segunda-feira, 24 de março de 2014

Stromae - Racine Carrée





Há sensivelmente cinco anos, o seu single de estreia, "Alors on Danse", fez furor mundialmente e catapultou este jovem belga, cuja mulatice vem do pai Ruandês, para os holofotes reservados aos artistas mais badalados no mundo a um dado momento. Não me despertou a atenção para além do eventual "eis algo um pouco fora do vulgar", mas por aí me deixei estar, sem a mínima pachorra para ir fuçar no lixo audiofónico de mais um "one-hit wonder".

Um belo dia, a minha amiga Evelise enviou-me por email o vídeo do Papaoutai, que eu vi com muito interesse estético pois trata-se de um vídeo lindíssimo, mas a princípio, não fiquei muito conectado ritmicamente com o rapazolas, pois não é propriamente a minha praia. A meio do segundo verso e depois de já ter sido forçado várias vezes a reconhecer intimamente "hey, grande linha; hey, grande rima; hey, afinal isto é MESMO especial" rendi-me às evidências e deixei-me cativar. Mas só depois de ir ver mais um vídeo que me foi indicado pelo "nick" um dos únicos frequentadores deste espaço que tem interagido comigo nos comentários é que decidi baixar o álbum e dedicar-lhe alguns minutos. Acabei por ouvi-lo duas vezes seguidas, completamente aturdido com o facto de (outro) álbum pop me arrebatar desta maneira (o último que o fez foi o dos MGMT).

Ao passo que a maior parte dos artistas que tentam lançar um charme ao mainstream escolhe temáticas mais ou menos expectáveis revestidos por instrumentais amigos de pista de dança,abordando-as de forma ainda menos surpreendentes, este, sem dispensar a pista de dança no seu género arraçado de pop pastoso e hip hop consciente (que assume aliás com um à vontade incrível e, surpreendemente, não lhes desvinculando de revestimentos muito melódicos e musicais), consegue roçar o absurdo na relevância dos temas quase anti-pop e letras muito para lá do consciente de pacotilha, super-inteligentes, super-poéticas e sentidas, tendo inclusivé um tema homenageando "La Diva aux pieds nus", a saudosa Cesária.

Eu iria ainda mais longe, admitindo que o achei bastante audaz, provocando sempre a audiência mundial que conquistou com o tema "Alors on Danse" (até o Kanye West fez uma remix) do álbum precedente a desiludirem-se com a total ausência das várias sequelas que esperam sempre os desbundeiros dos artistas que os fazem dançar. Os rappers é que são exímios nisso, alguns deles vindos dos cantos mais "I just don't give a fuck" do hip hop (sim, Eminem, estou a olhar para ti!) para meros repetidores de singles ("The Real Slim Shady", "Without Me", "Shake That").

Já tendo dito muito, deixo agora a vosso critério se têm paciência para lhe dedicar os 45 minutos da vossa atenção.

01. Ta Fête
02. Papaoutai
03. Bâtard
04. Ave Cesaria
05. Tous les Mêmes
06. Formidable
07. Moules Frites
08. Carmen
09. Humain à L’eau
10. Quand C’est ?
11. Sommeil
12. Merci
13. AVF (avec Maître Gims et Orelsan)

Catem o mambo aqui