Um mano que acompanha o blog, nick de sua alcunha bloggista, deixou-me um comentário no post do Frank Ocean em que sugere dois vídeos que quero aqui partilhar convosco. O primeiro, o momento sério, de reflexão, de mensagem profunda que ilustra o que sobra de luta no espírito Hip Hop, que tenta resistir aos clichés para os quais o novo-riquismo (ou o sonho de lá chegar), a vanglorização do gangsterismo, a banalização da putaria, empurram toda uma geração de jovens, sobretudo periféricos ou menos abastados financeira/culturalmente. Uma música como infelizmente já se fazem raras neste cenário onde predominam os Lil' Waynes desta vida e vem de alguém por quem já não dava muito, mas que continua a ser um aventureiro, explorador do cosmos musical, cientista pesquisando a sua própria sonoridade/identidade num universo com um magnetismo que arrasta as pessoas para o mesmismo, usando a tentação dos Benjamins. Aqui vai o tema "Bitch Bad" do dreida Lupe Fiasco:
E agora, para relaxar, depois de um momento tão profundo, vai uma gargalhadazita para aliviar:
Isto é um espaço pessoal, aqui hei de meter essencialmente música que de alguma maneira me moldou, mas posso ter alguns desvarios eventuais. Se algum artista se sentir "roubado" por ter a sua música partilhada, que mo indique, para que eu possa apagá-la com a máxima prontidão
sábado, 22 de setembro de 2012
Hip Hop Angolano de Intervenção
Quero partilhar com aqueles que acompanham o blog estes dois EPs de Hip Hop de elevada qualidade.
O primeiro é de um mano já estabelecido na cena hip hop nacional, já vem de antigas e longas caminhadas, apesar deste ser apenas o seu segundo EP (que eu tenha conhecimento).
O nome Sanguinário lembra provavelmente um artista horror-core e poderá ser razão de sobra para afastar potenciais ouvintes sem que estes lhe dêm sequer uma chance de um ocasional "play". Enganar-se-ão.
O mano poderá eventualmente reconsiderar o nome pois a violência que este sugere não é veículada no conjunto de palavras e harmonias que constituem a sua música, mas caso decida mantê-lo em detrimento dos ouvintes que nunca o serão pelas razões acima referidas, não será certamente isso que irá afetar a qualidade do material com o qual nos brinda. E oiçam bem, o mano não é o maior liricista de todos os tempos, longe disso, mas a combinação: "escorrega regular + letras acima da média + atitude sincera + instrumentais fodidosos" faz com que isto se torne hip hop angolano que não deixa absolutamente nada a dever à qualquer outra Nação já estabelecida na cena mundial. NADA!
Os instrumentais são definitivamente a sustentação de toda a estrutura desta crítica, extremamente competentes, misturados com mestria, com batidas pesadíssimas de uma cadência viciante metendo os pescoços a abanar involuntariamente. Missão quase exclusivamente a cargo do Kallisto exceto a faixa onde eu bokwei que foi duzida pelo mano Boni.
Infelizmente desta vez o mano já não disponibilizou o mambo gratuitamente, algo que, para mim, coroava o Vol.1 de mais valor na postura anti-comercial, sobretudo sendo este apresentado como uma continuidade.
Os meus temas preferidos sem sombra de dúvida: Religião (com drums pesados e um loop viciante que parece quase satânico); Deixem-nos em Paz (viciante, absolutamente); Dilema (um problema com o qual muitos se confrontam e do qual raramente saiem vitoriosos os valores que indiciem integridade. Mais uma vez, instrumental adequado) e Grande Amor (Remake), um dos instrumentais revelação do EP e uma letra muito sbem também, apesar de algo cliché, sobretudo quando repetido pela 3ª vez num EP com 9 músicas.
Sanguinário confirma solidez, Kallisto impõe-se! GRANDE EP! (Não encontro a capa, quando a tiver substituo a imagem abaixo pela original).
