Grandas sonoros dessa maliana. Não faço ideia do que diz mas kuya dê mili. A música maliana tem muitos talentos destes e o álbum desta "menina" de 30 anos vale mesmo a pena ouvir. Confirmem só a doçura na voz
Isto é um espaço pessoal, aqui hei de meter essencialmente música que de alguma maneira me moldou, mas posso ter alguns desvarios eventuais. Se algum artista se sentir "roubado" por ter a sua música partilhada, que mo indique, para que eu possa apagá-la com a máxima prontidão
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Bruno M - Batida Únika Vol.2
Estou completamente siderado por este disco. Há muito tempo dei uma pausa no kuduro que, para mim, se tornou monótono e, consequentemente, aborrecido. Parecia tudo igual, o pessoal a desistir de inventar e a quererem se copiar subindo no comboio dos mambos que pegam, os auto-tunes, os instrumentais mais sintetizados, a tendência para o afro-house e o kulove, as letras desprovidas de humor, denúncia ou reivindicação e tendendo à celebração do superficial, do fútil, do efémero. Tem piada durante um tempo, mas eventualmente satura.
(Re) Enter Bruno M, o kudurista que sempre fez a diferença, sendo sólido nas rimas, nos instrus e quando está mesmo on-fire, em ambos. Sempre foi para mim o kudurista mais consequente, não fazendo sons a levantar bandeiras de partidos (coisa que outro dos meus grupos preferidos, os Kalunga Mata fizeram sem pudores), mostrando sempre um nível de inteligência na execução praticamente irrepreensível. Não gostava de tudo no Bruno. Nos seus momentos menos impressionantes ele engrossava só o coro de rimas de gabarolice e estiga/bife e alguns desses sons também levaram FFWD. Mas o Bruno sempre revelou uma preocupação em incluir rimas conscientes nos seus sons, às vezes disfarçadas no meio das outras "normais", outras vezes descaradas e desgarradas, como o meu verso preferido do tema Dança da Tropa, que no entanto só chega no 3º minuto, depois de outras rimas "normais": "Nesta cidade, reina a escassez de oportunidades. Na faculdade paga-se sempre, é uma realidade e outros enchem CV em cadeias. Vidas alheias colam em teias, marginais com caras de playas. Olho o mundo que me rodeia, cada tristeza é uma ideia..." e continua, este verso é poderoso até ao fim e meteu-me "em sentido" sempre que fosse ouvir um tema novo do Bruno M.
Mas este disco supera todas as expectativas. É absolutamente incrível, o nascimento de uma identidade inequivocamente consciente, a demarcação de uma corrente no kuduro como foi quando, nos idos anos de 1982 e no longínquo bairro do Brooklyn, Grandmaster Flash & The Furious Five introduziram indelevelmente com o tema "The Message" o elemento consciência na música Hip Hop, até aí, também ele uma mera celebração permanente da vida.
Fica difícil escolher que linhas citar para vos exemplificar a assunção de kudurista consciente a tempo inteiro do Bruno M (apesar do brother dizer que este é o último álbum que faz), mas se calhar vou pegar exclusivamente no meu tema preferido até agora, o "Por Cada Lágrima": "Imagina se fosse tua a família que está na rua, o mendigo que está na estrada sem abrigo e sem morada, a criança que pede esmola, quando devia estar na escola, mas como ir para escola com fome e sede? Ela não te rouba mas pede, mesmo assim, sem um pouco de amor, só lhes dás frustração e mais dor", mais esta "...mas o poder não tem paradeiro, hoje está contigo, amanhã connosco. Sou sincero comigo mesmo e verdadeiro para convosco. Quando a água do rio seca, quando o velho fica careca, há muita história por se contar, tenho alguns motivos para rir, mas outros tantos pra lagrimar", ou ainda "A culpa também é daqueles que ensinaram-nos que as nossas necessidades falam mais alto que a moral. Somos todos necessitados, será que ainda temos moral? Eu dedico essa canção para todos os angolanos que não trocam a moral pelo pão". FODA-SE, PUTA KIA PARIU, TÁ TUDO DITO! Este álbum é uma jóia e tem de estar na coleção pois será uma referência quando daqui a 30 anos se olhar para a história da música de Angola e ficarão envergonhados aqueles que, pelo menos, não puderem dizer: Sim, lembro-me, mas não gostava muito. Há que conhecer este disco.
Se tiver alguma coisa a apontar é que, desta vez, parece que o homem fez tudo sozinho e se alguns instrumentais conseguem rebentar tudo, outros ficam a dever saldo às letras, ficando um pouco aquém do endiabrado ritmo do kuduro. Um dos instrumentais mais bem conseguidos para mim é o do Azubayo, não sendo dos temas mais conscientes, tem também uma força desgraçada porque é um daqueles exercícios em que o Bruno gosta de exibir o seu talento de MC rimando a estrofe inteira com a mesma terminação. Outros instrumentais são menos impressionantes e menos "catchy", dependendo os sons das suas rimas para vingarem.
Para mim, o melhor álbum de kuduro de sempre. A fasquia está elevada, esperemos que a partir de agora outros Bruno M se revelem (Rei Panda o papoite, confirma, nu maya), que isto não seja coisa de um único MC, que nasça realmente a corrente consciente dentro do kuduro, que diga-se, estava mesmo a pedir uma sacudidela.
