contrariar a tendência daqueles que acabam por ser (na minha ótica) erros de palmatória recorrentes e ingénuos de grupos africanos, quando tentam universalizar a sua sonoridade fazendo versões-pipoca de músicas de fama mundial, aqui, a versão do grandioso Summertime do George Gerswhin (e imortalizado pelas milhentas versões desde Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, George Benson e a lista continua) está simplesmente sublime.
Curtam o som único destes 4 manos do Gugulethu e bom ano de 2012 a todos.
01. Seasons Of Change
02. African Sounds
03. Zoleka
04. Zane'mvula
05. Halleluyah
06. Sthandwa
07. Reggae Music
08. Mashaba
09. Zamdela
10. Mayivuye I-Afrika
11. Marimba-Mania
12. Summertime
13. Abasazi
Catem o mambo aqui
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