sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Sa Ra Creative Partners - Nuclear Evolution: The Age of Love

Sem palavras para esses malandros que já estão na cena há tantos anos e, de algum modo, sempre me conseguiram passar sob o radar. Apesar de curtir bwé de sons que eles produziram há bwé de tempo (o Agent Orange do Pharoahe Monch para citar um exemplo), nunca me chamaram particularmente atenção pela sonoridade dos seus instrumentais, talvez por aparecerem isolados no meio de outros igualmente nervosos (ver "New Amerykah), sinceramente não tenho explicação para tal gafe.

O facto é que ouvindo uma sequência de músicas produzidas por eles, a pessoa dá-se conta que se encontra perante algo de extremamente inovador, não querendo dilatar-lhes o mérito, pois, todos sabemos que nada se cria do nada, tudo o que é novo na verdade não é mais do que a apropriação do antigo (de preferência de vários antigos) numa interpretação contemporânea, ajustada à evolução (ou regressão, dependendo do ponto de vista de quem observa) das mentalidades que se transformam acompanhando a mutação dos modos de vida em sociedade. Sa Ra fazem música do nosso tempo, música de toda uma geração que já cresceu tendo o hip hop como uma presença incontornável (ainda que questionável e questionada) do panorama musical mundial.

Estes jovens já puseram a mão em discos de artistas que batem múltiplas platinas (Dr. Dre, Erykah Badu) e outros mais low-profile, ou por outra, menos mainstream, tipo Talib Kweli, Jurassic 5, Jill Scott, Bilal, entre muitos outros desse calibre. Para não falar das remisturas dentro e fora do universo Hip Hop. O CV é muito extenso.

Foi ao ouvir o álbum do Shafiq Husayn, 1/3 do grupo, na Rádio Oxigénio que a minha curiosidade foi despoletada e chegando a casa nesse dia me pus a pesquisar mais sobre o indivíduo e quanto mais cavava, mais descobria subterrâneos percursos tão familiares por já terem sido inúmeras vezes trilhados pelos meus ouvidos calejados dessas sonoridades hiphopianas.

Dois acontecimentos sequenciaram-se muito pouco tempo depois dando-me o empurrão que faltava: um brada deixou um comentário no post do Shafiq encorajando-me a escuta dos álbuns do trio e, quase simultaneamente, li a review deste álbum na hiphopsite.com e achei que não devia adiar mais.

Porra, eles são fortes yá? Tão fortes que o Kanye assinou-os na sua G.O.O.D. Music. Tão fora que acabaram por saltar desse barco quando a editora foi absorvida pela Sony que não sabia como lhes marketear.

Assim, depois de já terem lançado um disco pela Babygrande, foram recrutados pela Ubiquity Records (Breakestra, Platinum Pied Pipers, Shawn Lee) para este segundo ataque nuclear, proclamando a necessidade da aniquilação da pequenez de espírito e anunciando a chegada da Idade do Amor. Roçando por várias vezes o ordinário (Bitch Baby, Bone Song), o disco é um festim de requintados pratos auditivos e, sem nunca usar fato-e-gravata, os Sa Ra conseguem estar a altura de qualquer empertigada gala exclusiva aos luxuosos, sem nunca no entanto parecerem esforçar-se para conquistar esse lugar ao Sol.

As sensações que me percorrem ao ouvir isto são tão maravilhosamente ambiguas e intensas, que eu ainda não consigo verbalizá-las de maneira justa e resumida. Daqui a dois anos e mais uns calos provavelmente conseguirei traduzir melhor o impacto indelével que este grupo está a causar na minha modesta e ainda débil sensibilidade musical.

