domingo, 6 de julho de 2008

Sam the Kid e Valete

Quando se vai falar em Hip Hop português são sem dúvida os nomes mais óbvios e de actualidade e, ao contrário dos USA onde os mais falados são normalmente os podres que vendem mais e não necessariamente os mais vanguardistas, estes dois não desmerecem de todo o spotlight que partilham.


Sam the Kid

O Sam the Kid ouvi-o pela primeira vez em '99 quando fazia alguns programas na Ant3na com o José Mariño (saudades do Repto). Ele emprestou-me o Entre(tanto) com outras duas maquetes de altíssima qualidade que se viriam a tornar mais que raridade, extintas: O expresso do submundo dos Dealemma e o EP do Dok Strainja. Gravei tudo a correr para MD, mas na altura (17 aninhos) para poupar MDs gravava tudo em LP então a qualidade deixa a desejar. Foi aí que comecei a prestar uma atenção mais cuidadosa ao hip hop português, a levá-lo mais a sério.
Apesar de o meu favorito ser o Expresso do Submundo, havia algo acerca do Entre(tanto) de muito especial: tinha uma sonoridade muito distinta, muito corajosa e original na abordagem dos instrumentais com grande quantidade dos samples sendo retirados de música portuguesa. Pensei que isso lhe distinguia de tudo o resto que apesar de muito bom, podia sempre ser comparado a algum qualquer americano, este cumpria aquilo que se espera da arte, que continue em movimento e a expandir-se, como se fosse um vaso de cerâmica moldado pelas mãos de milhares de artistas, onde cada um lhe incorpora retalhos do seu mundo particular, juntando-lhe um traço só seu. O Sam meteu o traço dele nesse vaso do Hip Hop e o melhor, não procurou fazê-lo, foi espontâneo, foi puro, genuíno. Isso é muito raro.

Cheguei a duvidar do Sam quando ele lançou o Sobre(tudo), não gostei do disco, senti que era um regredo em relação ao que ele tinha começado com o Entre(tanto). Os instrumentais pareciam muito mais a "americanar" e os temas eram chatos, com a excepção notável do "Recado" que é um upgrade x10 ao "A Caixa".

Nos anos seguintes o Sam começou a soar AO MESMO para mim, sempre a mesma coisa, repetitivo, instrumentais altamente imitados (e ADMITIDAMENTE imitados) aos seus ídolos J Dilla, DJ Premier, Pete Rock. Não saía um álbum que não tivesse um instru do Sam, muito gajo podre só lançava álbum porque tinha dois instrus do beatmaker mais atarefado da tuga.

Ao mesmo tempo, começou a moda das rimas "tico e teco não fico mabeko miro o tejo e pinto o meu tecto sou recto sem curvas ando aos apalpões às miúdas... blá blá blá", que ainda persiste até hoje. Que coisa aborrecida, as músicas tornam-se códigos silábicos que só os próprios artistas, malabaristas do flow e fãs Indiana Jones conseguem decifrar. O Sam também navegou essas águas e quando chegou o Beats Vol.I: Amor eu não pude fazer uma avaliação completa da direcção que ele estaria ou quereria tomar. Admirei mais uma vez a coragem de fazer algo fora da tendência, mas os instrumentais em si ainda me pareciam muito marcados pelas suas influências. Este é um álbum que foi crescendo em mim, comecei a baixar as guardas e a aceitar que era um disco muito bonito, também pelo que ele representava: a história de amor dos seus pais. Foi o álbum que lhe propulsou para o patamar de MÚSICA PORTUGUESA e foi a primeira vez que o Hip Hop foi aceite de maneira tão universal num país de gente tão atrasadinha. Mais uma vez, Sam conquista isso tudo sem o mínimo de pretensão, sem o ter concebido. Começam também os problemas de "sample clearance" que não se punham até então a um artista de "concertos no bairro". Velhos ranzinzas que não sabem distinguir homenagem de roubo... ainda prá mais perdeu (viva o Sam).
Continuei de pé atrás em relação ao Sam rapper até que saísse o Pratica(mente) que foi para mim a rendição: tiro o chapéu e faço uma longa vénia a esse rapaz tão humilde e tão talentoso que consegue reinventar-se, aceitar-se como é sem tentar se fingir diferente para agradar aos restantes. O MELHOR artista de hip hop português para mim.


Entre(tanto)
Os meus sons preferidos: Ódio, Xeg & Sam, Tempestade, Estranha Forma de Vida, Visões, Mil Razões e Lágrimas.

01. Entre(tanto)
02. Pelas Rimas (com NBC e Jah3)
03. Ódio
04. Xeg & Sam (com Xeg e Sanryse)
05. Reflexo
06. Tempestade
07. 7º Céu
08. A Caixa
09. A Verdade
10. Estranha Forma de Vida
11. Visões
12. Mil Razões
13. Vício (Mundo Verbal)
14. Lágrimas
15. Verdade (Remix - com Bomberjack e Shaheen)

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Beats Vol.I: Amor

01. Beleza
02. O Keu Kero
03. Sedução
04. Vem
05. Eternamente Hoje
06. Alma Gémea
07. A Fundação
08. Fogo Sem Chama
09. Lances
10. A Manhã Seguinte
11. Até Um Dia
12. Arrependimento
13. Memórias
14. Quando A Saudade Aperta
15. Eu E Tu
16. Recaída
17. O Amor Não Tem Fim



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Pratica(mente)

Xê, o Sam aqui até elevou para outro patamar aquelas rimas do "tico e teco não fico mabeko miro o tejo e pinto o meu tecto sou recto", agora a dika tá muito mais sóbria e decifrável para comuns mortais. A música 16/12/95 é simplesmente uma das composições mais bonitas já musicadas, o Sam estoriador maduro e prestes a rebentar. ISTO É UM SENHOR ÁLBUM!!!

