sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O ufolo, tubia!... (A liberdade é fogo!)








Poderia debruçar-me num texto repleto de nuances informativas, hiperligações de artigos e vídeos, adentrando-me nesta espiral de acontecimentos, mas acredito que todos temos acompanhado, de certa forma num misto de emoções, frustrações, passividade de alguns e engajamento de outros, o panorama sócio-político de que o governo Angolano em suas dissonâncias, tem presenteado ao seu povo, a respeito da Liberdade de Expressão, dos Direitos Humanos, Cidadania, Justiça, Integridade Pessoal, Capacidade Civil e o Direito a Vida, nestes 118 dias.


Escrevo com o intuito de enaltecer estes 15 bravos, que a sua luta e esforços, apesar de retidos pela desinformação e outras ferramentas de instrumentalização maléfica, pelos órgãos de comunicação social e entidades governamentais, não tem sido em vão.


Faço uma vénia aos nossos manos:

- Manuel Chivonde Batista(Nito Alves)
- Afonso Mayenda João Matias(Mbamza Hamza)
- José Gomes Hata
- Hitler Jessy Chivonde
- Inocêncio António de Brito(Druxe)
- Sedrick Domingos de Carvalho
- Albano Evaristo Bingocabingo
- Fernando António Tomás(Nicola)
- Nelson Dibango Mendes dos Santos
- Arante Kivuvu Italiano Lopes
- Nuno Àlvaro Dala
- Benedito Jeremias Dali(Dito)
- Domingos José da Cruz
- Osvaldo Caholo
- Henrique Luaty da Silva Beirão(Ikonoklasta)


Pela sua tenacidade, coragem, arcabouço, convicção e abnegação, diante dos maus tratos e espancamentos a uns, e greves de fome de outros, ao ponto de meterem a vida e integridade física em risco, sob forma de protesto contra o término do prazo da prisão preventiva(90 dias), sem acusações formais, que foram acometidos.


O vosso esforço é deveras apreciado por todos, e com muita fé, orações, e uma enorme corrente de solidariedade, que a cada dia ganha admiradores, multiplicando-se pela diáspora e mundo afora, acende a chama de muitos a trilharem este caminho sinuoso, repleto de desgostos e espinhos, e uma apatia constante de familiares, amigos e conhecidos, em busca de uma Angola mais justa e igual a todos, de Cabinda ao Cunene, e do Mar ao Leste.


Temos medo?
Sim temos.
Medo de perder os empregos(o pão), regalias e posições auferidas?
Sim temos.
Medo de sofrer perseguições e outros actos de índole negativa?
Sim temos.
Mas somos Angolanos.
Sim, somos Angolanos e o país é nosso, porque se não lidarmos com tais problemas de forma amadurecida, sem fanatismo, ignorância, partidarismo e sim com uma postura e percepção clara, responsável e coerente, quem irá resolver por nós??


Trata-se de contribuir com o pouco que temos e podemos, 
ainda que muitos não estejam engajados de corpo presente e peito descoberto, é por uma questão de humanismo, solidariedade e cidadania, pois a luta é feita de todos ângulos.

Afogar-se num silêncio tumular, sem ao menos tecer três(3) linhas, uma frase de apoio e ver os nossos irmãos padecer, isto sim é covardia.



Ao mô wipy Luas, aguenta firme e come. Hoje, li a carta que escreveste firmando a convicta decisão em ires até as últimas consequências na tua greve de fome, o que é para lá de venerável.
Mas não desperdices o sopro da tua vida dentro desta resoluta visão, em forma de sacrifício aos tiranos e déspotas Angolanos, julgando que altruisticamente estamparás um exemplo e testamento aos demais, em prol desta causa.


Porém, mais do que um exemplo para a posteridade, creio mais na vida para servir de espelho e reflexo, não só aos que te acompanham nesta jornada, mas mais intrinsecamente a tua família, em especial a esposa e filha.


