sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Goldfish - Get Busy Living

Sempre que me apanho num vôo da SA uma das coisas que mais me dá prazer é explorar as sugestões de música sul-africana que têm. Sendo certo que a maior parte dos discos é daquele seu gospel muito peculiar, é constante encontrar pelo menos uma ou duas pérolas para tirar notas e explorar noutra ocasião. Nada contra o gospel deles, muito bonito e sempre bem cantado, mas, para mim, infelizmente, algo monótono, sem novidade.

A última viagem que fiz introduziu-me ao mundo de Goldfish, uma banda de música eletrónica, com bastantes padrões de bateria que se aproximam muito do House, um estilo que geralmente me faz torcer o nariz, mas isto é OUTRA COISA! Mesmo!

Eu primeiro fiquei tipo: "mmmh, este é o som da sorte, de certeza que abriram com o som mais destacado para chamar a atenção, o disco não vai aguentar manter esta fasquia". Mas a medida que ia avançando fui me rendendo às evidências, abandonando o meu cepticismo e deixando-me seduzir pela pérola que este duo concebeu.

É música que nos anima, levitante, groovy, jazzy, tipo shots de energia e sem a xaxada repetitiva de loops manhosos. Este disco mostra que os manos são estudiosos de música pois parece uma encruzilhada de linhas de TGV de tantas influências diferentes que carimbam e enriquecem a sonoridade deste "Get Busy Living", sendo o jazz predominante com muitos sopros e pianos.

Passando pelo site oficial dos artistas percebo, entre outras coisas, que entretanto já lançaram um álbum novo, constato que ambos estudaram música, que foram introduzidos ao mundo da música profissional muito cedo (ambos com 6 anos de idade), que tocam pelo menos dois instrumentos cada e que fizeram parte de uma porrada de projetos musicais diferentes, o que explica a maturidade e sensibilidade na escolha dos instrumentos e vozes adequadas para cada tema,

Este projeto surge quando um deles (Dom) começou a sentir necessidade de recorrer à produção eletrónica para levar para os ensaios com a banda (Breakfast Included), pois não conseguia traduzir com palavras a música que o seu cérebro ouvia, o que frustrava a comunicação com o resto da turma. Eventualmente o Dave começou a embeiçar-se pelas "brincadeiras" demonstrativas do Dom e o resto é história.

O nome do grupo aparece quando Dave começa a gozar com Dom por causa das suas "habilidades" em memorizar pilhas de informação de dúbia relevância, mas esquecer-se permanentemente de tudo que requisitasse memória de curto prazo, por exemplo, onde tinha colocava as chaves do carro.

Pensei em citar as minhas músicas preferidas, mas sendo um disco curto (10 temas e um reprise com edição de rádio), tão diversificado e perfeccionista nos pormenores, pareceu-me mais fácil citar as que gosto menos, e aqui sublinho mesmo o gosto menos pois, podendo merecer-me um "skip", não desgosto DE TODO deles. Sem mais rodeios: Show you how e Humbug. Agora a parte interessante: se começarem justamente por esses temas, provavelmente irão pensar: "ISTO É O PIOR? XÊ TENHO DE CONSUMIR ESSE MAMBO JÁ!". Digam depois se concordam que tem aí uma mboa com um timbre que faz pensar bwé na Beth Gibbons.

É um disco extremamente agradável e suave ou, como diria um amigo, suável e agradave. Desliza nas calmas e consegue fazer a ponte entre aqueles que são mais exigentes (meu caso) com (alguns) daqueles que gostam de ritmos que associam habitualmente à discoteca, praticamente dispensando o botão "FFWD" do vosso aparelho. Extremamente viciante e a melhor descoberta de 2013 (thank you SA)!

Se não acreditam, experimentem.

01. Crunchy Joe
02. Get Busy Living
03. Show You How
04. Call me
05. Humbug
06. Brush Your Hair
07. We Come Together
08. In too Deep
09. My Rainbow
10. Big Band Wolf
11. Get Busy Living (Radio Edit)

E estes videos 8-bit são absolutamente FAN-TÁS-TI-COS!




Catem o mambo aqui

sábado, 17 de agosto de 2013

Dakhabrakha - Light

Este ano Batida atuou no FMM e antes de subirmos ao palco esteve o lendário Hermeto Pascoal que fez um show à altura da sua reputação até que, na hora de finalizar resolveu insultar o festival dizendo que (apesar de ser a segunda vez que lá ia) "este festival é uma MERDA!". No final, génios ou não, somos todos humanos, sujeitos à imbecilidade momentânea.

 Dito isto, não foi o Hermeto Pascoal que me inspirou este post, senão o grupo que atuou antes dele, um grupo Ukraniano com um nome super-difícil de memorizar: Dakhabrakha!