CD 1:
  1. Spacefruit
  2. Dirty Beauty
  3. I Swear
  4. Melodee N’mynor
  5. He Say She Say
  6. Traffika
  7. Souls Brother
  8. Bitch Baby
  9. Love Czars
  10. Gemini’s Rising
  11. The Bone Song
  12. White Cloud
  13. Move Your Ass
  14. Love Today
  15. Can I Get You Hi
  16. My Sta
  17. Cosmic Ball
CD 2:
  1. Spaceways Theme
  2. Just Like A Baby
  3. Double Dutch (Co Co Pops)
  4. Death Of A Star (Supernova)
  5. Powder Bump
  6. Hangin By A String
Tenho um link rapidshare e um link hotfile. O rapidshare tem mais qualidade (320kbps) mas é muito maior e por isso dividido em dois ficheiros (dois downloads portanto). O hotfile será para aqueles com ligações mais caretas que não permitem luxos.



Catar nos comentários

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Asa - Beautiful Imperfection

Aguardei com bwé de expectativa por este segundo álbum da Asa, mordendo as unhas com receio que a vida dela depois do estrondoso debut desse uma volta tal que lhe fossem desaparecer os traços de humildade, ingenuidade e altruísmo que, com a profundidade de uma alma atormentada, lhe fizeram compor e cantar contagiando quem a ouvisse, com a pureza tão mágica que irradiava naturalmente quando apareceu na cena musical. Com alguma tristeza minha, metade dos meios receios confirmam-se.

Infelizmente este álbum não ME toca lá como o primeiro. Continua a ser totalmente sincero, afortunadamente mais preocupado com a musicalidade e não com os fast-food hits que proliferam nas ondas hertzianas e cartesianas dos nossos tempos, consumidas avidamente pelos jovens que ainda assim têm a impressão de estar a marcar a diferença, continua o pop inofensivo do disco de estreia executado por uma ingénua adolescente (ingenuidade é sempre associado a uma idade qualquer antes da adulta né? que merda!), com a ruptura sendo marcada pela passagem de um pop consciente, engajado, com mensagem, a um pop meloso mais focado nas suas relações, (des)amores e problemas sentimentais.

A musicalidade continua lá, mas, na opinião deste modesto melómano, metade do interesse desvaneceu-se com o foco da música passando a ser menos farol e mais followspot, apesar de não ter nada a criticar a Asa, a música dela deve continuar a reflectir os seus estados de espírito e as fases pelas quais está a passar. Só não me interessa tanto esta fase comparada com a anterior.

Ainda assim o álbum está bem agradável. Verifiquem se tiverem largura de banda para isso, tempo, paciência, ou caso prefiram reservar-se ao direito de formarem a vossa própria opinião :).

1. Why Can’t We
2. Maybe
3. Be My Man
4. Preacher Man
5. Bimpé
6. The Way I Feel
7. OK OK
8. Dreamer Girl
9. Oré
10. Baby Gone
11. Broda Olé
12. Questions



Catar nos comentários

Kanye West - My Beautiful Dark Twisted Fantasy

Porra, será possível? Depois de 3 álbuns clássicos, cada um à sua maneira, depois de parecer que a "evolução" artística do Kanye estaria mais próxima dos auto-tunes horrorosos de 808 Heartbeat (não me fodam, esse álbum para mim é uma cagada autêntica), da luxúria do seu novo estilo de vida a que teve acesso graças a sua rápida ascensão financeira, quando parecia que o seu destino no jet-7 estava traçado e não augurava nada de bom graças ao comportamento obtuso e arrogante que lhe fez irromper três vezes pelo palco acima destruindo os momentos de glória de outros artistas que julgou não serem merecedores dos prémios que receberam, contra todas as expectativas, o Kanye mais uma vez reinventou-se, reinventou a sonoridade da sua música, empederneceu-se e voltou a escrever e a rappar como se ainda não tivesse dinheiro suficiente para pagar a renda, com tal dureza, tal sinceridade que chega a ser brutal, tornando este álbum possivelmente o seu melhor até a data. E eu que nunca pensei que ele pudesse suplantar o High School Drop Out, vi o meu cepticismo adiado não uma, não duas, mas três vezes. O incrível arrogante cabronaço do Kanye é REALMENTE um génio da geração hip hop, permanentemente a empurrar os limites fronteiriços da definição desse género musical.
Well done Ye!