01. Entrevista
02. Má feat. Puto Prata
03. Aka Mba feat. Marcos Dacoco
04. Azubayo
05. Vamos Aonde
06. Da Gazela feat. Game Walla
07. Yuki
08. Não me Leve A Mal
09. Dança dos Comba
10. Rotina
11. Takule Kuya
12. Por Cada Lágrima (Intro)
13. Por Cada Lágrima
14. Anda, Para
15. Ewé
16. Dicas
Tou a biznar o link do AngoMúsicas por isso credito-os enviando-os para catarem o mambo lá
(Re) Enter Bruno M, o kudurista que sempre fez a diferença, sendo sólido nas rimas, nos instrus e quando está mesmo on-fire, em ambos. Sempre foi para mim o kudurista mais consequente, não fazendo sons a levantar bandeiras de partidos (coisa que outro dos meus grupos preferidos, os Kalunga Mata fizeram sem pudores), mostrando sempre um nível de inteligência na execução praticamente irrepreensível. Não gostava de tudo no Bruno. Nos seus momentos menos impressionantes ele engrossava só o coro de rimas de gabarolice e estiga/bife e alguns desses sons também levaram FFWD. Mas o Bruno sempre revelou uma preocupação em incluir rimas conscientes nos seus sons, às vezes disfarçadas no meio das outras "normais", outras vezes descaradas e desgarradas, como o meu verso preferido do tema Dança da Tropa, que no entanto só chega no 3º minuto, depois de outras rimas "normais": "Nesta cidade, reina a escassez de oportunidades. Na faculdade paga-se sempre, é uma realidade e outros enchem CV em cadeias. Vidas alheias colam em teias, marginais com caras de playas. Olho o mundo que me rodeia, cada tristeza é uma ideia..." e continua, este verso é poderoso até ao fim e meteu-me "em sentido" sempre que fosse ouvir um tema novo do Bruno M.
Mas este disco supera todas as expectativas. É absolutamente incrível, o nascimento de uma identidade inequivocamente consciente, a demarcação de uma corrente no kuduro como foi quando, nos idos anos de 1982 e no longínquo bairro do Brooklyn, Grandmaster Flash & The Furious Five introduziram indelevelmente com o tema "The Message" o elemento consciência na música Hip Hop, até aí, também ele uma mera celebração permanente da vida.
Fica difícil escolher que linhas citar para vos exemplificar a assunção de kudurista consciente a tempo inteiro do Bruno M (apesar do brother dizer que este é o último álbum que faz), mas se calhar vou pegar exclusivamente no meu tema preferido até agora, o "Por Cada Lágrima": "Imagina se fosse tua a família que está na rua, o mendigo que está na estrada sem abrigo e sem morada, a criança que pede esmola, quando devia estar na escola, mas como ir para escola com fome e sede? Ela não te rouba mas pede, mesmo assim, sem um pouco de amor, só lhes dás frustração e mais dor", mais esta "...mas o poder não tem paradeiro, hoje está contigo, amanhã connosco. Sou sincero comigo mesmo e verdadeiro para convosco. Quando a água do rio seca, quando o velho fica careca, há muita história por se contar, tenho alguns motivos para rir, mas outros tantos pra lagrimar", ou ainda "A culpa também é daqueles que ensinaram-nos que as nossas necessidades falam mais alto que a moral. Somos todos necessitados, será que ainda temos moral? Eu dedico essa canção para todos os angolanos que não trocam a moral pelo pão". FODA-SE, PUTA KIA PARIU, TÁ TUDO DITO! Este álbum é uma jóia e tem de estar na coleção pois será uma referência quando daqui a 30 anos se olhar para a história da música de Angola e ficarão envergonhados aqueles que, pelo menos, não puderem dizer: Sim, lembro-me, mas não gostava muito. Há que conhecer este disco.
Se tiver alguma coisa a apontar é que, desta vez, parece que o homem fez tudo sozinho e se alguns instrumentais conseguem rebentar tudo, outros ficam a dever saldo às letras, ficando um pouco aquém do endiabrado ritmo do kuduro. Um dos instrumentais mais bem conseguidos para mim é o do Azubayo, não sendo dos temas mais conscientes, tem também uma força desgraçada porque é um daqueles exercícios em que o Bruno gosta de exibir o seu talento de MC rimando a estrofe inteira com a mesma terminação. Outros instrumentais são menos impressionantes e menos "catchy", dependendo os sons das suas rimas para vingarem.
Para mim, o melhor álbum de kuduro de sempre. A fasquia está elevada, esperemos que a partir de agora outros Bruno M se revelem (Rei Panda o papoite, confirma, nu maya), que isto não seja coisa de um único MC, que nasça realmente a corrente consciente dentro do kuduro, que diga-se, estava mesmo a pedir uma sacudidela.
01. Entrevista
02. Má feat. Puto Prata
03. Aka Mba feat. Marcos Dacoco
04. Azubayo
05. Vamos Aonde
06. Da Gazela feat. Game Walla
07. Yuki
08. Não me Leve A Mal
09. Dança dos Comba
10. Rotina
11. Takule Kuya
12. Por Cada Lágrima (Intro)
13. Por Cada Lágrima
14. Anda, Para
15. Ewé
16. Dicas
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