01. Pratica(mente)
02. A partir de agora
03. Juventude (é mentalidade)
04. Poetas de karaoke
05. À procura da perfeita repetição
06. Abstenção
07. Negociantes
08. Retrospectiva de um amor profundo
09. Presta atenção
10. Pus-me a pensar
11. Ignorância
12. 16/12/95
13. De repente
14. Slides (Retratos da cidade branca)
15. Slides (Referências)
16. Tempo
17. Hereditário



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Valete

Este broda... nunca lhe liguei muito, lembro-me dele da primeira mixtape do bomberjack "Reencontro do Vinil", penso lembrar-me numa das rimas ele fazer referência à sua recente incursão no mundo das rimas e já a rimar melhor que metade, aquelas "braggadocio rhymes" que todo o rapper que se preze tem na algibeira, só que o dred não me entrava. Só voltei a ouvir falar dele na mixtape do Cruz Lisboa-Porto Connection (porra mixtape clássica), mas se calhar a escolha do instrumental dele (um do NORE com produção dos Neptunes) e a dika do "ficas dois dias a fazer cocó", fizeram com que me desligasse mais uma vez. Nunca mais ouvi falar nele até que o meu bom amigo Keita Mayanda que estava a viver na tuga me chegou a casa do Conductor com um cd cor-de-laranja na mão e me disse: "comé, esse álbum vale a pena!". Eu vi VALETE e pensei "mmhhhh". Abri o livrinho, comecei a ler as letras e "PAF" (chapada na cara), endireitei na cadeira e li com muita atenção! No dia a seguir fui rapidamente à King Size adquirir a minha cópia. Ouvi a dika duas ou três vezes de seguida e lembro-me de ter pensado para mim próprio: "Porra que boa surpresa", dupla surpresa porque o mano não veio sozinho, trouxe um reforço nervooooso chamado Bónus e lançou o álbum tipo o Raekwon the Chef feat Ghostface, o n'dengue Bónus tava em bwéee de sons. Mandei um mail ao mano a felicitá-lo e ele respondeu-me com aquele obrigado de boas maneiras muito polite que os artistas mandam nos seus fãs. A gente acabou por estabelecer um contacto mais permanente e eventualmente surgiram as colaborações, longas discussões via msn, debates sobre música, a indústria, política, sociedades secretas, sociedade em geral... um mano muito forte, apesar de andarmos frequentemente às turras (somos os dois muito casmurros). Até ao dia de hoje ando a tentar compreender o complexo ser humano que se esconde por trás do animal político apelidado Valete, a conhecer melhor o Keidje, mas enquanto não logro os meus intentos, resigno-me com as pistas que ele me vai deixando apreciar...

Educação Visual

A capa não é propriamente um chamariz para quem não saiba o conteúdo que alberga, mas desde muito cedo que tentam ensinar-nos a não julgar o livro pela capa. Pode bem ser eleita a PIOR CAPA DE TODOS OS TEMPOS (e não estou a falar só do hip hop), pelo menos pode concorrer pelos lugares cimeiros, daquelas capas que meter na ficha técnica o autor é tipo descaramento, mas já aí começa o mito Valete:"Não será essa mesmo a intenção dele? Educação Visual e tal, é maneira de afastar os impuros que só vão já ouvir aqueles com capas bem blingadas...". Bwé de teorias, mas a verdade é que o dred acabou por ceder à pressão e fez uma coisa mais "convencional" para a reedição. Eu tenho uma estima infantil por essa capa feiosa e para além do mais, não oiço o disco a olhar para a capa.

01. Educação Visual
02. Nossos Tempos
03. Ele & Ela
04. Serial Killer
05. À Noite
06. Exibicionismo
07. Liricistas (feat. Ace, Chullage and Fuse)
08. Beleza Artificial (feat. Sam The Kid)
09. Nada a Perder
10. Pseudo MCs
11. Mulher Que Deus Amou
12. Chegou a hora
13. Freelancer
14. Ser Ou Não Ser



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Serviço Público

O pessoal clamou pelo álbum e ele chegou, sempre o Valete nervoso a cuspir veneno contra o poder instituído, contra a indústria musical, assumidamente político e anti-capitalista, mas... para muitos um Educação Visual Vol.II. Gostei muito do disco, mas obviamente que não me marcou como o primeiro, talvez pela ausência do efeito surpresa, aquele elemento que falta cruelmente depois do artista já se ter estabelecido. O meu tema favorito é o Anti-herói.

01. Coisas do Género
02. Serviço Público (com DJ StikUp e Selma)
03. 15 segundos de Hugo Chavez
04. Revelação (com Raquel Oliveira)
05. Pela Música pt.1
06. Pela Música pt.2 (com Ikonoklasta e Sam The Kid)
07. Canal 115 (com Bónus, Adamastor e DJ StikUp)
08. Subúrbios (com DJ StikUp)
09. Os Meus (com Bónus e DJ Bomberjack)
10. Não te Adaptes (com Selma)
11. Masturbaçao Mental
12. 15 segundos de Fidel Castro
13. Monogamia (com Sara Ribeiro e DJ Bomberjack)
14. Roleta Russa
15. 15 segundos de Che Guevara
16. Anti Herói (com Selma)



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3 comentários:

Joao disse...

Valete é simplesmente genial, e do que eu gosto mesmo é de metal... por isso...

joaokarlos disse...

you mano ex o maior reper do mundo

Manuel Silva disse...

mas o valete é sportinguista ou benfiquista a final?