sábado, 30 de novembro de 2013

Afroman, um corajoso entre os comerciais


 Há uns meses e no decurso de uma entrevista via skype com uma rapariga que está a fazer um estudo antropológico sobre o hip hop consciente em Angola, me foi dada a conhecer esta música do Yannick/Afroman, que lhe terá causado uma impressão negativa acerca do artista. Eu vou tentar resumir a complexidade de sentimentos que suscitou em mim a letra desta música:

Em primeiro lugar, não sei se foi consciente ou não, mas achei de uma extrema CORAGEM o Yannick ter abordado um tema que se faz tabú, que se escamoteia, que se finge não existir e que provoca logo reações de reprovação quando alguém se "aventura" neste domínio. Sobretudo quando é feito como ele fez, sem floreados, sem perfumes poetizados, mas direto ao assunto, cru, preto no branco.

Lembremo-nos que o Yannick já conquistou o seu "lugar ao Sol" e podia muito bem ter-se acomodado à sua fórmula humorística de tratar a triste condição do povo angolano, mas não, escolheu sair da sua zona de conforto e comprometer a sua permanência no top dos mais queridos da rádio e televisão que, como bem sabemos, carece de "trabalhos de manutenção", com afagamento de egos, bajulação e um comportamento sem máculas.

Pessoalmente não concordo com muitas das coisas que ele diz que me parecem ter sido analisadas com superficialidade e leviendade não muito convenientes em assuntos de tamanha delicadeza e que podem inclusivamente apelar à instintos primários normalmente perigosos. Há muitas conclusões que o Yannick tira criando generalizações de casos excecionais, distanciando-se da análise factual e baseando-se mais nas suas observações pessoais, elas próprias influenciadas por um preconceito que também carrega em si, apesar de anunciar que o dele não é nada mais do que "realismo".

Dito isto, as generalizações são abusos de linguagem aos quais todo o ser humano neste mundo se entrega frequentemente, pelo que não posso de forma nenhuma atirar a primeira pedra.

Certamente muita gente subscreve TOTALMENTE as palavras do Yannick e isso é um poder que os artistas têm, de preencher com palavras sentimentos que muita gente partilha, o que lhes confere a importância social que manifestamente têm, outros reprovarão veementemente a postura do Yannick por ter sequer cometido a heresia de verbalizar esta letra, mas eu estou numa zona mais cinzenta, porque não vejo aqui nem só verdades, nem só extremismos e, não concordando com muitas das conclusões a que chega, percebo perfeitamente como se pode chegar a elas. Há factos que ele cita que são inaceitáveis num país como o nosso mas que são reais: o facto por exemplo de haver ou ter havido a determinada altura (até há muito poucos anos atrás os relatos deste absurdo eram frequentíssimos) certos pubs/discotecas onde os pretos, por mais bem apresentados que estejam, têm uma probabilidade desproporcional de ser barrados à porta é particularmente escandalosa e reveladora desse mal-estar e, mais flagrantemente ainda, quando estes pretos se fazem acompanhar de amigos brancos e/ou mulatos que os porteiros sem noção aceitam fazer entrar sem problemas com um "tu podes, mas tu não". Toda a gente sabe que uma empresa com expatriados é uma empresa com capacidade de pagar salários astronómicos e daí a observação inicial ser justa, apesar de chocante na forma como se coloca como uma mera questão cromática desconsiderando a natureza das ditas empresas e o seu capital social.

O tema é extremamente pertinente e é de lamentar que os promotores da intelectualidade na sociedade continuem a escamotear este assunto como se racismo não existisse em Angola. Temos de ser maduros o suficiente para abordar o tema sem complexos, de uma maneira massiva e transversal a todos os setores da sociedade, desde a escola até à comunicação social, promover palestras e debates, para aprofundar as nossas perceções superficiais de um fenómeno que é extremamente complexo e com origens ancestrais.

É lamentável que um artista tenha de fazer uma música destas, mas não pela música que podia ser apenas uma máscara para o seu próprio preconceito, e sim pela existência de razões concretas que a justifiquem.


4 comentários:

Anônimo disse...

Interessante a análise que fizeste a um tema que é tabú na nossa sociedade( na verdade, na altura achei o tema bastante pesado e por mais, foi relato de forma muito"desnuda")e este teu exto tirou-me as palavras da boca se posso assim dizer.As tuas narrativas exclusivas e bem lapidadas fazem-me pensar porque nao uma carreira de "escritor"?? lol fica so o palpite... one
nick

Anônimo disse...

ja agora qual a tua opiniao sobre um tema que eu quando vi os intervenientes disse logo "ta a faltar um gajo mau aki" sobre o tema do Azagaia - paises do medo ft valete e mc k??

ikono disse...

E ali mano? :)
ainda nem ouvi o tema... estou a falhar. tenho de dar um tempo ao álbum do mano Aza... mas tipo que o pessoal não está muito satisfeito com o balanço né?

Anônimo disse...

epa o k eu soube é k um pseudo critico aqui da blogosfera com inclinaçoes partidarias muito claras deu uma de virgem ofendida, porque o tema foi angola(paises do medo) fez um texto e mereceu um tempo de antena tanto por parte do katrogi como do valete eu achei muito indevido terem respondido ao tal madjié!! lol o som n trouxe nada k um gajo ja n esteja farto de sobre a banda

aki vai o link :http://www.youtube.com/watch?v=o5alel-BuV8
nick