PS. Acho que esses filhosdaputa apagaram o post. Nem foi o link, foi mesmo o post! Saquem enquanto está no ar.

01 Dark Fantasy
2 Gorgeous f. KiD CuDi & Raekwon
3 Power f. Dwele
4 All Of the Lights (Interlude)
5 All Of the Lights f. Alicia Keys, Charlie Wilson, Elly Jackson, Elton John, Fergie, John Legend, KiD CuDi, Rihanna, Ryan Leslie, The-Dream & Tony Williams
6 Monster f. Jay-Z, Rick Ross, Nicki Minaj & Bon Iver
7 So Appalled f. Jay-Z, Pusha T, CyHi Da Prynce, Swizz Beatz & RZA
8 Devil In A New Dress feat. Rick Ross
9 Runaway f. Pusha T
10 Hell Of A Life
11 Blame Game f. John Legend
12 Lost In The World
13 Who Will Survive In America



Catem o mambo nos comentários

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Revolução? Dia 7 de Dezembro de 2010

Ora bem, um futebolista com dois palmos de testa e algum sentido de lógica é coisa (extremamente) rara nos dias que correm. Nós sabemos disso porque, cada vez mais, para se ser um profissional de alta competição em certos desportos muito concorridos, os jovens têm de se dedicar a tempo quase inteiro a dita modalidade para atingirem a excelência que lhes pode render aqueles milhões, supostamente garante de estabilidade financeira para a velhice, já que essas carreiras são candentes mas fugazes e efémeras. Claro que a grande ambiguidade nisso tudo é que, não tendo dois palmos de testa, muitos deles não aprendem a gerir a sua fortuna e acabam infortunadamente trapaceados pelos seus gestores de carreira, ou esbanjam acefalamente o seu guito esquecendo que deixou de existir a torneira de fornecimento e passou apenas a existir a de usufruto.



Enfim, o Eric Cantona não terá provavelmente dito estas palavras imaginando que tomariam a proporção que tomaram, mas a verdade é que, espalhada por diversos blogs de desporto, esta entrevista acabou por cair nos ouvidos de activistas políticos que estão a tentar "capitalizar" na popularidade de um antigo astro e lançar um movimento de protesto cujas ondas podem ter infinitamente mais repercussões que o "manifestar-se nas ruas, à chuva, ao frio, com dizeres nos cartazes e palavras de ordem" como desdenha o Eric, e até abriram um site no facebook chamado de Bank Run que já tem cerca de 50 000 "amigos" que supostamente irão aderir ao gesto que tanto pode limitar-se em ser simbólico, se apenas algumas pessoas participarem, como catastrófico se houver efeito de contágio (a maior parte das pessoas haveriam de participar pelo simples MEDO que o SEU dinheiro acabasse).

Não vou argumentar aqui da lógica dos argumentos do Eric, porque para mim eles são óbvios, tão óbvios que eu não poderei participar nesse movimento, pois, por essas mesmas razões, eu fechei todas as minhas contas em 2008 e até agora tenho sobrevivido muito bem sem esses infelizes a investirem o meu dinheiro em coisas que eu desconheço e ainda a cobrarem-me juros pela "manutenção" da minha conta.

Revolução? Não diria tanto, mas certamente um grande abanão à estrutura do poder que pensa que a única vez que a opinião do povo conta é quando votam. Não custa nada participar. Levantem o dinheiro todo, deixem 10 cêntimos pois assim não vos podem fechar a conta. Depois de uns tempos, se o vosso banco não tiver falido entretanto, voltam a depositar.

Podem ler mais em vários sítios da web, para já têm este aqui e mais este aqui que foi onde caí antes de postar.