E acredito que todos que acompanham tal desenrolar, compartilham da minha opinião, se a causa que lutamos é pela liberdade, então a liberdade é vida, e vida é liberdade, energia, força de vontade, um amor por se aprender, oração diária e uma luta constante.


Como a minha querida Mãe diz em Kimbundu:
''O ufolo, tubia!...'' A liberdade é fogo!


Aos 15 e a toda gente, vamos prezar pela liberdade, com zelo, prazer, liberdade aos nossos irmãos, liberdade aos nossos direitos, liberdade para educar e construir, liberdade para contribuir, liberdade para transparecer paz, justiça e igualdade, liberdade ao nosso país...

#Liberdade já!!
  

sábado, 6 de junho de 2015

Rap de rijura vindo das terras de Madiba

Hoje o meu wí Faradai me meteu a curtir dois clips de rappers sul africanos que me impressionaram muito, tanto pela qualidade dos MC's (letra e escorrega), como dos beats (instrumentais pesados e enriquecidos de elementos melódicos únicos e surpreendentes, sem que se possa fazer paralelos com aqueles pesos-pesados estadunidenses), como a qualidade dos vídeos (storyboard, movimento, cor e o elemento afro), sobretudo do Hottentot Hop que, feito com um orçamento de 1500 dólares, está pura e simplesmente fenomenal.

Depois deixei-me levar pelo youtube que tem agora uma função "se gostou disto, sugerimos também" que encadeia automaticamente os vídeos de maneira sucedânea e fui sendo sempre obrigado a dizer "uau, tanta coisa que me passa desapercebida".

Nos idos anos 90 conhecia apenas os Prophets of the City e apenas porque conseguiram furo nos programas de hip hop da MTV/BET. Depois, mais recentemente, tive contacto com Tumi através do seu projeto com os The Volume (2/3 composto por elementos dos 340ml) e com um grupo bizarro chamado Die Antwoord (The Answer) que sempre interpretei como sendo um grupo de paródia. Simplesmente outra liga.

Vou começar então pelos dois vídeos que o Faradai me passou e depois os outros que valem também a pena curtir.







quarta-feira, 29 de abril de 2015

Alice Smith - Um autêntico enigma

Esta mboa é para mim uma das provas mais evidentes de que ser incrivelmente talentoso, original e fazer música "de puta madre" simplesmente não é suficiente para se aceder aos billboards e atingir sucesso comercial. Não sei se é a Alice que resiste ao assédio dos olheiros do circuito que compõe a indústria musical, sempre à coca de um fruto fresco para espremer até à última gota, ou se é algum problema físico que faz com que não se coadune com os padrões de beleza exigidos por esse sorvedouro de almas e multiplicador de vacas-leiteiras: cabelo "tipo uma wí aí também"? Dentes separados? Xuxa pequena? Mau hálito?

Nem tinha dado conta que ela tinha lançado um segundo disco, passou-me completamente por debaixo do radar o que, acrescido do facto de eu ter sido completamente arrebatado pelo For Dreamers, Lovers and Me, me fez ficar muito temeroso de apertar no play do segundo álbum.

Mas eis que a Alice consegue fazer quase o inédito e, forçando-me logo com as primeiras notas a rechaçar o meu ceticismo, me conquista, tal como já o tinha feito 6 anos antes, com a sua enternecedora musicalidade, sem nunca ser piegas, mas sempre profundamente sincera.

Lamento por ela que não tenha mais visibilidade, espero que para ela seja a suficiente para a manter pura e motivada para continuar a fazer esta música fantástica.


domingo, 29 de março de 2015

Dark Time Sunshine me fecharam yá?

Estou a editar este post porque decidi aumentar lá mais vídeos deste que, apesar de me chegar com mais de dois anos de "atraso" é um dos álbuns de hip hop que mais me entrou nos últimos anos... uma frescura de enregelar o prepúcio!