 Estavam a tocar no momento em que chegámos ao recinto e houve dois ou três momentos em que foi difícil, apesar do momento exigir concentração, não abanar o cocurutu enquanto pensava "o que é isto?".

Para começar, a dificuldade em identificar que tipo de sonoridade era aquela, a língua, a interação entre as vozes femininas e a única voz masculina do grupo, a maneira como se vestiam e se posicionavam no palco. Foi hipnotizante!

Dois dias depois, ao ler alguns artigos sobre o festival, apercebi-me que não tinha sido o único a ficar bem impressionado.

Muitos chegaram mesmo a classificá-los como "a revelação" do evento, coisa que eu não poderia atestar ou desmentir pois só lá estive nesse dia, mas não me surpreenderia nada se esse sentimento fosse comungado por boa parte dos festivaleiros.

Saquei três dos quatro álbuns do quarteto e vou aqui partilhar com a maralha o penúltimo: Light. Devo no entanto avisar-vos já que se querem apertar play nisto, deverão previamente deletar todo o preconceito, por mais residual que seja, alojado nos vossos nguimbos rijos, para permitirem que a vossa tela aceite cores que não existem na palette.

Permito-me colar aqui excertos da descrição usada no site do FMM para apresentá-los aos festivaleiros:
"As suas origens estão nas artes performativas (nasceram em 2004 no teatro Dakh de Kiev), mas buscam a sua essência no campo. Grande parte do seu repertório resulta de viagens às aldeias para gravar as canções tradicionais cantadas pelas avós que depois incorporam nas suas criações. O folclore ucraniano é a base, mas absorvem influências africanas, árabes, búlgaras, húngaras e também de rock, jazz e música clássica contemporânea."

Simplesmente soberbo!
01.Sukhiy Dub
02.Specially For You
03.Karpatskiy Rep
04.Zhaba
05.Tyolky
06.Kolyskova
07.Baby
08.Please Don't Cry
09.Buvayte Zdorovi

(ver ao menos até ao 2:09)

Catem o mambo aqui

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Hip Hop e a homofobia

Até onde me consigo lembrar e desde o momento em que me deixei seduzir por este estilo de música, os rappers sempre fizeram recurso à palavra "boiola" para insultar ou diminuir adversários/oponentes, o que criou uma atmosfera de homofobia no género, apesar de não ser nada tão violento como o reggae que praticamente advoga a "morte aos gays".

Era mais um "mijo territorial", a punchline fácil do que propriamente um ódio visceral aos homossexuais (ou bissexuais), ou pelo menos eu sempre o percebi assim. O facto é que, essa mensagem tornava absolutamente incompatível a assunção da opção (?) sexual do rapper sob pena de ostracismo, pelo que muitos eventualmente gays se juntavam ao coro para se manterem inseridos na matilha.

Lembro-me até de há uns anos atrás (fins dos 90, princípios dos 00) se ter instalado um grande "mito" à volta DO gay rapper, sendo que até artistas como Canibus fizeram alusão (It's Logic) nas suas letras e as especulações andaram em alta, chegando a citar-se o Erick Sermon como a cinderela a quem a carapuça servia, depois de um episódio em que o pobre coitado tentou suicidar-se.

Provavelmente haveria mais do que UM gay rapper, como provavelmente haverá hoje num universo de dezenas de milhar, mas só recentemente o tema da homossexualidade começou a ser abordado de maneira franca e aberta, por parte de artistas "high-profile", sobretudo depois do artista R&B Frank Ocean ter assumido a sua sexualidade. De repente todo o jornalista musical fazia questão de introduzir na sua lista de perguntas endereçadas à rappers "o que pensas sobre esse assunto?", o que tem certamente mão do lobby gay que se instalou e se enraizou um bocado por todas as estruturas de poder a nível mundial (não tenho nada contra, mas também não simpatizo com grupos de pressão e não acho que tenha de se fazer tanto alarido à volta de algo que se quer que se encare com naturalidade).

Dito isto, ouvi há umas semanas na Antena 3 uma música muito interessante à volta desta temática e não tendo conseguido captar o nome do artista tive de cavar um pouco com ajuda do google, tendo finalmente chegado lá através de uma notícia no hiphopsite que dava conta de uma versão feita pelo Joell Ortiz do tema Same Love do "gay-marriage apologyst Macklemore". Mesmo sem ouvir, soube imediatamente que era dessa música que se tratava e em dois cliques cheguei ao vídeo que agora partilho, com a letra em forma de legendas. Há uns tempos já aqui tinha colocado um post com um vídeo ainda mais interessante do rapper do colectivo Living Legends, Murs, para cujo link vos remeto aqui