sábado, 13 de agosto de 2011

Nozinja e o Shaangan Electro

Há algumas semanas fui assistir ao concerto de um grupo até então completamente desconhecido para mim e ao qual tinha sido introduzido uns dias antes: Shangaan Electro. A palavra Shaangan envia sinais ao meu cérebro que protagoniza automaticamente uma associação à China, evidentemente pela similitude fonética com a cidade chinesa de Shangai. Excepto que a primeira está numa latitude completamente inesperada: Limpopo, África do Sul e a sonoridade é realmente única, repetitiva sim, mas hiper-distinta. Ritmos acelaradíssimos acima dos 185 bpm, uma confusão de padrões de bateria digital que se sobrepõem parecendo martelos pneumáticos, sintetizadores muito xungas e uma permanente, adocicada marimba para contrastar com a agressividade rítmica dos outros elementos. Frequentemente complementados com cânticos tradicionais/religiosos/"gospélicos" sul-africanos, tornando exuberante o que seria, de outra forma, provavelmente intragável.

A apresentação ao vivo vale muito pela sua ingenuidade, um elemento que pode facilmente oscilar entre a falta de profissionalismo e a pureza do improviso momentâneo e que, no caso dos Shangaan, felizmente descambou para a segunda. Meteram as crianças no palco, depois os seus progenitores e até algumas avós. Foi muito giro mesmo. Boa energia, boa onda.

Claro que, naquele estilo africano peculiar, saíndo de trás do sampler para trás da bancada de mercadoria vendável, o Nozinja (produtor de todos os grupos do Shaangan), conseguiu vender cd's virgens, cd's sem títulos, cd's que não correspondem a capa, lá acertando de vez em quando no produto certo (o Vanghoma que aqui posto). Fanfarronice que não se consegue levar a mal, vê-se que não é maliciosa, mas por culpa disso, o disco que aqui vos coloco como sendo dos BBC, não creio sê-lo na verdade.

Matei-me a procurar na internet e só encontro as compilações editadas pela Honest Jon's do Damon Albarn, onde nenhuma das músicas dos BBC corresponde à músicas no disco que aqui vos posto. Na realidade, a primeira música do disco é de outro artista perfeitamente identificado, sendo aliás o tema ilustrativo da sonoridade shangaan que se encontra com mais facilidade no youtube, e o último sonoro é uma versão dub do mesmo tema. Para nos baralhar definitivamente a cabeça, o título da música "Nwa Gezani" é o título que aparece como título do álbum dos BBC como poderão conferir pela capa que tive o cuidado de scanear, mas ela é de autoria de Zinja Hlungwani como atesta o vídeo hilariante com fundos do windows 98 no final deste post.

B.B.C. (B.eautiful B.lack C.ulture) - Nwa Gezani

01.Zinja Hlungwani - Nwa Gezani
02.Título desconhecido
03.Título desconhecido
04.Título desconhecido
05.Título desconhecido
06.Título desconhecido
07.Título desconhecido
08.Título desconhecido
09.Título desconhecido
10.Título desconhecido
11.Título desconhecido
12.Zinja Hlungwani - Nwa Gezani Dub Version



Catem o mambo aqui



Tiyiselani Vomaseve- Vanghoma

01. Papa Vata Vuya Rini
02. Vanghoma
03. Xe Nasaniseka
04. Bombani
05. Wova Jaha
06. Votswelani
07. Mbilu Ya Nga
08. Vaswikota Ka
09. Voseveni Va Mina
10. Papa (Remixx)
11. Se Naxaniseka (Remix)
12. Bombani (Remixx)



Catem o mambo aqui




Versão alternativa e super bem conseguida por um youtuber que usou como suporte vídeo uma curta-metragem de 1927, dando-lhe como banda sonora o Nwa Gezani e conseguindo um magnífico video-clip


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Aline e César - A Minha Embala

Essa miúda está destinada a encantar ouvidos e a fazer bater corações. O progresso é notável da sua maquete para este novo projeto com o seu amigo César Herranz, tanto na segurança vocal, no dedilhar mais refinado da guitarra, como, agora, no recheio do ambiente com flauta e percussão do César. Felizmente, continua docemente longe da perfeição, mantendo um charme nas suas notas ao lado ou no descoordenar do arranjo musical.

Eu só me verguei à partir da faixa número 3, tendo as duas primeiras falhado em captar-me o coração, não por serem más, longe disso, mas soaram-me menos naturais e sentidas que as do Rascunhos e, para meu alívio, das que se lhes seguiram.

Maria Silêncio... o que dizer? Sublime! Um poema galego de Ricardo Carvalho Calero transformado em música, na promoção do universo da galeguia que muito tem inspirado a Aline. O Olhar Adiante eu já tinha gostado, mas no outro dia quando ela a tocou na Casa do Brasil acompanhada da irmã Raquel, arrepiei e emocionei-me, senti aquela penugem da nuca a eriçar-se, fiquei malaike mesmo, o som ficou lindo demais (Aline, grava só essa versão com a tua mana yá?). Agora ouvindo o som de novo sou remetido para esse concerto e para as intensas sensações que me provocou e consigo sentir emular fraccionalmente esse momento.

O poema de Alexandre Dáskalos "Que é S. Tomé", que foi também de onde a Aline tirou o nome para o projecto, foi musicado com uma simplicidade genial, deixando o espaço preponderante para a letra, com um dedilhar mais vigoroso da guitarra e uma flauta discreta mas essencial.

Também está muito fixe a colaboração com a voz masculina que vem acrescentar um tom novo na palette em "Kamba de Fala".

Os temas "Foz" e "Assinatura de Sal" são dois típicos temas ao estilo da Aline que cruzam as suas muitas influências, sentindo-se de forma algo vincada o romantismo da Bossa Nova: algo tristes, melancólicos e de refinado bom gosto, a anos-luz do comum perfume barato anselmo ralphista.

Aline, tens carta branca para continuares a hipnotizar-nos com essa voz de encantar serpentes, esse teu jeito dengoso e sorriso menino que te tornam tão especial.

01. Uma Pedra de Sal
02. Jeitos
03. Maria Silêncio
04. Olhar Adiante
05. Kamba de Fala
06. Que é S. Tomé
07. Assinatura de Sal



Visitem o site oficial do grupo aqui e vejam mais vídeos aqui

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