Gostava de ter mais tempo para escrever reviews em condições, mas não tendo, façam a vocês próprios o favor de encontrar o disco ANX o mais rapidamente possível e deleitem-se.

Entretanto, podem também consumir o Phryme e o Blasphemy para algo mais "tradicional boom bap".






terça-feira, 3 de março de 2015

THEESatisfaction : EarthEE




Amor, respeito e equidade:

Energia renovável e quiça fórmula mais importante nas relações interpessoais humanas do que um simples movimento social... È nesta sequência que as THEEsatisfaction acabam viajando no prisma deste mundo aparte.

Oriundas de Seattle, o duo manifestado por Catherine Harris-White(compõe, canta e ocasionalmente produz) e Stasia Irons(rima e produz), retorna após 3 anos de hiatus criativo desde a sua estreia e por sinal bem recebida do álbum awe naturalE.

Mesclando um afrocentrismo feminista e corpóreo num Neo Soul Psicadélico, Hip Hop propulsivo, Funk emborrachado aliado a uma dualidade acústico-electrónica exteriorizada em conceitos e temas como a determinação e força de vontade, oposição a influência destrutiva da mídia, compaixão universal e a weed.

Tudo no foco de um quadro de conflitos político pessoais e a energia feminina de duas mulheres em busca da sua artisticidade.

Catherine Harris-White & Stasia Irons
Catherine Harris-White & Stasia Irons

O segundo neste caso EarthEE, mais uma vez evoca a mesma natureza com simples refrões, a triparia atmosférica e familiar em batidas no mesmo fluxo com versos conscientes, recriando o ontem da música africana num rosto presente aonde a lenta meditação enaltece a imaginação negra.





Prophetic Perfection
(a primeira track) é a clara indução ou convite para descermos aos níveis inferiores da tracklist que este álbum reserva-nos pelo canto de Harris:
''Said the bird to the water: May I take a sip? May I dip my toes in it?''

Ou pelas rimas de Irons sobre um synthy funk groove desmistificando a natureza do projecto nas calmas no tema GMO:
"The gods were watching our eyes, keep this shit on the low, so clandestine,"

Combinados por temáticas mais chilladas aonde os manos completamente relaxados deixam-se levar em transportes intergaláticos, o universo Kemético descrevido em rimas poético-políticas na liberdade sem restrições, participações do seus contemporâneos colegas de profissão do grupo Shabazz Palaces liderados por Ishmael Butler, ex Digable Planet outrora conhecido por ''Butterfly'', remanescente da era dourada do Hip Hop noventista, a inconfundível Meshell Ndegeocello, Porter Ray, Taylor Brown e Erik Broods.





No geral se ruminarmos duas ou três vezes neste disco, evoca interpretações mistas, o quadro de um movimento eremita na qual a visualização progressiva defende os pilares da africanidade americana.
O engajamento comunitário apesar da sua dimensão criativa ambígua porém intrigante de ver o seu percurso nestas mulheres.

Influênciadas claramente pelos predecessores da música afro-americana como Sun-Ra, Jonh Coltrane, Marian Anderson desde o movimento a mística dos drums sequenciados, os sintetizadores esparsos criando o trance na viagem entre o tempo e espaço, a palavra, rima e o canto.

Neste aspecto a Sub Pop, label em Seattle na qual deu santuário a artistas desta índole peculiar mostra claramente em dar uma oportunidade a seres que ressoem suas escolhas artísticas em polos opostos e fora da zona de conforto do historial da mesma pois é como as THEEsatisfaction dizem:
''A mudança é inevitável e necessária, pois ela é o percurso para a transcendência.''


Link do álbum:
http://hitfile.net/download/free/0jgO


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Joell Ortiz - Phone

Grande som, grande vídeo, grande storytelling.