01.Intro
02.Oxigénio pt.2 c. God G
03.Religião (O Lado Negro)
04.Poesia Inédita (Pra Música) c. Kanda
05.Deixem-nos em Paz
06.Graças a ti (Hip Hop) c. Ikonoklasta
07.Skit
09.Dilema
10.Criar com os Ouvidos c. MCK
11.Repetição
12.Outro - Grande Amor (Remake)
Catem o mambo aqui
O Projecto Não Vota, foi metido em marcha por um coletivo de manos do Cacuaco que inclui a 3ª Divisão, MP Crew e os Tiranicídios Verbais, com um objectivo bem pontual que era o de apelar à abstenção nas eleições gerais que tiveram lugar no passado dia 31 de Agosto.
Se tivessemos uma boa equipa de marketeiros brazukas a trabalhar com os miúdos poder-se-ia agora aproveitar os resultados finais (e ainda assim maquilhados) da abstenção e responsabilizar o projeto por boa parte dessa escolha de (não) voto. Slogans como: Quando o Hip Hop configura o país; A nova classe política de Angola; Rap sai em segundo lugar nas eleições angolanas e outros tantos do género, que iriam maravilhar um mundo que se agarra aos títulos quase sem desenvolvimento de raciocínio lógico subsequente para extrapolar uma situação, normalmente mais complexa. Foi o caso da nossa elevada taxa de abstenção (os dados aldrabados da CNE indicam que foram à volta de 37%, mas foram mais), que tem explicações que não vou aqui avaliar, mas que quem quiser poderá tentar entender explorando este site.
Os jovens têm aquele flow de "rap revú" de quem tem muito para dizer e por isso recusa-se obedecer à métrica, ou recorre-se, para fazê-lo, ao mastigar de sílabas que são metralhadas com a eficácia de uma AK-47, mas são percetíveis e dizem coisas com o seu sentido e valor. Essas palavras são valorizadas e elevadas ao estatuto de audíveis por mais um desconhecido produtor, Kid Ground, que prova que no ramo da produção o nosso Hip Hop evoluiu anos-luz mais rápido que todos os outros domínios dessa cultura, incluíndo o Mceeing.
São 3 faixas e as duas primeiras são as minhas prediletas. Saíu bem o refrão da Crucifikem a Tirania: "Nós temos pregos, troncos, martelos e coragem, marchemos para o Palácio do Mal e crucifiquemos a tirania!".
01.Não Vota
02.Crucifikem a Tirania
03.Geração Robotizada
Catem o mambo aqui
O primeiro é de um mano já estabelecido na cena hip hop nacional, já vem de antigas e longas caminhadas, apesar deste ser apenas o seu segundo EP (que eu tenha conhecimento).
Sanguinário - Oxigénio Vol.II EP
Felizmente também uma prova que quantidade não é necessariamente proporcional a qualidade (frequentemente é o inverso) e que a paciência e a persistência são virtudes que se devem cultivar para se atingir patamares de qualidade mais dificilmente questionáveis.O nome Sanguinário lembra provavelmente um artista horror-core e poderá ser razão de sobra para afastar potenciais ouvintes sem que estes lhe dêm sequer uma chance de um ocasional "play". Enganar-se-ão.
O mano poderá eventualmente reconsiderar o nome pois a violência que este sugere não é veículada no conjunto de palavras e harmonias que constituem a sua música, mas caso decida mantê-lo em detrimento dos ouvintes que nunca o serão pelas razões acima referidas, não será certamente isso que irá afetar a qualidade do material com o qual nos brinda. E oiçam bem, o mano não é o maior liricista de todos os tempos, longe disso, mas a combinação: "escorrega regular + letras acima da média + atitude sincera + instrumentais fodidosos" faz com que isto se torne hip hop angolano que não deixa absolutamente nada a dever à qualquer outra Nação já estabelecida na cena mundial. NADA!
