sábado, 19 de fevereiro de 2011

Terrakota - World Massala

Não vale a pena, eu mesmo curto bwé o som destes manos. Continuam a ter uma energia contagiante, e nem vou começar aqui a falar dos concertos, autênticos banhos purificadores de boa onda, sublimemente oferecidos por eternos animais de palco, que rebentam tudo sem pedir "com licença?".

Os kotas são superdotados, tendo a avassaladora e extremamente rara capacidade de superar as suas próprias peripécias musicais, o seu mosaico audiofónico multicultural ficando algumas peças mais rico, mais completo, mais bonito, mais próximo do sublime a cada excursão à volta do globo no Comboio OBA :).

Eu fui acompanhando a evolução deste disco, ouvi umas maquetes ainda nuas dos seus adornos alter-mundialistas (falo dos instrumentos tradicionais de certas regiões do globo obviamente e não dos grifes farruscos dos alternativo)... e sinceramente, não achei que alguma vez fosse poder achar este disco melhor que o anterior... ainda estou a vacilar, mas acho que é mesmo um coxito melhor... sei lá... pelo menos tem o mérito de continuar a convencer os meus ouvidos treinados para estarem em estado de alerta para repetições rítmicas, a constatação das quais me faz perder um bocado o interesse na banda que começo a achar que está a tentar fixar raízes numa zona de conforto após conquista de uma satisfatória base de fãs.

Com isto não quero dizer que isso nem que os kotas se reinventaram como banda e fizeram um disco totalmente inesperado, nem que, a perda de interesse seja da praxe quando as bandas continuam a guardar a sua identidade sonora. Existem várias excepções à essa regra e os Terrakota insistem em ser uma delas. Já quando foi o Oba Train eu não pensei que pudesse gostar mais de outro disco deles como tinha gostado do Humus Sapiens. Só depois do Oba sair é que consegui dar conta do que os anos podem fazer no que toca a polir e amadurecer certas técnicas... passei a reconhecer alguns defeitos no Humus que me passavam totalmente desapercebidos até então.

Curtam a naturalidade com que eles viajam nos padrões rítmicos de sítios tão díspares, voando do Rajastan, para o Senegal, saltando ali ao lado para Cabo-Verde, visitando a Nigéria e paragem obrigatória (?) em Angola antes de cambiarem de hemisfério para as Antilhas/Caraíbas, descaíndo finalmente um coxe para o Brasil, tudo com uma perna às costas e, para dar mais raiva da cara, misturam também idiomas (wolof é um dos recorrentes, mas uma nota especial e bem humorada para aquele portinhol com direito a pitada de criolo). As mensagens são sempre bonitas e idílicas, cheias de "não-lugares" como criticam os eternos pragmáticos que proliferam pelo mundo empresarial e nos parlamentos de todas as farsas que construímos sob o título de nações.

O Mark é uma adição inestimável ao colectivo, agraciando alguns dos coros com reviengas malucas, podendo perfeitamente passar-se (pelo menos para os leigos na matéria como é o meu caso) por um autêntico Devraj algures entre o Punjab e Bombaim. Granda Mark.

Este disco tem a participação do nosso inconfundível Paulo Flores em dois temas, justamente e de forma algo estranha, os dois temas mais calminhos que já ouvi da banda. O último, Raíz, é das coisas mais encantadoramente raras que ouvi nos últimos tempos, com uns barulhinhos de água e cabaças que dão vontade de mergulhar numa selha e um outro bizarro, mas muito kuyoso, que lembra uma sequência humanamente impossível de realizar daquele ruído que produzimos ao introduzir o indicador na bochecha e puxando-o repentinamente (tipo rolha de garrafa).

Com autorização explícita para "espalhar a música pelo mundo" directamente da boca (dos dedos, foi por mail) do Papa Juju.

Parabéns aos Terrakota pelo seu, discutivelmente, melhor álbum até à data e shame on me por ter, mais uma vez duvidado da capacidade deles de me arrebatarem.

01. World Massala
02. Kay Kay
03. Ilegal
04. I am
05. Slow Food
06. Né Djarabi
07. Pé na Tchon
08. Chelo Habibi
09. Gripe Económica
10. Ualelepo
11. Raíz




Catem o mambo aqui

2 comentários:

Claudio Silva disse...

Estava mesmo a espera do novo album destes manos Ikono. Thanks for the update.

ikono disse...

sempre a considerar mo ciente.
espero que curtas
akele abraço