Não sou um fã absoluto do Joell ou da sua crew, Slaughterhouse (ok, já disse, é o quê?), mesmo achando que todos eles são fortes e sólidos, simplesmente alguma coisa falha em captar a minha atenção incondicional. Dito isto, o talento dele(s) é inegável e neste som o Joell fez tudo perfeito: escolha do instru, construção da ideia, escorrega e o video está simplesmente incrível. Música talhada para o sucesso comercial e aparentemente passou totalmente desapercebida. Vá-se lá perceber esse mercado de merda.


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Ibeyi - As gémeas maravilha

Esta dupla de irmãs gatas foi-me apresentada pela minha mulher que não poucas vezes me dá a conhecer coisas interessantes e, às vezes, até consegue me pôr a gostar de artistas de quem já tinha desistido na adolescência (props para o último álbum da Beyoncé).

Esta aqui teve força suficiente para merecer uma partilha imediata.

As miúdas, Lisa (piano) e Naomi (Cajón e Batá) são filhas de um renomado percursionista cubano, Anga Díaz, que tocou em grupos como os Buena Vista Social Club (mas muito mais do que isso, vejam o link) e que morreu precocemente aos 45 anos de um enfarte. Têm nacionalidade francesa mas assinaram para um editora americana, cantam em inglês e em yoruba, língua levada por escravos nigerianos para Cuba ainda nos idos 1700 e de onde tiram o seu nome, Ibeyi, que significa "gémeas".

A música River sem dúvida alguma é o standout track e um excelente cartão de visita para as irmãs de 19 (20 já?) anos, mas o seu minimalismo assentando no piano+percursão pode tornar-se algo monótono e aborrecido.

Lembram-me um pouco uma versão mais acústica dos MIG (também franceses e já partilhado neste blog em 2008 - os últimos álbuns neste post) e têm referências muito rijas tipo Jay Electronica.

Segundo o site oficial, o álbum sai este mês

Dá para dizer: valeu meu amor, obrigado por trazeres estas irmãs para o meu repertório.






quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Minus - Juntos ao Luar

Rap do Porto me kuya mais.
A música e a letra deste estão altamente, mas o vídeo está S-U-P-E-R!


sábado, 24 de janeiro de 2015

D'Angelo, Wawêeeeeee

Para todos os mijões com manias de grandes wís do R&B e Neo Soul, o D'Angelo voltou para mostrar quem é que é o pai grande desta porra!!!

Álbum completo para escutar no link abaixo. Wís que não estão a fazer música para estar no top da Billboard ou em alta rotação na rádio e tv dos que batem.

Mambo tá rijo!


domingo, 28 de dezembro de 2014

yU - Um wí estranho

Tenho estado ultimamente a receber injeções de cenas novas e consistentes por parte do meu tropa Faradai (Jazzmática, projeto bwé interessante, sólido e dissonante em relação aos mambos que têm sido feitos na banda) e, entre as centenas de cenas fortes que já "descobri" graças a ele, um dos mambos que mais me bateu foi um projeto chamado "1978ers", um projecto de um MC (yU) com o seu produtor (Slimkat). Primeiro curti da vibe, depois ouvi o álbum e pensei: xê esse mambo assim rijo sai de que catacumbas e como é que nunca antes tinha ouvido falar de nenhum dos dois? Menos de um mês mais tarde outra pedra, mais uma vez com o mesmo MC: um grupo de 3 chamado Diamond District com Oddissee, X.O. e yU e, mais uma vez, a cena é forte. Será a revelação do ano para mim, sobretudo porque mais uma vez se prova que não se deve jamais julgar um livro pela capa. Se eu me cruzasse com este yU na rua ia pensar que era apenas um wí do Biafra ou descendente e se me dissessem que ele fazia música ia imaginá-lo a tocar algum instrumento de percursão africana e nunca a rimar desta forma.

Forte, muito forte. Obrigado Faradai, obrigado Mello Music por serem um novo tipo de Rawkus Records.