Os instrumentais são definitivamente a sustentação de toda a estrutura desta crítica, extremamente competentes, misturados com mestria, com batidas pesadíssimas de uma cadência viciante metendo os pescoços a abanar involuntariamente. Missão quase exclusivamente a cargo do Kallisto exceto a faixa onde eu bokwei que foi duzida pelo mano Boni.
Infelizmente desta vez o mano já não disponibilizou o mambo gratuitamente, algo que, para mim, coroava o Vol.1 de mais valor na postura anti-comercial, sobretudo sendo este apresentado como uma continuidade.
Os meus temas preferidos sem sombra de dúvida: Religião (com drums pesados e um loop viciante que parece quase satânico); Deixem-nos em Paz (viciante, absolutamente); Dilema (um problema com o qual muitos se confrontam e do qual raramente saiem vitoriosos os valores que indiciem integridade. Mais uma vez, instrumental adequado) e Grande Amor (Remake), um dos instrumentais revelação do EP e uma letra muito sbem também, apesar de algo cliché, sobretudo quando repetido pela 3ª vez num EP com 9 músicas.
Sanguinário confirma solidez, Kallisto impõe-se! GRANDE EP! (Não encontro a capa, quando a tiver substituo a imagem abaixo pela original).
01.Intro
02.Oxigénio pt.2 c. God G
03.Religião (O Lado Negro)
04.Poesia Inédita (Pra Música) c. Kanda
05.Deixem-nos em Paz
06.Graças a ti (Hip Hop) c. Ikonoklasta
07.Skit
09.Dilema
10.Criar com os Ouvidos c. MCK
11.Repetição
12.Outro - Grande Amor (Remake)
Catem o mambo aqui
Projecto Não Vota - Projecto Não Vota
O Projecto Não Vota, foi metido em marcha por um coletivo de manos do Cacuaco que inclui a 3ª Divisão, MP Crew e os Tiranicídios Verbais, com um objectivo bem pontual que era o de apelar à abstenção nas eleições gerais que tiveram lugar no passado dia 31 de Agosto.
Se tivessemos uma boa equipa de marketeiros brazukas a trabalhar com os miúdos poder-se-ia agora aproveitar os resultados finais (e ainda assim maquilhados) da abstenção e responsabilizar o projeto por boa parte dessa escolha de (não) voto. Slogans como: Quando o Hip Hop configura o país; A nova classe política de Angola; Rap sai em segundo lugar nas eleições angolanas e outros tantos do género, que iriam maravilhar um mundo que se agarra aos títulos quase sem desenvolvimento de raciocínio lógico subsequente para extrapolar uma situação, normalmente mais complexa. Foi o caso da nossa elevada taxa de abstenção (os dados aldrabados da CNE indicam que foram à volta de 37%, mas foram mais), que tem explicações que não vou aqui avaliar, mas que quem quiser poderá tentar entender explorando este site.
Os jovens têm aquele flow de "rap revú" de quem tem muito para dizer e por isso recusa-se obedecer à métrica, ou recorre-se, para fazê-lo, ao mastigar de sílabas que são metralhadas com a eficácia de uma AK-47, mas são percetíveis e dizem coisas com o seu sentido e valor. Essas palavras são valorizadas e elevadas ao estatuto de audíveis por mais um desconhecido produtor, Kid Ground, que prova que no ramo da produção o nosso Hip Hop evoluiu anos-luz mais rápido que todos os outros domínios dessa cultura, incluíndo o Mceeing.
São 3 faixas e as duas primeiras são as minhas prediletas. Saíu bem o refrão da Crucifikem a Tirania: "Nós temos pregos, troncos, martelos e coragem, marchemos para o Palácio do Mal e crucifiquemos a tirania!".
01.Não Vota
02.Crucifikem a Tirania
03.Geração Robotizada
Catem o mambo aqui
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